sábado, 27 de agosto de 2011

Quebrando Paradigmas


A Saga de um Ultramaratonista

            Esta matéria é sobre como os corredores de rua podem quebrar paradigmas e, acima de tudo, algumas barreiras e limites impostos tanto pela própria natureza humana, quanto geográfica. Aqui, contamos um pouco sobre a saga de um ultramaratonista que rompeu seus limites fazendo aquilo que mais gosta: correr em prol de uma causa.
            Provavelmente, muitos de nós já ouvimos histórias semelhantes sobre algum atleta que participou de uma corrida para levantar fundos para uma determinada situação. Geralmente, este tipo de atitude está associado a grandes provas estrangeiras, como as famosas Maratonas de Londres, Nova York, Chicago e Boston.
            Nestas provas, as organizações disponibilizam parte das inscrições para algumas instituições que as disponibilizam para os corredores que se dispuserem a arrecadar determinado volume de recursos. Aqueles que conseguirem, ganham a inscrição, independente de alcançarem, ou não, os índices exigidos.
            Curiosamente, são nos grandes centros de países ricos e desenvolvidos, onde a prática da caridade nas corridas de rua é mais freqüente, o que demonstra que ainda temos muito que aprender com os nossos companheiros do asfalto do lado de lá.       
            No Brasil, provavelmente por problemas culturais e fiscais, isto ainda não acontece. Grande parte das iniciativas ocorre de forma individual e isolada, isto é partem dos próprios corredores, como Carlos Dias, ultramaratonista cuja saga será destacada logo a seguir.  
            Aqui temos também os atletas que participam de corridas em defesa de uma causa ou de uma organização não governamental, mas não significa que eles estejam realizando caridade, propriamente dita. É o caso, por exemplo, de competições intituladas como “Corrida contra o Diabetes”, “Largue o Cigarro Correndo”, “Meia Maratona EM movimento – pela esclerose múltipla”, “Dia da Saúde”, “Correndo pela vida e contra o crack”, entre outras.
            Só para se ter uma idéia de como estamos atrasados neste aspecto, segundo a Revista Contra Relógio (novembro / 2010), correr pela caridade é um aspecto chave para a Maratona de Londres.  Desde 2007, a prova entrou para o Guinnes Book como o maior evento arrecadador anual no mundo. Em 2010 foram aproximadamente R$134,4 milhões.
            Vale ressaltar que algumas destas provas, os corredores comuns participam conquistando um tempo classificatório, isto é, o famoso “índice”. Já os corredores da caridade, não precisam comprovar o tempo classificatório, mas devem fechar a prova dentro do limite de até 6 horas.
            No Brasil, segundo a própria Contra Relógio (CR), as iniciativas mais ousadas partem de alguns corredores mais determinados e corajosos. Foi o que aconteceu com o ultramaratonista Carlos Dias, cuja história merece ser relatada. Desde que decidiu cruzar o Brasil, se passaram 325 dias longe de casa. Ele percorreu 18.250 quilômetros, o equivalente a quatro vezes o percurso total norte-sul do território
brasileiro.
            Sua chegada foi triunfante. Carlos finalizou sua jornada às 15 horas do dia 13 de agosto de 2011 na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo, onde aconteciam os eventos Brazil Sports Show. A chegada aconteceu sob emocionantes aplausos do público, que se emocionou ao ver o encontro do atleta com seu filho. Os dois não se viam há um ano. Dias cruzou a linha de chegada e, imediatamente, ajoelhou e abraçou a família.

  
            Dias decidiu realizar esta jornada por influência de uma visita que fez há três anos ao GRAAC - Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer. Segundo ele conta, quando visitou a instituição, ficou comovido com a história de cada uma delas. Daí ele teve a idéia de fazer essa parceria e doar todo o dinheiro arrecadado com a viagem.
            O atleta de 38 anos colocou a venda em seu blog cada quilômetro percorrido por dois reais, valor que vem sendo doado à instituição. Segundo o site do Brazil Sports Show, até o momento de sua chegada foram vendidos 2.480 quilômetros.
            Neste sentido gostaríamos de nos unir a ele e solicitar às pessoas que apóiem esta idéia, adquirindo o que puderem no seu blog http://www.carlosdiasultra.com.br/,  que também vale muito a pena ser visitado.
            Para quem gosta de números, na média, segundo o blog do próprio atleta, ele percorreu 56 quilômetros por dia, distância superior à de uma maratona. Da largada, que aconteceu no dia 24 de setembro de 2010, em São Paulo. Até o momento da chegada, Carlos passou por todos os Estados e o Distrito Federal.
            Dias cruzou mais de 2.500 cidades em seu trajeto, conhecendo diversos lugares e pessoas dos mais variados estilos, vivendo situações distintas e algumas aventuras. Abaixo algumas imagens desta jornada, realizada quando ele passou pela cidade de Uberaba-MG no Triângulo Mineiro.


