terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Perda do Pai

          Companheiros, neste Sábado 26.11.2011, foi o dia em que enfrentei a corrida mais difícil de minha vida, até o presente momento: acompanhar o cumprimento final de uma longa jornada de 71 anos de vida de meu Pai.

Foto 1. Meu Pai e meu irmão Luis Renato

          Meu Pai, Lourival de Paula Resende, foi um homem simples, mas que deixou ao longo de sua vida um grande legado para seus filhos, amigos e familiares pois, mesmo nos momentos mais difíceis, soube viver com resignação e retidão.
          Sempre com bons exemplos e mansidão, ao longo de sua vida, construiu grandes amigos, os quais gostaria muito de agradecer pela presença e depoimentos espontâneos gerados durante as últimas homenagens, cuja descoberta me surpreenderam bastante, pela repercussão do significado que sua breve passagem por esta vida representou sobre a vida de tantas pessoas.
          Apesar de meu Pai estar em estado de convalescença, achei que estivesse preparado para uma separação que parecia eminente. Hoje sei que não estava. Apesar de morar distante dele, estive recentemente junto a ele em seu leito, mas senti-me privado de dizer tudo o que eu gostaria, por considerar que ele ainda conseguiria dar uma "volta por cima". Não consegui.
          Hoje, lendo um texto de Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político carioca que coincidentemente também faleceu aos 72 anos de idade, vi que, mesmo que tivesse essa chance, eu não conseguiria dizer tudo o que eu gostaria para meu Pai.
          Assim, gostaria de compartilhar esse texto com todos vocês, pois ele representa tudo o que sinto neste momento com relação a esta significativa perda.
           Na prática da corrida de rua, encontramos corredores que conseguem finalizar uma maratona com altos papos. Todavia, há histórias que não são contadas, nem mesmo durante um trote. É o que se costuma chamar de lendas pessoais, ou aquilo que confere à corrida algo muito maior do que uma simples atividade física. Essa lenda é a fonte de inspiração para nunca desistir.
          Para mim, esta lenda pessoal encontra-se na família, particularmente transfigurada na pessoa de meu pai que, acabou de completar a sua ultra-maratona de vida. Minhas últimas corridas, a Golden Four Asics e os 21 anos do TRT corri por ele e, a partir de agora, o tornarei minha força, minha inspiração e minha lenda pessoal.
 
Foto 2. Em busca da Lenda Pessoal
 
          Espero que os exemplos e retidão, tão bem executados nessa vida por meu pai, possa nos inspirar para sermos pessoas cada vez melhores. Que ao ler esse texo, vocês possam aproveitar cada momento que tiverem junto aos seus pais, um grande abraço!


A PERDA DO PAI

Artur da Távola


A perda do pai: quem sabe vivenciá-la? Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande, capaz de conseguir o universo, logo ele, o provedor, abridor de caminhos pelos quais começamos a passar medrosos?

A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto. E há que saltar. É o roubo feito no exato momento em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.

A perda do pai é a entrada no lugar-comum, é começar a ser igual a todos os que a sofrem, a ter os mesmos medos, as mesmas frases. É voltar a se emocionar com o que se desprezava: datas, pequenas lembranças, objetos, palavras e até com as manias dele que nos irritavam.

A perda do pai é o começo do balanço da própria vida, porque, enquanto vivia, era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas.

A perda do pai é o início da significação. As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido.

A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo: o que não fizemos, a visita deixada para depois, o gosto adiado, a advertência desdenhada, o convite abandonado sem resposta, o interesse desinteressado...tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo. Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente, dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto. Num segundo, entendemos tudo o que, durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios. Seus objetos ganham vida, suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas frases adquirem o sentido que só o tempo e a repetição outorgam às coisas.

A perda do pai dói muito! Isso é tudo. Para que querer saber por que? O pai é o eu no outro. É dois em um, santíssima dualidade a proclamar o mistério e a glória de existir, dívida que com ele temos, sem nunca conseguir pagar, o que o faz por isso mesmo, sempre, muito melhor do que nós...

domingo, 20 de novembro de 2011

Golden Four Asics - Brasília - 2011


Golden Four ASICS - Brasília - 2011
“A velocidade proporciona o único prazer genuinamente moderno”
Aldous Huxley, escritor inglês.

