sábado, 29 de outubro de 2011

Circuito das Estações Adidas


Circuito das Estações Adidas

O Desafio dos 10 km

               
                O Circuito das Estações Adidas é uma prova realizada nas principais cidades do Brasil, como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Porto Alegre e Curitiba. Devido ao seu grande sucesso, excelência na organização e kits diferenciados, a corrida já popularizou nas cidades onde é realizada, sendo também muito aguardada.
                A prova é realizada nestas cidades em quatro etapas, de acordo com as estações do ano: outono, inverno, primavera e verão. Para este ano, a reprodução de algumas obras de pintores impressionistas renomados, como Monet, Degas, Renoir e Van Gogh, podem ser apreciadas pelos corredores sempre que acontece uma edição.

Fig.1 Reproduções de obras de pintores impressionistas

Fig. 2. Reproduções de obras de pintores impressionistas

                As quatro etapas deste circuito ao longo do ano apresentam como característica comum o fato de ser realizada sobre um mesmo percurso. Assim, o corredor possui a possibilidade de comparar o seu próprio desempenho, a cada edição, sendo uma grande oportunidade de  se auto-monitorarem.
                Para mim, esta edição do Circuito Adidas foi diferente, uma vez que, paralelamente à corrida, a empresa para qual eu trabalho, decidiu lançar um programa chamado Desafio 10 km, aos seus funcionários, para que eles pudessem descobrir e conhecer os prazeres e os benefícios da prática esportiva. Quem aderisse ao desafio, teria a sua inscrição subsidiada pela companhia e, pela primeira vez, participei de uma corrida patrocinado. Aceitei o desafio prontamente e, no dia e horário marcado, lá estava eu na linha de largada!

Etapa Primavera – Brasília 23.10.11


                Esse ano participei das três primeiras edições na cidade de Brasília – DF: outono, inverno e primavera. A escolha da Capital Federal foi em função de sua proximidade de Goiânia e também por ser o local onde temos familiares, o que facilita o deslocamento e logística a partir de Goiânia (200 km aproximadamente).
                Nesta última edição, em particular, realizei meu deslocamento para Brasília sozinho, sem nenhum de meus companheiros de corrida habituais, no sábado e tive tempo suficiente para cuidar do kit, além de poder passar um pouco do tempo com a família, com os quais tive o prazer de compartilhar um jantar de massas à noite. Assim fica fácil correr em Brasília, heim?
                Na véspera da corrida, havia chovido bastante e, na manhã deste domingo, a primavera candanga mais parecia com o inverno. A temperatura naquela manhã registrou 17ºC. Durante a corrida, a temperatura variou entre 17 a 20º C. Se, por um lado, a temperatura exigiu maiores cuidados com o aquecimento, por outro, também permitiu que os atletas fizessem uma boa prova. Assim, pelo menos ocorreu comigo.
                Um dos grandes diferenciais do Circuito das Estações Adidas está na organização. São impecáveis em todos os detalhes e cuidados com os corredores. Não é à toa que, as edições desse circuito em Brasília, chegam a reunir mais de 5.000 atletas nas duas modalidades de percurso, isto é, 5 e 10 km. Prova disso é minha esposa e filho. Sempre que podem, eles correm na modalidade de 5 km. Esse ano eles participaram somente da primeira etapa.
                Ainda observa-se que a organização é muito competente em tirar o sedentário da poltrona, haja vista que é comum nas edições deste circuito ver corredores com vários perfis, isto é, desde principiantes, dando suas primeiras passadas, até os mais experientes. PARABÉNS!

A Corrida


                A Etapa da Primavera do Circuito das Estações ocorreu no dia 23.10.11 e, como sempre, reuniu mais de 5.000 corredores nos dois percursos, e tem como cenário a ampla Avenida da Esplanada dos Ministérios e as belas edificações do arquiteto Oscar Niemayer construídos em nossa Capital Federal (Museu Nacional, Praça dos Três Poderes, Congresso Nacional, Catedral Metropolitana, Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Itamaraty, entre outros).