           
            Ainda segundo o atleta, correr e andar, 18.250km, em 325 dias, não foi tarefa fácil, pois ele teve que juntar forças, além de contar com muitas pessoas que conheceu em cada pedaço do país. Seu ritmo médio foi de 5.5 km por hora, máximo 7 km por hora, corria mínimo de 8 horas e  o máximo que ficou na estrada foi 20 horas. Ao todo, Dias utilizou 70  pares de sandálias Crocs, 142 pares de meia, 5 mochilas, 2 óculos.
            Vejam um pouco dos detalhes jornada no vídeo “Chamada para a corrida contra o Câncer Infantil”:
            Que este relato sirva de inspiração e motivação para todos nós, corredores ou não, de que os limites e as barreiras estão aí para serem quebrados.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tênis de Corrida


Qual o melhor?
            Apesar de ser um corredor, eu não sou a melhor pessoa para falar sobre, como um tênis adequado ao corredor, pode ajudá-lo a evitar lesões, prolongar a sua vida de corredor e ainda melhorar o seu desempenho. Todavia, realizei algumas pesquisas sobre o assunto para ajudar-me e, gostaria de dividi-la com vocês, caso se interessem. Para mim, valeu a pena, pois aprendi bastante.
            A matéria está organizada da seguinte maneira: apresentamos um breve relato histórico sobre a evolução dos sapatos esportivos. Diferenciamos os tênis de perfomance dos tênis casuais e apresentamos dados sobre como os impostos no Brasil dificultam a vida dos atletas. Em seguida abordamos as tendências atuais de mercado, trazendo a opinião de treinadores e corredores, sobre os pontos positivos e negativos da nova onda dos modelos de tênis minimalistas. Em seguida, apresentamos os resultados de uma pesquisa que procurou entender qual a marca de tênis preferida entre os atletas. Oferecemos dicas sobre qual seria o modelo adequado, incluindo a importância do tipo de terreno para a escolha do tênis ideal. Posteriormente, apresentamos alguns links úteis relacionados ao assunto e, finalmente, abordamos uma questão fundamental: Quando aposentar o seu par tênis? Esperamos que a leitura seja útil e agradável.
            O mais antigo registro de competições de atletismo data de 776 a.C., mas é certo que os esportes organizados, incluindo provas de pista e campo foram praticados muitos séculos antes. Já nas primitivas civilizações, o homem cultivava o gosto de competir, medindo sua força, rapidez e habilidade.
            Os exercícios destinados a aprimorar ou a manter a saúde do corpo, decorriam da própria luta pela sobrevivência; obrigado a enfrentar de início, inúmeros obstáculos naturais e, mais tarde, o seu semelhante, o homem apurou seus instintos de correr, saltar e lançar.
      
            Na Antiguidade e durante toda a Idade Média e Moderna, os calçados serviam apenas para proteção. Competir sem sandálias, com tiras de couro, era sinal da força do competidor.  Força, com certeza foi o que não faltou para Fidípedes que, segundo a lenda, no ano de 490 a.C., na Grécia Antiga, foi o soldado designado para correr 40 km entre o Golfo de Maratona e a cidade de Atenas para anunciar a vitória do seu exército.
            Foi no século 19 que os sapatos esportivos começaram a tomar a forma que conhecemos hoje. De 1890, quando foi criada a primeira empresa especializada na fabricação de tênis, aos dias de hoje, eles foram se tornando cada vez mais leves, arejados, resistentes e “inteligentes”. O aumento da oferta e o surgimento de modelos tecnológicos atendem à crescente demanda de uma população cada vez mais exigentes para com os exercícios.
            Quando comecei a praticar a corrida, eu não tinha e nem utilizava um tênis apropriado. Hoje chego a dar algumas risadas só de me lembrar dos modelos em que me iniciei nesta prática. Na primeira fase, cheguei a procurar orientações com alguns companheiros do asfalto, que àquelas alturas também eram iniciantes e pouca ajuda podiam oferecer. Não sei como não me lesionei neste período.
            Todavia, nada mal para quem, na adolescência utilizava os modelos Kichute e Conga. Alguém ainda se lembra? Eram estes os modelos utilizados até pouco tempo atrás. Utilizáva-mos para ir para a escola, igreja, festas, jogar futebol, etc. Chego a me lembrar até do “chulé”.
             