Introdução


            Apesar de conhecer muito pouco sobre sua vida e sua obra, não considero Aldous Huxley (1894-1963) como um exemplo de esportista a ser citado em uma revista de esporte.
            Provavelmente, ele não é um exemplo a ser seguido. Sua trajetória foi muito conturbada. Entretanto, sua obra foi catalisadora do desenvolvimento da condição humana e de suas potencialidades, tudo que um esportista almeja.
            Mesmo não sendo um exemplo a ser seguido, retirei a frase acima, cunhada por este escritor inglês, de uma edição da Revista O2, pois a considero pertinente com a prova patrocinada pela Asics que aqui relato, onde a velocidade, o menor tempo e, conseqüentemente o estabelecimento de recordes pessoais (potencialidades) é o pano de fundo.
            Nesta mesma revista, também encontrei uma matéria do Zé Lúcio, que aborda a prática da corrida, como um ato que representa a busca por um significado maior: um motivo para nunca desistir.
            Concordo com ele. Depois de correr, o que o corredor mais gosta de fazer é contar histórias sobre os melhores tempos, as piores lesões, o pace mais baixo, a montanha mais alta...
            Tem corredores que conseguem finalizar uma maratona com altos papos. Todavia, há histórias que não são contadas, nem mesmo durante um trote. É o que o Zé Lúcio chama de lendas pessoais, ou o que confere à corrida algo muito maior do que uma simples atividade física. Essa lenda é a fonte de inspiração para nunca desistir.
            Para mim, a lenda pessoal encontra-se na família, particularmente transfigurada na pessoa de meu pai que, nesse exato momento enfrenta a sua mais difícil maratona na vida. Apesar de eu já ter participado de maratonas e ter realizado vários treinos em situações adversas, a tão esperada Golden Four Asics de Brasília foi, sem dúvida alguma, a corrida mais difícil que já participei.
            Meu pai que já se encontrava em condições de saúde debilitada teve que passar por uma cirurgia delicada de última hora quatro dias antes dessa prova. Apesar de a cirurgia ter ido bem, no dia da prova ele ainda encontrava-se na UTI. São dias muito difíceis para ele, para mim e para a família.
            Mesmo com a gravidade de seu quadro, decidi ir para essa prova em Brasília e correr por ele, tornando-o minha força, minha inspiração e minha lenda pessoal.
Foto 1. Em busca da lenda pessoal

A Golden Four Asics (G4A)