Fig. 3. Aspecto geral com Congresso Nacional ao fundo

                O dia nublado e a temperatura amena forneciam um indício de que seria possível realizar bons tempos. A largada sempre ocorre impreterivelmente às 08 h.

Figura 4. Largada comigo, de camiseta verde, no canto superior esquerdo.
                Este circuito na Esplanada dos Ministérios pode parecer fácil, mas não o é. Os quatro primeiros quilômetros são realizados em uma forte descida.  Entre os km 5 e Km 9, há uma forte subida, intercalada com pequenos trechos planos. Veja a seguir os detalhes gerados pelo GPS: Distância no plano: 1,67 km; subindo: 4,03 km; descendo: 4,03 km. 

                A chegada pode ser feita com grande estilo e permite ao corredor realizar o sprint final, pois são aproximadamente 700 m em descida plena. Portanto, apesar da exigência, o percurso é muito bom.
                Como já havia participado de outras edições, procurei descer forte e, assim o fiz até o km 4, onde consegui um pace de 3min41seg. Entre os km 4 e 5 realizamos um retorno, que fica às portas do Palácio da Alvorada (residência oficial do Presidente da República). A partir do km 5 consegui manter um pace variando entre 4min20seg a 4min30seg, o que me permitiu finalizar a prova com o tempo de 40min59seg e um ritmo médio de 4min06seg.
                Neste exato ponto do retorno do percurso, os atletas que já se encontram subindo, tem uma visão privilegiada do grande contingente de corredores que ainda estão realizando a descida. É nessa hora que entendemos o significado da grande centopéia gigante formada por milhares de atletas, que vão e que vem.
                Enquanto subia ofegante o quilômetro 5, fui surpreendido quando ouvi alguém gritar o meu nome. Procurei no grupo de corredores que realizavam a descida e lá encontrei dois colegas de empresa que residentes em Brasília e que participavam dessa prova e faziam parte do desafio dos 10 km. Fiquei feliz em vê-los e os cumprimentei. Tentei localizá-los no final da corrida, mas em vão. Não os encontrei mais no meio da multidão.

Fig. 5. Aproximadamente entre os km 7 e 8

                Os familiares que me acolhem em Brasília, me cobram em troca do suporte apenas uma coisa: Que eu apresente resultados! Sempre, quando saio pela manhã para participar de uma corrida por lá, escuto eles falarem: - Quero resultados, heim?
                Felizmente, para a Etapa Primavera deste circuito, os indícios de bons tempos se confirmaram. Pela primeira vez, consegui baixar para 40min o meu tempo nos 10 km. Os dados abaixo caracterizam a evolução nas três edições que participei. Fico feliz e, ao mesmo tempo, com a sensação de missão cumprida, quando consigo apresentar os resultados desejados.
  • Etapa Outono:     00:43:15
  • Etapa Inverno:     00:42:11
  • Etapa Primavera: 00:40:59
        
               Em resumo, o Circuito das Estações Adidas já virou um evento popular e muito aguardado entre os corredores do Centro-Oeste. O percurso muito bem demarcado e desafiador, além da excelência na organização, fazem desse circuito um dos mais aguardados do ano. O número de participantes que passa dos 5.000 não deixa margem de dúvidas disso.

Fig. 6. Preparação dos atletas no "Funil de largada"

                Além disso, trata-se de uma corrida para todas as pessoas: ex-sedentários até os atletas de elite. Apesar de não haver uma premiação em dinheiro, e somente troféus para os primeiros colocados na categoria geral (não há premiação na categoria de faixas etárias), este circuito, talvez devido a excelente organização, consegue reunir também atletas de elite. Os tempos alcançados nas provas de 5 e 10 km, na categoria geral tanto no masculino, quanto no feminino, não deixam a menor dúvida disso.
                A única observação que se faz está no congestionamento que geralmente ocorre a partir do km 7, quando os corredores mais rápidos dos 10 km encontram os corredores mais lentos dos 5 km. Este congestionamento dura até o final da corrida, o que dificulta o trabalho dos corredores dos 10 km que, a todo o momento, precisam se desviar destes corredores ou dos paredões formados por 3 corredores lentos ou mais, que se agrupam para conversar durante a prova. Este é um ponto que, sem dúvida alguma, pode e deveria ser revisado.