             Quando comecei a correr, lembro-me de ter ido a uma grande rede de materiais esportivos em um importante Shopping Center de Goiânia para adquirir meu primeiro tênis para esta prática. Se fosse hoje, teria recusado o modelo oferecido pelo vendedor.
            É incrível observar que, salvo poucas exceções existentes em lojas muito especializadas, o nível de preparo e suporte oferecido ao corredor pelos atentendes de muitas lojas, inclusive de algumas grandes redes, é deprimente.
            Hoje, depois de testar vários modelos e marcas, entendo que um tênis adequado ao corredor pode ajudá-lo a evitar lesões, prolongar a sua vida de corredor e ainda contribuir para melhorar o seu desempenho.
            A corrida poderia ser um esporte barato de se praticar, mas para a grande maioria dos atletas que necessitam adquirir tênis especializados, não o é. Apesar da grande variedade de marcas e modelos, o mercado de tênis atual oferece aos corredores diferentes materiais e tecnologias, com preços que variam enormemente, o que muitas vezes, acabam confundindo ainda mais a cabeça, sejamos principiantes ou experientes.
            Segundo uma matéria publicada pela Revista Runner´s World (A Guerra dos Tênis) o motivo de alguns modelos de tênis serem tão caros no Brasil encontra-se no fato de que, desde setembro de 2009, o governo aplica uma sobretaxa de 12,47 dólares a cada par de calçado vindo da China. Esta sobretaxa é uma medida antidumping para proteger as indústrias brasileiras dos tênis importados daquele país. Aliás, os impostos no Brasil dificultam a vida não somente para os atletas, mas, de toda população que necessita adquirir produtos industrializados.
            Para entender esta questão, é necessário diferenciar os tênis de “uso casual” dos tênis de corrida, também chamados de alta perfomance. Uma parcela expressiva dos tênis fabricados e vendidos no mercado brasileiro são os do tipo “casual”. Já os modelos de alta performance só são produzidos em algumas fábricas na Ásia por questões tecnológicas e de escala. A produção de determinado modelo de ponta é concentrada em uma ou duas unidades no mundo para minimizar o custo de uma mercadoria cara por natureza.
            Assim, a medida antidumping desencadeou uma guerra entre a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) e empresas multinacionais e algumas nacionais, onde o maior prejudicado é o corredor, que fica refém de modelos ultrapassados destes tênis que ainda são comercializados no país por preços elevados.
            Para a Abicalçados, desde que a sobretaxa foi aplicada, as fabricantes brasileiras criaram 60000 novos postos de trabalho, sem contar as vagas geradas na cadeia produtiva que inclui curtumes, tecelagens e fábricas de maquinário e borracha. Todavia, a medida também não foi bem-vinda por outras empresas brasileiras de material esportivo, como a Cambuci (dona da Penalty) e a São Paulo Alpargatas (detentora das marcas Topper e Rainha e revendedora da Mizuno), que também importam mercadorias da Ásia.
            Esta mesma matéria da Revista Runner´s World aponta que a corrida de rua está entre os esportes que mais cresce atualmente. Os dados apontam que o número de praticantes aumenta de 15% a 20% ao ano. Entretanto, para um corredor assíduo que troca de tênis a cada três meses, a aquisição de equipamentos de ponta fica, cada vez mais, com o custo elevado, o que muitas vezes leva o atleta a adquirir os modelos mais recentes fora do Brasil.
            Neste mercado, que se encontra aquecido, é possível identificar as seguintes tendências de consumo:
·         Competição ou Perfomance: dispensam o amortecimento, estabilidade e durabilidade em favor de um peso menor, isto é, no máximo 280 gramas (utilizados pelos atletas de elite e de baixo peso para utilizarem em treinamentos de velocidades e provas).

·         Suporte Máximo: Para os corredores que buscam o máximo de estabilidade e suporte na parte média do tênis. Utilizados pelos corredores mais pesados e que necessitam de suporte e durabilidade.

·         Estabilidade: oferecem absorção de impactos reforçada no calcanhar e suporte no centro dos pés.


·         Amortecimento: oferecem absorção de impactos por toda a planta do pé.