            A Asics possui uma experiência de aproximadamente 45 anos patrocinando maratonas em todo o mundo. São provas muito bem organizadas e concorridas, pois, geralmente, o número de inscrições é limitado. É com base nessa experiência que essa marca idealizou para o Brasil o circuito da Golden Four Asics (G4A).
            A G4A é constituída por meias-maratonas puras, isto é, não há outras opções de distância. Os circuitos são muito bem selecionados, sendo predominantemente planos e desenhados para que os atletas desenvolvam sua melhor perfomance na marca dos 21 k. Uma de suas características principais é o fato de serem muito rápidos.
            Para alcançar esse objetivo, a Asics reservou datas especiais no calendário de corridas de quatro importantes cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Belo Horizonte (selecionar um percurso plano na “Terra das Alterosas”, não deve ter sido uma tarefa fácil), São Paulo e Brasília.
            Tendo em vista todas essas características, efetuei minha inscrição logo que as mesmas ficaram disponíveis. Não pensei nem duas vezes: essa seria uma das provas mais importantes de meu calendário. E assim o foi, para mim e, para alguns companheiros do asfalto também.
            A organização distribuiu R$10.000,00 em prêmios, do 1º ao 5º lugar nas categorias masculino e feminino, independentemente deles estarem inscritos nas categorias ELITE A, ELITE B ou GERAL.
            Os atletas amadores classificados do 1º ao 3º lugar na categoria geral masculino e feminino receberam troféus e um kit de produtos ASICS, independentemente da categoria que estivessem inscritos. Já os atletas ACD (portadores de necessidades especiais) receberam somente troféus.
            Também foram premiados com troféus os atletas classificados em 1º lugar masculino e feminino nas faixas etárias. Foi aqui que eu descobri que sou um Pré-Veterano, isto é, os atletas cuja faixa etária situam entre 45 a 49 anos.
            A organização ainda reservou uma premiação especial para os atletas amadores correspondente a uma viagem para Nova York ou Paris para o 1º atleta da imprensa, o 1º atleta de assessoria Asics e seu treinador e, para o 1º e 2º atleta amador.
            Cada atleta desembolsou R$95,00 pela inscrição. Por esse valor, a organização reservou um kit composto por camiseta ou regata de poliamida *leggerissimo Santaconstancia, uma viseira, uma sacola guarda volumes, um chip de cronometragem descartável e o número de peito. Ao término da corrida todos os atletas receberam uma medalha (com o símbolo da Asics) e uma toalha.
            Como a largada se deu em um lugar e, a chegada, em outro, a organização ainda disponibilizou para os atletas interessados um ônibus para traslado ao valor de R$15,00. Os interessados teriam que comprar o seu Bus Ticket antecipadamente na exposição da corrida.
            Toda essa premiação foi muito atraente. Todavia, outros fatores foram muito mais interessantes, como o fato da organização da G4A ainda oferecer uma prova certificada pela CBAt, com largada prevista para as 7 h, medalhas exclusivas para os top 100, partidas em blocos de ritmo diferenciados por perfomance, postos de hidratação (água e Gatorade) a cada 3 km e uma estrutura médica ao longo da corrida. Tudo isso sobre um percurso predominantemente plano.
            O que mais atiçou o desejo da maioria dos corredores, porém, foi a medalha especial para os top 100. Um objetivo factível para os mais dedicados atingirem. Essa medalha, banhada a ouro, foi oferecida para os 100 primeiros atletas que concluíssem a prova, ou seja, os mais rápidos.
            Pelo tamanho da cidade, Brasília costuma sediar corridas de rua simultaneamente. No dia 06.11.11, por exemplo, além da G4A, também foi realizada uma das mais importantes provas de rua do país. O Circuito de Corrida da Caixa Econômica Federal que, consegue reunir os principais atletas de elite do Brasil, além de ter como objetivo incentivar os corredores anônimos a melhorarem a saúde e qualidade de vida.
            Com tantos eventos importantes e muito bem organizados, reunimos no Grupo Giramundo, nosso grupo de corrida, 08 atletas dispostos a participarem desse momento. Para a Golden Four fomos eu, e os colegas, Rene, Edimilson, Antônia e Rosane, que faria o seu “debut” nos 21 km. Para o Circuito da Caixa foram Sandra, Judite e Shyrlene. 

Os 21 km Dourados de Brasília


            Abaixo, segue um resumo da G4A de Brasília:       
  • Largada do Memorial Juscelino Kubitscheck
  • Chegada na Concha Acústica de Brasília - Scen Trecho 1, 19.
  • Certificada pela CBAt
  • Postos de hidratação com água e isotônico a cada 3K
  • Premiação para atletas de elite
  • Medalha diferenciada para os 100 primeiros colocados
            Chegamos à Brasília no sábado a tarde e fomos direto para o Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, onde foram realizadas conferências e mesas-redondas e, onde também, pegamos os nossos kits de corrida.
            Tudo estava muito bem organizado, com exceção do serviço de customização das camisas, serviço oferecido pela equipe organizadora do evento, onde tivemos um grande aborrecimento, ao ter que ficar por mais de uma hora em uma fila, aguardando um serviço totalmente desorganizado.
            Lembrei-me do Mestrado em Administração de Empresas onde tive contato com os principais autores na área de Administração de Serviços: Zeithaml, Parasuraman, Bitner, Groonros, Berry. De nada adianta ter uma marca como a Asics por trás, garantindo uma qualidade técnica se, na hora de entregar um serviço, há falhas na qualidade funcional, isto é, na forma como você entrega determinado serviço para o cliente. Fato lamentável. Às 17h30min, eu e outros atletas, optamos por ir embora, sem os nomes impressos na camisa.
            À noite, reunimos o nosso grupo novamente para saborear um rodízio de pizzas. Para essa atividade, encontramos mais alguns companheiros do asfalto de Goiânia que também iriam participar da prova no dia seguinte: o casal de atletas Wagner e Sheyla e o ultramaratonista José Maria, que estava acompanhado de sua esposa.

O Dia Seguinte: A Grande Prova


            Com a largada prevista para as 07h da manhã, tomamos o nosso café bem cedo e nos dirigimos para a área de concentração. Brasília ainda adormecia quando os atletas começaram a chegar ao Memorial JK.
            A última edição da Golden Four Asics reuniu cerca de 2700 participantes e contou com a presença dos campeões pan-americanos Adriana Aparecida da Silva e Solonei Rocha da Silva, entre outros grandes atletas brasileiros.
            Cheguei com tempo suficiente para ver o nascer do sol e realizar um bom aquecimento. Enquanto aquecíamos, os atletas Solonei e Adriana, compartilhavam um pouco de suas experiências com os atletas. Como cheguei um pouco mais cedo, não vi os colegas de Goiânia, a não ser quando já estava em nossa baia de largada.

