A Jornada Vale mais que o Destino
“Que o vento sempre
esteja ao seu favor!”
Provérbio Irlandês
Uma
maratona é um dos grandes eventos do atletismo. Trata-se de um momento no qual atletas
de diferentes níveis de condicionamento, se predispõem a se superarem. Entretanto,
para estar na largada e, conseguir alcançar a linha de chegada, é necessário uma
longa e dedicada preparação. Maior que o esforço contínuo, aplicados dentro de
duas, três ou quatro horas necessários para se concluir a prova.
Bill Rodgers, quatro
vezes vencedor das Maratonas de Boston
e Nova York disse: “A maratona pode
humilhá-lo”. Ele não estava errado! De fato, a distância de 42.195 metros é mítica.
Como uma corrida de longa distância, a maratona, pode expô-la a ter que
reconhecer o seu verdadeiro “eu”, com todas as suas virtudes ou fraquezas. Essa
é a sua mística!
A Maratona CAIXA do Rio de Janeiro é uma das provas mais aguardadas
do calendário brasileiro de corridas de longa distância. O percurso é quase
todo plano, propício para a fixação de recordes pessoais, além de ser realizado
quase que totalmente a beira-mar, o que inspira e motiva todo o corredor, com
uma vista de “encher os olhos”. Aqui, se faz valer o ditado de que “a
jornada vale mais do que o destino”.
Imagem 1. Em 2012 uma maratona fria e silenciosa! |
A
prova, considerada pelos especialistas como uma das mais bonitas do mundo, é
realizada por entre os cartões postais mais famosos do Brasil, a cidade do Rio
de Janeiro, tendo como pano de fundo as praias de Copacabana, Leblon, Ipanema,
Baía da Guanabara, Aterro do Flamengo o “Pão de Açúcar”, o “Cristo Redentor”,
entre outros.
Para
abrilhantar ainda mais o evento, nas vésperas da corrida, a cidade do Rio havia
acabado de receber o título de “Paisagem Cultural Urbana” pela UNESCO. Tudo
isso contribuiu para aumentar sobremaneira o charme da cidade, tornando o
simples ato de correr ao longo de suas praias, um luxo ainda maior.
A
“maratona carioca” se destaca não somente por suas belezas cênicas, mas também
pela excelente organização, o que inclui a disponibilização de meios de
transporte para a largada, realizada bem cedo (07h30min) na Praia do Recreio;
alocação de postos de hidratação com distribuição de água e isotônicos em boa
quantidade e gelados; forte serviço de segurança com vários staffs ao longo do
percurso; dentre outros.
Imagem 2. Fomos lá conferir! |
Concomitantemente
à Maratona do Rio são realizadas outras duas provas: uma de 6 km, a Family Run e, uma meia maratona.
Destaca-se ainda a presença de um grupo de ultramaratonistas que todo o ano faz
uma dobradinha, percorrendo 84 km. Eles fazem o percurso duas vezes. Uma do Aterro
ao Pontal e, outra ao retornarem ao Aterro logo em seguida. Sobra disposição!
Segundo dados
disponibilizados pela organização, nesse ano, o evento bateu todos os recordes,
reunindo algo em torno de 21 mil corredores nas três distâncias, o maior número
de participantes de todos os tempos. Outro recorde batido, dado a uma ampla
divulgação no exterior, foi o de número de atletas estrangeiros inscritos.
Em
se tratando do número de atletas que conseguiram concluir a prova, a Maratona
do Rio já pode ser considerada como a maior do Brasil em 2012, com 2.901 corredores (2.355 homens e 546
mulheres). Em 2011 haviam sido 2.740 concluintes – um crescimento de 161
competidores. A Maratona de São Paulo contabilizou 2.342 concluintes, contra
1.248 em Porto Alegre.
A
prova ocorre em pleno inverno, de onde se espera sempre um clima agradável, mas,
no Rio de Janeiro, tudo pode acontecer! No ano passado, todos apostavam que iria
chover. Porém, o forte calor e a elevada temperatura, fizeram com que grande
parte dos atletas enfrentasse dificuldades para completar a prova. Em 2011, embalados
pela beleza cênica local, excelente organização, distribuição farta de água, isotônicos
e carboidrato gel, além da presença de animadores, bandas de música e o grande
público ao longo do percurso animando os atletas, foi possível driblar, satisfatoriamente,
as dificuldades do calor.