·         Minimalistas: possuem como características o fato de serem facilmente dobrados e torcidos pela sua leveza. Eles simulam uma corrida com os pés descalços.
            Revistas especializadas em corrida, como a Runner´s, O2 e Contra-Relógio, oferecem anualmente “Guias de Tênis” com o objetivo de ajudar os seus leitores a tomarem as melhores decisões. Os consultores destes guias, geralmente levam em consideração o grau de amortecimento, flexibilidade e de resiliência oferecidos pelos diferentes modelos.
            Particularmente, já testei vários modelos e marcas: Asics, Mizuno, Nike, Adidas, Saucony, Brooks, etc. Lembro-me de ter experimentado em uma corrida noturna de 10 km, na cidade de Brasília-DF um tênis Saucony de Perfomance. Tenho aproximadamente 1,80 mts e peso cerca de 76 quilos. Sofri bastante. Fui muito bem até o Km 5. Daí para frente, a falta de amortecimento exigiu bastante de minhas articulações. Já para provas de 5 a 6 km, estes tênis de performance foram uma boa opção.
            A prática freqüente da corrida, independente do grau de estabilidade, amortecimento e flexibilidade, gera grande número de lesões em função dos movimentos repetitivos. De qualquer forma, a civilização perdeu o hábito de andar descalço. Também vale lembrar que é importante passar algum tempo sem o calçado, ou seja, é importante dar um alívio aos pés no final de cada dia.
            Já presenciei, em várias corridas de rua, muitos corredores descalços, independente do tamanho do percurso, isto é, sejam 5, 10, 21 ou 42 km. Em Maceió-AL, no fim de 2010, durante uma corrida na orla, me chamou a atenção a grande quantidade de pessoas, crianças e adultos, sobretudo da própria cidade que corriam descalças. Na Maratona do Rio de Janeiro 2011 também vi alguns atletas correndo descalços. O corredor descalço mais famoso do mundo foi o etíope Abebe Bikila.
            
             A tendência de consumo mais recente e que explodiu no mercado, foi o surgimento dos tênis minimalistas. Sua característica é exótica e, teoricamente, eles simulam uma corrida com os pés descalços. Estes tênis sugerem um movimento mais natural, proporciona maior força para os pés, maior flexibilidade e melhoram o equilíbrio, via propriocepção.
            Os defensores destes tênis, argumentam que o uso deles permite uma melhora do desempenho, reduz as chances de lesões, estimulam o tecido conjuntivo, tonificam o corpo e fortalecem o tônus muscular. Há muitos prós e contras com relação a esta tendência que, de nova, parece não ter nada.
            