Foto 2. Memorial JK ao nascer do sol

Foto 3. Memorial JK ao amanhecer

Foto 4. Aquecimento

Foto 5. Tradicional alongamento

Foto 6. A Elite de corredores do Grupo Giramundo alinhados para a largada

            A largada para categorias ELITE A, ELITE B e GERAL, estava prevista para às 7h e, para a categoria ELITE A (feminino) às 6h50. Para os  ACD 6h45min. Todavia, houve um atraso de 15 minutos. A Elite A feminino somente largou às 07h e, os demais às 07h15min, o que nos fez perder parte do aquecimento realizado momentos antes. Curiosamente, não houve a participação de atletas ACD.
            Finalmente, estávamos próximos a iniciar a prova tão esperada. Com a previsão de um percurso com altimetria plana e o clima favorável naquela manhã de domingo, havia uma grande expectativa dos atletas para a quebra de recordes pessoais na marca dos 21 k.
            Se há quem diga que a maratona divide os homens dos garotos, a meia é a fronteira que separa os recreativos dos que amam realmente a corrida. Às 07h15min, lá fomos nós!

Foto 7. A grande largada com a elite masculina na frente

Foto 8. Largada com o pelotão geral

Foto 9. Corredores dirigem-se para os 7 km de descida com Memorial JK e Torre de Brasília ao fundo

            Os primeiros 07 km da prova foram marcados por uma forte descida, entremeada por alguns trechos planos. Observei vários atletas forçando bastante o ritmo da prova. Como eu havia estudado previamente o percurso, sabia que, apesar dele ser favorável, tinha lá seus mistérios.
            O treinador Marcelo Augusti ao escrever uma matéria sobre o treinamento em rampas orienta cautela em função de que os músculos posteriores da coxa são muito exigidos em sua extensibilidade e força, além do que os efeitos da frenagem provocam transferências negativas sobre a técnica da corrida, levando a um maior risco de lesões.              
            Já o treinador Heleno Fortes adverte que nas descidas acontecem as contrações excêntricas (fase de alongamento da contração muscular), geralmente responsáveis pelas dores e micro lesões musculares do dia seguinte.
            Assim, ele orienta que os atletas devem fazê-las de forma a não gerarem tanto impacto para a musculatura e articulações. Ele ensina que as descidas devem ser encaradas de forma mais lenta, aumentando a velocidade de corrida na medida em que a inclinação diminui.
            Por tudo isso, imaginei que se forçasse muito neste momento inicial da prova, talvez tivesse que pagar um alto preço lá na frente. Assim, procurei me segurar e não forçar muito. Afinal de contas, uma meia-maratona começa mesmo é a partir do km 10.
            A corrida estava perfeita. Apesar de me segurar, consegui fazer os primeiros 4 km abaixo de 4min/km, e dos kms 5 ao 10 consegui manter uma média de 4min10seg/km. Os postos de hidratação com gatorade e água estavam posicionados a cada 3 km de prova. Hidratei-me somente a partir do km 6.
            Em alguns postos de hidratação, havia uma placa posicionada a 100 m antes, informando sobre a chegada do posto. Em alguns deles, pude também observar a presença de um cronômetro digital informando aos corredores o ritmo de corrida naquele ponto.
            Mesmo com um ritmo forte na corrida, procurei apreciar um pouco da paisagem local e, acredito que assim também fizeram os demais corredores. Afinal de contas, não é todo o dia que temos a oportunidade correr ao lado de tantos monumentos, como os que estão localizados em nossa Capital Federal.

Foto 10. Corredores passam pela Torre de Brasília (Dá-lhe descida!!)

Foto 11. Corredores se aproximam da rodoviária com o Congresso Nacional ao fundo (Dá-lhe + descida!!)

Foto 12. Mais descida com Congresso Nacional ao fundo.

Foto 13. Rampa do Congresso Nacional


            Curiosamente, logo após a rampa de descida do Congresso Nacional, minha esposa conseguiu flagrar um repórter tentando fazer uma entrevista com uma corredora durante a corrida. Não sei se ele conseguiu, mas, entrevista assim, somente consegui ver no “papo de esteira”.
Foto 14. Vida difícil a de repórter!