Em
2012 foi o contrário e, como vimos, foi uma prova muito diferente. Talvez, quem
participou pela primeira vez, possa ter se surpreendido. Entretanto, para quem
já esteve lá em outras edições, o que se viu foi a realização de uma prova fria
e silenciosa. A forte chuva daquela manhã de domingo pode ter sido a grande
responsável por isso.
Porém,
a Maratona do Rio continua sendo “maravilhosa” e uma das mais bonitas do mundo!
Assista esse vídeo de 5 min sobre nossa participação neste grande evento do atletismo!
A Chegada
Chegamos
ao Rio de Janeiro na sexta à tarde e fomos diretos para o MAM (Museu de Arte
Moderna) para retirar os nossos kits
de corrida. Assim como no ano passado,
tudo estava muito bem organizado, com atividades sendo realizadas nos stands dos diversos patrocinadores. Pegamos
os nossos kits, fizemos o “teste de
pisada” no stand da Olympikus, patrocinadora oficial do
evento e fomos para o Hotel.
Imagem 3. Eu e o companheiro Rene, durante a retirada do kit da corrida. |
Por
força do destino, do ponto de vista turístico, nesse ano ficamos muito bem
alojados na Praia de Copacabana. Entretanto, do ponto de vista prático, ficamos
longe do “Aterro”, ponto de chegada da maratona e, de onde partiriam os ônibus
que levariam os atletas para a largada. O último ônibus disponibilizado pela
organização sairia as 05h30min da manhã. Assim, antecipadamente sabíamos que a
nossa boa localização cobraria um preço razoável na manhã de domingo.
Nesse
ano formamos um grupo maior de atletas para participar das 03 distâncias (6 km,
21 e 42 km). Cada um fez toda a preparação possível para enfrentar os seus
desafios pessoais. A expectativa para o grande dia era muito grande.
No
sábado, nosso grupo se dividiu. Parte optou por fazer turismo. A outra, da qual
eu fazia parte, aproveitou a excelente localização para fazer um leve trote entre
as Praias de Copacabana e Leme. Foram seis quilômetros de trote. Relaxamos a
musculatura, aliviamos um pouco a tensão e deixamos os nossos corpos melhor
preparados para a corrida.
Imagem 4. Treino para relaxar a musculatura. |
Imagem 5. Parte do Grupo reunida. |
Imagem 6. Parte do grupo reunida. |
Imagem 7. Batendo pernas no Rio. |
Ainda
encontramos tempo para um banho de mar e “bater pernas” até a Praia de Ipanema.
Almoçamos na casa de amigos cariocas, com os quais passamos uma tarde
agradabilíssima. À tarde, o grupo se completou, com a chegada de outro
companheiro, que ainda arranjou tempo para fazer o seu trote regenerativo no
início da noite.
Saímos
para jantar, durante o qual traçamos as últimas estratégias. O assunto mais
comentado naquela noite foi o clima. Como estaria no dia da prova? A previsão
anunciava chuva. Chegamos a duvidar, pois tanto na sexta-feira, quanto no
sábado o sol foi intenso. Naquela noite, conseguimos avistar a lua e algumas
estrelas com facilidade. Preferimos acreditar que teríamos um clima agradável
na corrida e, preferencialmente, sem chuva.
Fomos
dormir cedo para termos disposição suficiente para enfrentar a nossa jornada
que começaria às 03h30min da manhã. Tudo cronometrado: meia-hora para nos
preparar, meia-hora para o café da manhã, meia-hora para pegarmos um taxi até o
Aterro, de onde pegaríamos um dos primeiros ônibus que nos levaria até o “Praia
do Recreio”, local de largada.
O Dia da Prova
O
Hotel nos serviu um café pequeno, isto é, com o mínimo necessário. Ainda assim,
foi um verdadeiro banquete para nós maratonistas, pois tínhamos tudo aquilo que
precisávamos. Naquela madrugada, enquanto tomávamos o nosso café, pudemos
avistar pela janela, os ultramaratonistas que, naquele momento, já passavam
pela Praia de Copacabana em direção ao Pontal.