             Os corredores que utilizam estes tênis, também conhecidos por “mínimos” costumam dizer que encontraram a solução de seus problemas. Todavia, o treinador Jeff Galloway, que possui mais de 50 anos de experiência em corrida, também fala do outro lado da história, como vários corredores que já foram lesionados, algumas vezes de forma severa, por utilizar este produto. Muitos tiveram que deixar de correr por problemas significativos por 4 a 6 meses.
            Para ele, trata-se de um “modismo”. Em sua experiência, ele já viu esta moda “ir e vir” cerca de 5 vezes. Um terço dos corredores que o utilizam os tênis mínimos, correm curtas distâncias. Sem o suporte necessário, a distância ou a superfície da corrida freqüentemente podem causar lesões, incluindo um grande número de fraturas por estresse.  A “moda”  termina quando os lesionados começam a contar aos outros a sua experiência negativa.
            Para o treinador, uma corrida com estes tênis mínimos tem o seu lugar, como nas distâncias curtas sobre uma superfície segura, que pode dar aos pés maior força e desenvolvê-los para um toque mais rápido. Infelizmente, invariavelmente, há muitos riscos envolvidos nas superfícies em uma corrida: cacos de vidros, pedras escondidas, inclusive sob a grama. Há ainda as irregularidades de piso, o que podem causar traumas severos.
            O que é irrefutável, é que a teoria de que, os tênis modernos, possuem décadas de pesquisas ortopédicas, desenvolvidas para demonstrar que determinadas tecnologias podem proteger os pés de grande parte dos problemas relacionados à superfície.
            Neste sentido, vale aqui ouvir um pouco da experiência de um grande corredor. Vanderlei Cordeiro de Lima (ex-atleta de elite e medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas 2004), em depoimento à revista O2, conta que, desde criança, nunca teve o hábito de correr descalço, mas, usava o que existia na época. Na década de 80 ele ganhou um tênis Nike de atletismo importado. Deste dia em diante, ele constatou que um bom tênis pode melhorar muito o rendimento do atleta. Da mesma forma, um tênis ruim, causando bolhas, dor ou irritação também pode prejudicá-lo. Neste depoimento, Vanderlei Cordeiro de Lima arrematou que “tênis bom ajuda”, porém, de nada adianta um tênis bom sem o devido treinamento.
            Durante os meses de abril e maio de 2011, o “Jornal Corrida” realizou uma pesquisa para saber qual a marca de tênis preferida entre os atletas. Foram entrevistadas 300 pessoas. Algumas foram abordadas na USP (Universidade de São Paulo), outras em provas realizadas na capital paulista e 50% delas responderam por meio de enquete nas mídias sociais. Apesar da pequena amostragem, é possível ter uma idéia das marcas mais utilizadas. Os resultados encontrados foram: Asics – 35%, Mizuno – 24%, Nike – 20%, Adidas – 8%, Saucony – 5% e Outras marcas – 8%. Entre as outras marcas estavam: Newton/Brooks/Puma/Reebok/Fila/ Olympikus/KSwiss/New Balance com 1% para cada uma delas.
            No meio de tantos modelos e marcas, qual seria mesmo o modelo ideal? Para responder a esta pergunta, devemos deixar claro que não existe um modelo universal ideal e, para realizar a melhor escolha, é importante fazer algumas considerações.
  • A primeira delas é conhecer os seus pés. Como eles são? Normal, plano ou cavo? Da mesma forma, também é importante conhecer qual o seu tipo de marcha, i.e, pisada. É neutra (alinhada), para dentro (hiperpronação) ou para fora (supinação)? Além dos métodos observacionais que um profissional da área pode lhe oferecer, hoje, conhecer o seu tipo de pisada, isto é, se é pronada, neutra ou supinada, ficou mais fácil, pois também há serviços disponíveis nas lojas especializadas, sites e revistas que podem auxiliá-lo na escolha do modelo correto.
  • Ouça opiniões (amigos, revistas especializadas, internet). Quanto mais você souber, menores serão as chances de errar.
  • Não se arrisque com marcas desconhecidas. Não vale a pena economizar na qualidade do material. Também, nem sempre o modelo mais caro é o melhor.
  • Cuidados com os vendedores, eles se aproveitam da falta de experiência de alguns corredores para oferecer produtos mais caros.
  • Os mais bonitos também não são os melhores. Por exemplo, considero os tênis da marca Asics muito bonitos, todavia, não me adaptei com os modelos Cumulus e Nimbus. Após testá-los verifiquei que com poucos quilômetros de corrida, eles esquentam bastante a planta de meus pés, deixando a corrida insuportável. Já vi colegas que ao escolherem um modelo inadequado adquiriram lesões que os deixaram por vários meses sem poder correr.
  • Teste o tênis. Não adianta só ter as melhores informações (revistas, internet, opiniões de terceiros...). É importante saber se ele é de fato confortável e, para isso, você deve testá-los. Assim, mesmo que compre pela internet, antes de adquirir o seu par de tênis, vá até uma loja e teste o modelo desejado. Eu mesmo já errei algumas vezes por não seguir esta orientação.
  • Olhe-o por dentro para descobrir possíveis defeitos de fabricação. Uma costura ou uma borracha podem prejudicar seu desempenho e ferir os seus pés. Não se arrisque. Não compre um tênis novo e vá testá-lo em uma maratona.
  • Pesquise os preços e até aproveite as promoções! Uma ótima forma de economizar, sem abrir mão da qualidade, é adquirir os tênis de modelos anteriores.
  • O melhor horário para testar um tênis é no fim do dia, ou após o treino, quando o pé está mais inchado.
  •  Como a corrida incha os pés, o indicado é sempre comprar um número maior do que o que você está acostumado, deixando pelo menos 1,5 cm de folga na ponta para evitar apertos.
  • Experimente um tênis novo com o tipo de meia que você normalmente corre
  • É aconselhável ter modelos de tênis diferentes para atender as suas necessidades de uso. Isto é, tenha um para o seu treinamento específico, outro para realizar os trotes, outro para usar durante as competições.
            