            Conforme já era esperado, a prova de fato começou a partir do km 10, momento em que os corredores, já cansados, enfrentariam um percurso mais plano e, também, algumas subidas, como aquela que estava prevista para o km 16. Do km 11 aos 15, ainda consegui manter uma média de ritmo de 4min20seg/km. No km 16, tivemos que enfrentar a parte mais pesada da prova, isto é, uma forte subida e, o ritmo caiu para 4min45seg/km.
            Exatamente nesse ponto, pude notar que alguns dos corredores mais afoitos, aqueles que forçaram muito o ritmo no início da prova, começavam a pagar o preço por terem largado forte. Fui deixando-os para trás.
            Da mesma forma, fui sendo deixado para trás por alguns corredores mais bem preparados do que eu! Alguns, com uma faixa etária maior do que a minha, conseguiram me passar facilmente! A partir desse momento, pude perceber que, quando se trata de corrida, somos ainda uma criança e temos um grande potencial para ser desenvolvido nessa prática esportiva.
            Neste momento, lembrei-me de algo que li recentemente de que, a corrida é um dos poucos esportes onde alguém com 64 anos pode ter um desempenho melhor do que um atleta com 18 anos.
            Lembrei-me ainda do maratonista de turbante Fauja Singh, que começou a correr com a idade de 89 anos e hoje, com 100 anos de idade, é o maratonista mais velho do mundo. Lembrei-me também do maratonista canadense Ed Withlock que aos 80 anos, conseguiu fazer a Maratona de Toronto em 3h15min. Esse “velhinho”, ainda quando se encontrava na faixa etária de 70-74 anos, já era sub 3h. Isso reforça minha teoria de que: não há limites de idade para correr! Pode haver limites impostos pela saúde, mas, idade não!
            Voltando à corrida, constatamos que, em Brasília, há várias tribos de corredores de rua. Uma das que se destacam facilmente no meio da multidão, especialmente pelo excelente condicionamento e, pela forma de se vestirem, são os triatletas. Vimos facilmente vários deles participando desta edição da G4A, seja para melhorarem o tempo na marca dos 21 k ou, simplesmente, como uma atividade a mais de treinamento.
            Do Km 17 aos 21, pegamos mais uma seqüência de descida e plano e, consegui manter uma média de 4min30seg por km. Os metros finais foram muito emocionantes, pois passamos pela arena de chegada e, não pudemos entrar, pois, ainda tínhamos que fazer um pequeno contorno para, finalmente, adentrar ao funil de chegada.
            Neste momento da prova, coincidentemente vi uma grande amiga que mora em Brasília. Mais tarde fiquei sabendo que o seu marido também participava da prova e fazia o seu “debut” nos 21 km. Ele conseguiu registrar logo de cara um recorde pessoal de 1h35min57seg.
Foto 15. Com o colega Artur (01h35min - Arrebentou na sua estréia!) de Brasília

Foto 16. Fila para massagem

            Nos 500 metros finais, a organização do evento, posicionou placas a cada 100 metros informando aos corredores o quanto faltava para o término da prova. Este foi o grande momento, onde cada atleta, à seu modo, pode dar o seu sprint final nos 500 metros restantes. Foi o que eu fiz também.
            Mesmo com tantas dificuldades pessoais, consegui finalizar a prova com o excelente tempo de 01h29min (04h14min min/km), meu recorde pessoal nos 21 k. Por falar em recorde, ainda nos treinos para a G4A, em 02.11.2011, eu já havia alcançado minha melhor marca com o tempo de 01h36min21seg (04h34min min/km). 

Foto 17. Minha chegada (01h29min)

Foto 18. Comemoração

Foto 19. Não é top 100 mas, correu como se fosse!