Entretanto,
assim que colocarmos os pés para fora do Hotel, na tentativa de conseguirmos um
taxi, surgiu um convidado “inesperado”: a chuva. Ela nos acompanhou por quase
todo o nosso trajeto, do Hotel até o Aterro e, de lá, até o Pontal.
Corredor
é mesmo um ser atípico. Às 05h da manhã, lá estavam eles no Aterro. Uma cena insólita.
Atletas com os seus uniformes, naquela hora se misturavam aos bêbados,
prostitutas, travestis e andarilhos noturnos, que por lá ainda perambulavam.
Eram maratonistas e meio-maratonistas, que tentavam se organizar para entrar em
um dos diversos ônibus barulhentos e de carreira que foram colocados à
disposição.
Imagem 8. No ônibus, do "Aterro ao Pontal". Eu e os companheiros João Honório, Donizette e Rene. |
Infelizmente
a previsão do “tempo” estava correta. A chuva nos acompanhou do Aterro ao
Pontal, ora caindo levemente, ora caindo em fortes pancadas. A chuva, somada ao
ensurdecedor barulho do motor do “baú”, isto é, do ônibus, que fica praticamente
dentro do veículo, foi nos entorpecendo até chegarmos ao local da grande
largada.
Chegamos
cedo ao Pontal. Algo em torno das 6h da manhã. Descemos do ônibus e fomos direto
procurar abrigo em um dos quiosques locais, onde também já estavam outros corredores.
E dá-lhe chuva! Ainda fazendo os preparativos finais, outros atletas foram
chegando.
Imagem 9. Em um dos quiosques locais. Preparativos finais. |
Aproveitamos
para rever e fazer novos companheiros naquele local. Para essa maratona optei,
em comum acordo com os demais colegas, por correr levando comigo uma pequena
câmera fotográfica, mesmo sabendo que poderíamos correr debaixo de chuva. Fui
para o sacrifício. Um peso leve, um incômodo a mais, um minuto a menos. Não
importa. Os momentos registrados valem todo e qualquer sacrifício.
Esperamos
pacientemente pela hora da largada. Enquanto isso, mais e mais atletas
chegavam. O Rio não é a “Terra da Garoa”, mas, com o vento e a chuva fria que
caía naquela manhã, deixamos o aquecimento de lado. Afinal, são 42 km a serem
percorridos e poderíamos fazê-lo durante a corrida.
Faltando
30 minutos para o início, fizemos os preparativos finais e nos dirigimos para o
funil de largada. Cada vez mais, o cordão de atletas se avolumava. Debaixo da
garoa fria, o locutor tentava animar os corredores, que ainda se protegiam do
vento. Lembro-me quando ele anunciou a passagem dos ultramaratonistas que iriam
dobrar a distância dos 42 km.
Imagem 10. Eu e os companheiros Fernando e Rene, entremeados no funil de largada. |
A
edição de 2011 da maratona carioca foi bem diferente da de 2012. Tanto é que
voltamos para casa no ano passado e fizemos a maior propaganda para os
companheiros que queriam fazer a sua estréia na prova.
Em
2011 sobrou animação, inclusive durante o percurso. Nessa faltou! A chuva deixou
as coisas muito estranhas, mais silenciosas, por mais que o locutor tentasse
animar a galera. Infelizmente, essa sensação persistiu por toda a prova,
deixando a corrida como uma excelente oportunidade para a reflexão.
Dada
a largada, lá fomos nós atrás de nossos objetivos e “dá-lhe chuva”. Um grande
número de atletas se atrasou. Se foi culpa da chuva, não se sabe. A Maratona do
Rio tem a largada no sentido oposto ao da chegada. Mesmo após termos percorrido
cerca de quatro quilômetros da prova, ainda pudemos observar muitos atletas que
tentavam chegar ao local. Alguns nem sequer haviam deixado seus pertences no
guarda-volumes.
A Prova
A
largada se deu pontualmente às 7h30min do domingo (08/07), debaixo de muita
chuva. A temperatura agradável permitiu
que os corredores, tanto os da elite quanto os amadores, melhorassem o seu
rendimento e conseguisse quebrar os seus recordes pessoais, inclusive o da
prova, na categoria masculina e feminina.