              Com relação ao ponto acima, o que justifica ter mais de um modelo de tênis é o fato de que, cada tipo de terreno tem um impacto diferente na corrida. Em matéria escrita para a Runner´s World, por Zanolla e Everett, sustentam que quando corremos, os pés chegam a suportar de duas a três vezes o peso do corpo a cada passada. Um dos fatores que podem diminuir ou aumentar esse impacto é a superfície do terreno. Quanto mais rígido for, maior o impacto. Maior também a velocidade, pois boa parte da força é devolvida aos pés, aumentando o impulso. O corpo vai ter de absorver essa energia e, por isso, é maior o risco de lesões em pontos mais vulneráveis, como as articulações.   Uma boa maneira de evitar ou piorar lesões preexistentes é correr com modelos de tênis apropriados para cada terreno e alternar o tipo de piso onde se corre.
            Por exemplo, o concreto é o mais rígido entre todos os pisos, é o que oferece mais impacto e, portanto, o menos indicado. Modelos de tênis com bom amortecimento, que ofereçam proteção contra o impacto e flexibilidade proporcionam maior conforto, já que o piso é muito rígido. Por ser um solo que desgasta muito o tênis, procure produtos de qualidade que tenham um solado resistente.
            Já o asfalto nos permite se acostumar com as condições que encontraremos no dia da corrida. Por ser bastante rígido, ele devolve o impulso da passada e você pode desenvolver boa velocidade. Pode ser usado em treinos de tiro e em longões. O tênis ideal precisa, conferir amortecimento e flexibilidade. Deve ser feito com um tecido respirável. A ventilação do pé é importante porque o asfalto, mais que qualquer outro piso, absorve muito calor.
            A terra batida é considerada por treinadores como o piso ideal para oferecer bom amortecimento. Todavia, não “segurar” tanto a passada. É favorável para se realizar treinos longos e de intensidade. Para este terreno, o calçado deve ter um solado com boas ranhuras, para garantir mais tração e diminuir a chance de escorregar. Quanto mais larga for a sola, maior estabilidade. O cadarço deve possibilitar um encaixe justo no pé e a entressola deve ser macia para absorver o impacto de uma pedra ou buraco. O tecido deve ser ventilado e possibilitar a saída de água (caso você passe por um trecho molhado), mas também proteger o pé de galhos. Se o piso for muito irregular, invista em um modelo específico para trilhas.
            Já a areia é instável e submetem os joelhos, tornozelos e quadril a um intenso movimento de torção. Como esse terreno exige força de músculos que costumam ser negligenciados, treinar na areia é uma boa opção para desenvolver a força. Também é o solo indicado para estimular a propriocepção (conscientização corporal). As corridas neste tipo de piso devem ser curtas. Para algumas pessoas, o uso dos tênis mínimos, que simulam os pés descalços, ou não usar nada é a melhor opção. Por ser mais macia, a areia não requer tanto amortecimento. Cuidado para não machucar ou queimar o pé. Para quem se sente inseguro em correr descalço, um tênis baixo e leve é o ideal. Se correr perto do mar, dê preferência a modelos com um bom sistema de saída de água.
            Nas pistas de corrida, o terreno é sintético e não traz surpresas, pois não há raízes nem meios-fios. Essa pista tem mais amortecimento que o asfalto, mas não é mole a ponto de provocar instabilidade. Boa para treinos de velocidade e útil para quem precisa marcar a quilometragem exata. O material da pista é feito especialmente para tracionar as travas das sapatilhas dos corredores de alto desempenho. Se não é o seu caso, e você usa a pista para treinos, não dispense o amortecimento e a estabilidade, especialmente se ela estiver desgastada.