            Como indícios de evolução, essa marca de 01h36min, alcançada durante o treinamento, já havia sido melhor do que os 21 km realizados durante a Maratona de Curitiba de 2010, e as Maratonas do Rio de Janeiro e de Buenos Aires deste ano, além das duas meias maratonas que participei em 2011: a de Brasília e a Meia Maratona EM Movimento em Goiânia.
            Tantos recordes pessoais assim se justificam, pois, esta prova de Brasília, apresentava números especiais em termos de baixa dificuldade no percurso. Veja por exemplo, como estava distribuída a quilometragem rodada: Distância no plano: 4,27 k, Distância subindo: 3,20 km e, Distância descendo: 13,67 km. 
Com base nos resultados divulgados no site da G4A, apresento abaixo uma consolidação dos melhores resultados alcançados nas duas modalidades (masculino e feminino) das quatro provas realizadas no Brasil em 2011 (RJ, SP, BH e DF).
1.      Masculino
LOCAL
ATLETA
TEMPO
Rio de Janeiro
Damião Ancelmo Souza
01:04:51
São Paulo
José Roberto P. Jesus
01:06:24
Belo Horizonte
Solonei Rocha Silva
01:06:39
Brasília
Paulo Sérgio Reis
01:05:17
Fonte: Golden Four ASICS em http://www.golden4asics.com.br em 06.11.2011

Foto 20. Chegada dos campeões G4A DF - 1o e 2o lugar (Esforço recompensado)
Foto 21 - 1o, 2o e 3o lugar - Esforço recompensado!!


2.      Feminino
LOCAL
ATLETA
TEMPO
Rio de Janeiro
Chemutai Rionotukei
01:16:22
São Paulo
Adriana Aparecida Silva
01:16:01
Belo Horizonte
Michele Cristina Chagas
01:18:30
Brasília
Jackline Chemwek
01:14:59
Fonte: Golden Four ASICS em http://www.golden4asics.com.br em 06.11.2011
           
            Principais conclusões:
·         04 percursos diferentes. Para fins de comparação, seria interessante houvesse um ranking final, mas, para isso, seria imprescindível a participação dos mesmos atletas de elites nas quatro edições, o que não foi possível. Por exemplo, se os atletas Solonei e Damião Ancelmo, tivessem participado da prova em Brasília, teriam feito tempos melhores? Ficará essa dúvida.
·         Comparando um atleta na faixa etária de 30-39 anos que participou das provas do RJ, BH e SP não houve diferenças em seu tempo final, demonstrando uma paridade no grau de dificuldade dos três percursos. Todavia, outro atleta na mesma faixa etária que participou das edições de São Paulo e Brasília, precisou de 3 minutos a mais para finalizar a prova de Brasília, oferecendo indícios de que em Brasília o grau de dificuldade do percurso foi maior, apesar de ter sido considerado como o mais favorável.
·         Houve predominância dos atletas de elite brasileiros. A presença de atletas quenianos de elite, tanto na modalidade masculina quanto feminina, verificou-se somente na prova de Brasília.
·         Apesar de cada percurso ser uma história diferente, a prova de Brasília, foi mais favorável para as mulheres alcançarem um tempo mais rápido. Para os atletas masculinos não houve diferenças significativas, apesar do percurso de São Paulo e de Brasília terem sido finalizados com um menor tempo.
·         O percurso de BH foi o mais difícil, para ambos os sexos. Também pudera, lá é a “Terra das Alterosas”. Achar um percurso plano por lá, não é uma tarefa fácil.
·         O percurso de Brasília foi extremamente favorável: foram 4,27 km no plano, 3,20 km subindo e 13,67 km descendo. Apesar de ter sido mais favorável, não significa que ele seja mais fácil. Este é o grande mistério. 
·         Apesar dos tempos alcançados nas quatro edições dessa prova fantástica, ainda estamos longe das melhores marcas para este percurso.