Os
jornais esportivos na segunda-feira, pós prova, trouxeram várias manchetes,
destacando a influência do clima nos resultados, como a seguinte: “O tempo nublado e chuvoso, com a
temperatura por volta dos 18º C foi determinante para o bom desempenho dos
atletas e, conseqüentemente, a quebra de recordes da prova”.
Particularmente,
não vejo a chuva como uma aliada, ao contrário. Vejo-a mais como um desafio a
ser superado. Minha primeira e última grande prova que participei debaixo de
chuva foi a edição de 2011 da São Silvestre. Lembro-me que, apesar do novo
percurso ter sugerido uma prova mais rápida, a chuva surpreendeu e, impediu-me
de alcançar meu objetivo pessoal naquela ocasião.
No
Rio a situação não foi diferente. A chuva deixou grande parte do percurso
alagado, levando os atletas a terem que inundar os seus tênis e meias nas poças
d’água, ou terem que se desviar por caminhos adjacentes. Para mim, a chuva foi outro
desafio a ser superado, além de ter que completar os 42.195 metros da prova.
Imagem 11. Dá-lhe chuva - do início ao fim. |
Meu
tênis encharcou nas poças d’água e, fez com que minhas meias se enrugassem e
pressionassem a sola de meus pés. Praticamente tive que administrar um
sofrimento em boa parte do percurso, levando-me a desgastar o meu psicológico
muito antes de chegar à barreira dos 30 km. As bolhas surgiram sob a sola de
meus pés. Pensei naquele bordão utilizado durante os treinamentos de força: - “A dor é passageira. Desistir é para
sempre!”
Se
a chuva atrapalhou, por outro lado, posso assegurar que, em 2012, a temperatura
e o vento fizeram toda a diferença no meu desempenho e, provavelmente também no
de outros atletas. A edição de 2011 da maratona carioca foi bem diferente, o
que leva a confirmar que cada prova é especial.
Os
atletas naquela ocasião, ao contrário desse ano, enfrentaram elevada
temperatura, muito sol, vento contra em boa parte do percurso e, toda sorte de
efeitos que estas condições climáticas possam gerar.
Hoje,
lembro-me de por volta do quilômetro 11 ter encontrado um grupo de atletas que
estavam satisfeitos com as condições climáticas. Não tive a menor dúvida em
dizer para eles que, para mim, essa prova havia caído do céu. Sim. Literalmente.
Caiu do céu na forma da chuva, o que deixou o clima mais agradável e, também,
na forma de vento e diga-se: vento-a-favor. O “sopro Divino” literalmente nos
carregou em boa parte do percurso. Foi incrível a sensação de correr a favor do
vento. Foi como se estivéssemos sendo conduzidos.
Imagem 12. "Que o vento possa sempre estar ao seu favor!" |
Certa
vez li um provérbio Irlandês do qual gostei muito devido a sua relação direta
com a corrida e, sempre o utilizo na forma de citações. Ele é mais ou menos
assim: “que o vento possa sempre estar ao
seu favor”. Hoje sei como é mais favorável correr com o vento a favor e não
sofrer com as barreiras impostas pelo “vento contra”.
Apesar
da chuva, das poças d’água sobre o asfalto e das meias encharcadas, machucando-me a sola dos pés, a sensação de
correr a favor do vento tornou a corrida muito mais fácil e, porque não dizer, mais
prazerosa. Foi como se eu estivesse
sendo carregado.
É
normal durante a largada os atletas imprimirem um ritmo mais forte do que o
usual. Os atletas amadores também vão ao sabor das emoções, puxados por atletas
mais rápidos. Por volta do quilômetro cinco olhei o cronômetro e vi que estava
fazendo aquela passagem muito rápida. O ritmo estava mais para uma prova de 10
km, e não uma maratona. Pensei em reduzir, mas não consegui!
Mesmo
quanto atingi o quilômetro 10, ainda imprimindo um ritmo mais rápido do que o
planejado, o vento a favor permitiu que minha sensação de esforço estivesse
dentro daquilo que costumamos chamar de “confortável”. Pode parecer um grande
erro, afinal de contas ainda teria que enfrentar mais 32 km pela frente e,
poderia ter que pagar um alto preço por essa ousadia.