            Na grama, a maior parte do impacto é absorvida pelo chão em vez de voltar para a perna. Por isso, ela é uma boa opção para quem quer gastar mais calorias e trabalhar a musculatura. Indicada para treinos intervalados ou fartleks (ritmos variados). Prefira modelos com ranhuras no solado e bom sistema de tração. Por ser um terreno mais macio, a grama não pede tanto amortecimento, mas o tênis deve oferecer boa estabilidade.
            Já a esteira oferece uma superfície amortecida, o que reduz o estresse nas costas, quadril, joelhos e pés. É um caminho livre de obstáculos e uma boa opção para quem tem pouco tempo e para quem quer controlar tempo de exercício, freqüência cardíaca e velocidade. Um modelo de tênis mais simples e que ofereça bom equilíbrio, amortecimento e estabilidade é uma boa opção.
            Com tantas dicas, é hora de colocar “os pés à obra”. O mercado dispõe de vários modelos de tênis, com diferentes tecnologias e preços. Com certeza haverá algum que se encaixará em seu perfil. 
            Infelizmente, salvo algumas poucas exceções, a maioria das lojas de materiais esportivos do Brasil não possui vendedores preparados para oferecer o melhor conselho para a sua compra. Uma conversa com o seu treinador, colegas mais experientes ou uma visita a um ortopedista, pode ajudá-lo a conhecer melhor o seu tipo de marcha, isto é, de “pisada”.
            Hoje, há alguns serviços online que mostram os cuidados, preços médios, onde encontrá-los e, até mesmo, como amarrar o seu tênis. Vale a pena pesquisar. A seguir estão algumas sugestões:
            Outro ponto também muito importante está em determinar qual é a durabilidade de um tênis. Tão importante quanto escolhê-lo é saber quando aposentá-lo. Uma causa comum de lesões é correr com tênis desgastados. Alguns sinais, como desgaste da sola, são bem claros. Entretanto, mesmo um tênis parecendo novo pode já ter perdido grande parte da capacidade de amortecimento.
            Segundo o grupo Copacabana Runners, há tênis com maior ou menor durabilidade, mas em geral recomenda-se substituí-los entre 560-880 km de uso. Se você está voltando de uma fratura por estresse, seria prudente aposentá-lo antes, isto é, entre 560 e 640 km. Corredores pesados também podem ter que trocar o tênis mais cedo.
            O ideal seria os corredores possuírem dois ou três pares de tênis para utilizá-los alternadamente. Um ponto importante está em saber se, ao "descansar" o tênis, ele teria mais tempo de recuperar a capacidade de amortecimento. Alguns especialistas afirmam que é preciso apenas seis horas para o calçado recuperar seu amortecimento, já outros sustentam que seriam necessárias 48 horas. Apesar da polêmica, há outras razões para revezar dois ou mais pares de tênis.
            Em um país de clima tropical, como o Brasil, os calçados tendem a ficar molhados depois de um treino em dia quente e úmido. Ao revezá-los, eles terão mais tempo para secar totalmente. Outro argumento é que, alternando tênis de características um pouco diferentes, você alterna o estresse que seu corpo sofre a cada treino.
            Também se deve atentar quanto ao uso do tênis no terreno para o qual foi projetado. Por exemplo, um tênis de trilha, não deveria ser utilizado no asfalto. Da mesma forma tênis que não são da categoria trilha, não duraria muito se fossem usados em terrenos acidentados.
            Para aqueles que gostariam de ouvir a opinião de um especialista no assunto, sugerimos acessar ao vídeo produzido pela Oxigênio TV no link abaixo. Nele, a Dra. Ana Lucia de Sá Pinto, fala sobre os principais aspectos que o corredor deve levar em consideração ao comprar um tênis para corrida.
            Esperamos que estas dicas tenham sido úteis. Nos vemos nas próximas corridas.