            Com relação a esse assunto, a Revista Contra Relógio apresentou recentemente uma matéria interessantíssima sobre a fisiologia do esporte, onde Fernando Beltrami falou sobre a importância dos treinos de velocidade.
            Com as atuais marcas alcançadas nas maratonas, Beltrami comenta que a velocidade é um fator chave para qualquer corredor de qualquer distância e ambições. Para ele, uma maratona hoje é corrida num ritmo de “dar inveja” a corredores profissionais de uma distância quatro vezes menor.
            Beltrami, cita ainda o exemplo de Marilson dos Santos, líder no ranking brasileiro de todos os tempos nos 5 e 10 km, sendo ele o único brasileiro que já correu uma meia maratona com menos de uma hora.
            Portanto, apesar das quatro edições da G4A terem sido desenhadas para se alcançar recordes pessoais, como corredores de qualquer distância ou ambições, isto é, sejamos elites ou amadores, ainda temos muito que melhorar.
            Neste ano, participei de duas meias: em 10/04/11 na 12a Meia Maratona Internacional CAIXA de Brasília, alcancei o tempo de 01h39min32seg. Em 04/09/2011, na Meia Maratona EM Movimento de Goiânia, consegui alcançar a marca de 01h30min21seg. Todavia na Meia Maratona EM Movimento, o percurso foi mal balizado e registrou-se apenas 20, 650 km. Uma projeção para os 21,1 km levaria o meu tempo nessa prova para 01h32min.
            Portanto, com o tempo de 01h29min40seg, alcançado na G4A de Brasília, consegui bater meu recorde pessoal na marca dos 21,1 km e, com este ritmo (4:14 min/km), consegui também bater meu recorde pessoal na marca dos 16 km, que havia sido alcançado durante a Meia Maratona EM Movimento.
            Dedico o sucesso de minha participação nessa prova e o alcance desse recorde pessoal ao meu Pai: minha força, minha inspiração e minha lenda pessoal. Ele não pode estar comigo nesse momento, mas, eu estava com ele o tempo todo e, tenho certeza que também estou em algum lugar de sua memória.
            Em resumo, a prova foi fantástica em todos os aspectos de organização para uma grande prova. Todos os atletas do Grupo Giramundo que participaram dessa edição da G4A, conseguiram registrar recordes pessoais na marca dos 21 k:
Rene Martins Miguel (40-49): 01h34min52seg
Edimilson S. Sampaio (40-49): 01h43min31seg
Antônia Barroso Oliveira (30-39): 01h38min57seg
Rosane Araújo de Oliveira (40-49): 02h04min03seg (debutou nesta marca)
            Parabéns aos atletas do Grupo Giramundo e demais atletas de Goiânia que aceitaram participar deste importante desafio.

Foto 22. Chegada do colega Rene M. Miguel

Foto 23. Chegada do colega Artur

Foto 24. Chegada do José Maria

Foto 25. Chegada do colega Edimilson

Foto 26. Chegada da colega Sheyla

Foto 27. Chegada do colega Wagner

Foto 28. Chegada da colega Rosane (Debut nos 21!)

Foto 29. Grupo Giramundo - Missão Cumprida!


            Já as atletas que participaram da prova do Circuito de Corridas da Caixa 2011, também tiveram excelentes participações:
Sandra Regina Prudêncio – 40-44 – 00h27min44seg (Pódio na faixa etária)
Judite A. Oliveira Viana – 50-54 – 00h28min30seg
Shyrlene M. Feitosa Sampaio – 45-49 – 00h30min50seg
            Com relação a AG4 de Brasília, ficam algumas considerações que poderiam ser repensadas para as próximas edições:
·         Se você não pode oferecer um serviço com eficiência, não ofereça. Falo isso em função da personalização das camisetas. Foi ridículo os atletas terem passado o que passaram durante horas em uma fila totalmente desorganizada para terem os seus nomes customizados na camiseta oficial da prova.
·         Outra crítica que se faz é com relação a taxa cobrada de R$15,00 para os atletas  que necessitarem se deslocar do local de chegada para o local de largada, uma vez que foram em locais bem distintos. Dois pontos a destacar com relação a esse assunto: não é possível que uma taxa de inscrição de R$95,00, cobrada dos corredores não paguem os ônibus, aliás, de péssima qualidade, colocados à disposição pela organização do evento. Pegaram os piores ônibus de Brasília. Para mim, essa taxa de R$15,00 poderia estar embutida nos R$95,00 pagos na inscrição. A situação foi tão cômica que, no final do evento, havia motoristas de ônibus cobrando apenas R$5,00 para efetuar esse transporte.
            Assim, apesar do sucesso dessa edição da Golden Four Asics de Brasília, algumas coisas ainda podem ser melhoradas.

Fontes:


1. Garmin Conect  em http://connect.garmin.com em 06.11.2011
2. Linha de Chegada em http://www.linhadechegada.com em 06.11.2011
3. Golden Four ASICS em http://www.golden4asics.com.br em 06.11.2011
4. Runner’s World em http://runnersworld.abril.com.br/materias/21k/ em 06.11.2011
7. McDougall, Christopher. Nascido para correr: a experiência de descobrir uma nova vida – São Paulo: Globo, 2010.
8. Revista Contra Relógio – Ano 18 No 208 – Janeiro de 2011
9. Revista Contra Relógio – Ano 19 No 213 – Junho de 2011.
10. Revista Contra Relógio – Ano 19 No 218 – Novembro de 2011
11. Revista O2 – Nr 102 – Outubro de 2011