Entretanto,
seria um equívoco deixar de aproveitar o “empurrão” de Deus, na forma do vento
que nos levava adiante. Nesta altura da prova, cheguei a comentar com alguns
companheiros que estavam ao meu lado naquele momento: “De fato, essa prova caiu do céu! Se eu fosse um pouco mais leve, não
estaria correndo! Estaria voando!”. Essa foi a minha sensação durante quase
toda a prova.
Há
outra citação que diz: “Na maratona, os
primeiros 30 quilômetros se corre com os pés. Os outros 12, com a mente. Já, os
195 metros finais, com o coração.” Outra citação muito verdadeira, que li durante
a Maratona de Buenos Aires. Esse ditado é uma regra geral e, como tal, pode funcionar
de maneira diferente para a maioria dos atletas, dependendo de sua preparação e
de seu condicionamento.
Aproveito
esta citação, para falar um pouco de como foi o restante da prova. O percurso
da maratona do Rio vai muito bem até por volta do quilômetro 25, a partir do
qual os atletas enfrentam uma forte subida até por volta do quilômetro 28. É
logo após esse ponto que a corrida se redefine e os atletas reformulam suas
estratégias.
Passei
por essa subida ainda me sentido muito bem. Só percebi que o ritmo começou a
reduzir por volta do quilômetro 35, quando as pernas começaram a ficar um pouco
mais pesadas. Mesmo tomando os cuidados necessários em termos de hidratação,
suplementação e reposição hidroeletrolítica, foi a partir do quilômetro 40 que senti
a chegada de outro convidado indesejado: uma fisgada na coxa direita. Consegui
ajustar o ritmo de forma a não ter que parar. Ela me acompanhou desde então. Neste
ponto faltavam apenas dois quilômetros e os tais 195 metros para finalizar a
prova.
Dessa
experiência só algo a mais para dizer: para mim, a maratona carioca começou exatamente
a partir do quilômetro 28. Logo após a grande subida. Entretanto, da largada
até o quilômetro 35 consegui correr com as pernas, embora que empurrado pelo
vento. Do quilômetro 35 até o 40, corri com a mente. Já os 2.195 metros finais,
corri literalmente com o meu coração.
Mesmo
correndo com o coração, eu sabia que faltava pouco, muito pouco para concluir o
grande desafio! Mesmo com o ritmo um pouco diminuído, ainda consegui conquistar
algumas posições.
Estes
quilômetros finais demoraram a se completar. Nesta altura passei a acompanhar
melhor os números indicados pelo meu GPS. Curiosamente, vale aqui registrar que
até a metade da prova, os dados gerados por ele estavam batendo rigorosamente
com os quilômetros informados pela organização. Posteriormente, os números
ficaram descompassados e fui percebendo que estava correndo um pouco mais.
Não
sei o que pode ter acontecido. O fato é que os 195 metros finais custaram muito
a chegar. Lembro-me de ter emparelhado com outro corredor já no final da prova.
Ele me falou: “ - Acho que já estamos
chegando!” Olhei para o GPS, vi os números e lhe disse: “Só restam 200 metros! Depois daquela curva,
já avistaremos o portal de chegada. Aí é aprumar o corpo e correr para o abraço
e para a foto!”
Que
nada! Esses 200 metros custaram muito a chegar. Ainda tínhamos muito chão pela
frente, quando meu GPS acusou os 42.195 metros. Essa questão tem sido muito
debatida entre os especialistas em corrida do Brasil. Tem sido muito comum os
GPS não baterem com a quilometragem oficial da provas. Normalmente eles acusam
uma rodagem um pouco maior.
Em
uma maratona, por exemplo, seria de se esperar que o GPS marcasse de 100 a 200
metros a mais do que a medida oficial da maratona. Infelizmente meu GPS marcou
42.616 metros. Cerca de 400 metros de corrida a mais. Em 2011 aconteceu a mesma
coisa.
Infelizmente
está se tornando comum: mais uma prova onde os dados gerados pelo GPS não batem
com a marcação oficial do evento. Uma pena para uma das maratonas mais
importantes do Brasil. De qualquer forma isso não tirou o brilho da corrida e
nem reduziu a sensação de superação de mais um importante desafio.
Uma Maratona Fria e Silenciosa
Para
quem correu a Maratona do Rio pela primeira vez, a prova pode ter sido muito
bem avaliada. Entretanto, para nós que estivemos lá em 2011, a edição de 2012
foi muito diferente. A forte chuva que caiu pode ter sido uma das responsáveis
por isso.