domingo, 7 de agosto de 2011

Corrida Série Delta Goiânia 07.08.2011 - Etapa Marrocos


A grata surpresa!


                Essa é uma daquelas corridas que merecem ser relatadas. Saí de casa para correr os 10 km da Série Delta – Etapa Marrocos em Goiânia. A largada ocorreu às 08 h já debaixo de um forte sol. Tudo estava normal, quando os corredores que optaram pelos 5 km se desviaram para outro percurso. Mantive-me no percurso destinado aos corredores dos 10 km. A partir deste momento, percebi que havia ficado praticamente sozinho.
                De fato, não conseguia ver mais ninguém. Por algum tempo fiquei preocupado. Era somente eu, sentindo minha freqüência cardíaca agitada e minha respiração ofegante. Errei o caminho? Não, isto não aconteceu, pois o percurso estava bem balizado. O que estaria acontecendo?
                Analisando depois, lembrei que a largada foi de fato tranqüila. Consegui realizar um leve aquecimento e me alongar conjuntamente com os Companheiros do Asfalto do Grupo Giramundo. Tímido, faltando ainda 7 min. para começar, alinhei-me para a largada juntamente com os outros corredores.
                Com uma largada na subida, percebi que os atletas mais rápidos preferiram não forçar. Acompanhei-os até o Km 2, quando grande parte dos corredores inscritos no desafio de 5 Km se desviaram para outro percurso.
                Achei tudo meio estranho. No Km 3 em diante, havia somente um jovem em minha frente, cerca de 500 a 600 mts. Passei pelo tapete de acompanhamento no Km 5 com um tempo de 20min37seg. Atrás, ainda consegui avistar o colega Hugo, que me cumprimentou.
                Mais uma forte subida. Era minha chance de ultrapassar aquele jovem. Pelos treinos realizados, sabia que tinha na subida uma grande chance de manter o ritmo e passá-lo. Consegui ultrapassá-lo e ainda manter o mesmo ritmo. Naquela altura, ainda não imaginava que só tinha um corredor na minha frente.
                O Km 6 coincidiu com uma forte descida. Aproveitei-a, forçando um pouco mais o ritmo. Sabia que havia uma forte subida logo em frente. Consegui manter um ritmo suportável para vencê-la, sob os gritos dos staffs da corrida de “Força!” “Força!”.
                De repente, em uma das esquinas, a cerca de 1 km de tudo aquilo terminar, ouço alguém sentado sobre uma motocicleta perguntar: - Você está nos 10?? Sim! Respondi. Eu estava nos 10. Então, ele pega o seu rádio comunicador e fala com alguém do outro lado.
                Mais alguns metros, outra pessoa em outra motocicleta falou em seu rádio: - Estou aqui com ele! Você está nos 10? Sim, estou nos 10, respondi! Ele acabou de passar! É o 441! 441! É o segundo lugar! É o segundo lugar!
                De repente, lá estava eu, sendo escoltado por um batedor que tentava a todo custo ordenar o trânsito. Passei por alguns corredores dos 5 km que estavam chegando em um ritmo mais lento. Forcei o ritmo na reta final, mais uma longa subida se aproximava, até terminar.
                De longe, escutei os auto-falantes anunciarem. “Aí Vem ele! O segundo lugar: Nilo Resende! Nilo Resende, o segundo lugar!” Não havia mais dúvidas, depois de muito tempo, ali estava eu: no lugar certo e, na hora certa, finalizando o Circuito de Corrida Série Delta – Etapa Marrocos Goiânia em segundo lugar!
                Ao cruzar a linha de chegada, senti uma grande alegria e forte vontade de compartilhar aquele sentimento com as pessoas que nos são mais caras, como os nossos filhos, os pais, a família, enfim, toda uma geração. É uma pena que nestes momentos importantes de nossa vida, nem sempre eles podem estar presentes.
                Senti-me recompensado pela presença contagiante de nossos companheiro(a)s do asfalto do Grupo Giramundo, que estavam lá, compartilhando comigo desta grande alegria. Hoje acredito que, mesmo correndo o mesmo percurso, cada corrida é uma história diferente. Vários fatores podem influenciá-la como o apoio da família (imprescindível), uma boa noite de sono, a alimentação no dia anterior, sua tranqüilidade e paz de espírito, o clima do dia, entre outros aspectos.

                Nesta corrida, acredito que vários fatores conspiraram a meu favor: a) realização de um treinamento sério; b) cuidados para uma alimentação mais saudável; c) humildade. A sorte também me ajudou bastante, pois, havia poucos corredores de elite e, destes poucos, a maioria optou por correr os 5 km e não os 10, como eu.
                Fechei esta prova com o tempo final de 41min52seg., muito longe do tempo alcançado pelos atletas de elite. Não é o meu melhor tempo nos 10 km, mas, estou treinando para baixá-lo. Nesta altura de nosso condicionamento físico, baixar 15 ou 30 seg. é uma tarefa muito difícil.


                Na primeira edição do Circuito Série Delta Goiânia, houve um erro no balizamento do percurso, talvez em função dos staffs não estarem preparados. Curiosamente fechei o cronômetro ao final dos 10 km com o tempo de 38min43seg, isto é, um tempo muito baixo para a minha realidade e condicionamento físico atual. Nesta segunda etapa deste circuito não houve falhas. O percurso, apesar de difícil em função de uma altimetria muito variada, além de conduzir o corredor por várias ruas, onde havia quebra de ritmos, estava muito bem balizado. Os staffs se fizeram presentes nos principais pontos de cruzamento. Os postos de hidratação estiveram muito bem distribuídos em todo o percurso. Parabéns aos organizadores!
                Delta significa objetivo, meta. Para os corredores significa o quanto eles querem baixar o tempo para uma determinada distância. Meu Delta atual é fazer 10 km em 40 minutos, objetivo este extremamente desafiador, mas por outro lado factível. Ainda não consegui, mas, vamos continuar persistindo, com muito treino, humildade e determinação.