Como
essa edição bateu todos os recordes, especialmente no número de atletas
inscritos, a decepção pode ter sido um pouco maior. Fico com pena dos atletas
estrangeiros que saíram de sua terra natal para tomar aquele “toró de água” no
Rio de Janeiro. Três ou quatro horas de uma ducha fria nas costas, não é nada
fácil. É como eu disse: além dos 42.195 metros, um desafio a mais: a chuva.
De
maneira geral a organização da prova foi excelente, desde a retirada dos kits até a disponibilização de meios de
transporte para a largada. Os atletas puderam contar com perfeita hidratação,
com distribuição de água e isotônicos, em boa quantidade e gelados. Nesse
quesito não faltou nada. Infelizmente, diferentemente de 2011 não houve
distribuição de carboidrato gel. Sorte minha de ter levado os meus. Quem contou
com eles pode ter ficado decepcionado.
A
chuva com certeza apagou muito da beleza cênica da maratona carioca. Desde a
largada, a minha sensação foi de total isolamento e, praticamente os atletas fizeram
uma corrida silenciosa, onde puderam exercitar bastante o autocontrole e a
força do pensamento. Como quase todo o trajeto é realizado a beira-mar, podia-se
de longe observar um mar batedor, onde poucos surfistas ousavam se arriscar.
Aproveitei estes momentos para pensar positivamente em todas as pessoas que me
ajudaram a chegar até ali.
Nessa
corrida isolada e silenciosa, a chuva não deixou sequer que as crianças que
costumam simplesmente a saudar os atletas ou a pedirem alguma coisa, como
bonés, camisetas, etc., se posicionassem ao longo do caminho. Nem elas vieram.
Da
mesma forma, o público em geral, tão aguardado e presente em outras edições, também
não compareceu. Ao adentrar em Ipanema e Copacabana, isso foi fortemente
sentido: cadê todo mundo? Eu havia falado para meus colegas que debutaram que eles
estariam lá! Onde estão os aplausos e os incentivos de “Força! Falta pouco!
Vamos lá!?
Nem
os amigos que se comprometeram a me esperar próximo ao Arpoador, não estavam
lá! Restou um grito seco no vazio, em meio a multidão. A foto abaixo, tirada
por uma amiga do hotel de onde estava, retrata um pouco desse vazio e solidão,
enquanto eu passei pela Praia de Copacabana.
Imagem 13. Eu, passando pela praia de Copacabana - Uma prova fria, isolada e silenciosa! |
Também
não houve bandas de músicas espalhadas ao longo do percurso, além das projeções
digitais dentro dos túneis. Aliás, a passagem pelos túneis deixou a prova mais
silenciosa ainda. Dentro deles, ouvíamos somente o rouco rugir dos carros e o
ritmo seco das passadas dos corredores.
A
Maratona CAIXA 2012 do Rio foi exatamente isso. Mas, valeu à pena! Sim, e como
valeu!
Considerações Finais
A
temperatura agradável foi determinante para que grande parte dos atletas
batesse suas marcas pessoais. Tanto no masculino, quanto no feminino houve
quebra de recordes na prova com o atleta queniano Willy Kimutai vencendo em
2:15:01 e Thabita Kibet em 2:34:41. Para
os vencedores foram distribuídos R$ 200 mil em prêmios.
De
forma geral estamos muito contentes, pois nos preparamos adequadamente e
conseguimos superar todos os desafios, inclusive driblando os elementos
surpresa da chuva e do vento.
Todos
nós conseguimos fechar a prova dentro de um tempo menor do que o planejado, o
que também levou-nos a superar as nossas marcas pessoais, o que demonstra que,
apesar dos desafios e dos elementos surpresa, a maratona do Rio continua sendo
“maravilhosa” e uma das provas mais rápidas do Brasil.
Imagem 14. Uma linda e merecida medalha de participação! |
Imagem 15. Superação dos objetivos pessoais. |
Que
os ventos possam estar sempre ao seu favor!
Fontes de apoio:
Revista Runner’s World – Edição
38 – Dezembro de 2011.
Revista Contra Relógio – Ano 18 –
No. 208 – Janeiro de 2011.