Fig. 7. Stand movimentado da Adidas

Fig. 8. Realização do teste de pisada no stand da Adidas

Fig. 9 Local de chegada e Área de dispersão

Fig. 10. Local de chegada e Área de dispersão

Fig. 11. Aspectos gerais com o Congresso Nacional ao fundo


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MARATONA DE BUENOS AIRES 2011


A VIAGEM


            O dia 09.10.11 marcou a nossa participação no circuito de maratonas, uma vez que se tratou de um evento internacional, realizado na Argentina. Todavia, a idéia desta empreitada surgiu ainda em 2010, quando nos preparávamos para a maratona de Curitiba 2010, para mim, minha primeira prova de maratona. Portanto, mesmo antes de ingressar no mundo das grandes provas, já almejávamos uma participação internacional, o que ocorreu agora em Buenos Aires 2011.
            Após meses de preparação e planejamento, o que também incluiu a participação na Maratona do Rio de Janeiro, realizada ainda no primeiro semestre de 2011, conseguimos fechar um grupo de quatro companheiros do asfalto, que além de mim, incluiu o Rene, Ricardo e Hugo.
            A nossa viagem iniciou-se em 07.10.11, o que incluiu uma longa e cansativa espera no aeroporto de Guarulhos, antes de embarcarmos definitivamente para a Argentina. Entretanto, esse tipo de contratempo é facilmente superado com uma boa companhia e planejamento. Para esta aventura de seis dias, me acompanharam minha esposa e o filho Thiago, os responsáveis pela documentação e registros fotográficos desta aventura.
            Viajamos com o objetivo de colocar em prática o conceito de “Maraturista”, isto é, a combinação de maratonista com turista. Para isso, foi providencial termos saído dois dias antes da corrida, pois tivemos tempo de descansar da viagem e das longas esperas, além de pegarmos os nossos kits de corrida com muito mais tranqüilidade.
            Chegamos a Buenos Aires no final da manhã da sexta-feira. Apesar do atraso no vôo, nossa chegada foi tranqüila. Como havia um transfer reservado para nós, não tivemos nenhuma dificuldade em chegar ao hotel.

A RETIRADA DOS KITS


            A retirada dos kits da corrida foi o “Centro Municipal de Exposiciones de la Ciudad de Buenos Aires”, muito próximo do hotel onde ficamos hospedados, para o qual fomos caminhando. Lá tivemos oportunidade de visitar várias empresas de materiais esportivos que montaram seus stands de vendas no Centro de Exposição. Também haviam stands de divulgação de maratonas importantes na América do Sul, como a de Quito (08.07.12), Rosário (24.06.12) e Rio de Janeiro (08.07.12).

Portal do Centro Municipal de Exposiciones


Retirada do kit de corrida
             Sem dúvida alguma, o stand da Adidas era o maior de todos. Lá, além de comercializarem tênis e produtos relacionados a corrida com preços especiais, realizavam-se também os famosos testes para identificar a pisada do corredor.
            Na retirada dos kits, os corredores também tinham que informar qual seria o ritmo de prova, pois a largada se daria por ondas de ritmo, onde os grupos poderiam largar no seu próprio ritmo e sem atropelos. Para quem quisesse, houve também a possibilidade de gravar o nome do corredor na camisa oficial da corrida, o que era feito ali na hora.
            Além de tudo isso, no sábado que antecedeu a prova, foi oferecido também, de forma gratuita para os corredores, um city tour para o reconhecimento do percurso. Não participamos desta atividade.
            No Centro de exposições, localizamos o nosso colega Ricardo e combinamos de nos encontrar em nosso hotel no dia da prova para irmos juntos de taxi para ao local da largada.

Encontro com o colega Ricardo

A CIDADE


            Buenos Aires não é propriamente o nome da cidade, mas sim do Estado maior onde se situa a “Capital Federal da Argentina” e que possui cerca de três milhões de habitantes.
            Segundo estimativas do governo, a Capital Federal recebe algo em torno de cinco milhões e 250 mil turistas por ano. A vida é agitada na metrópole argentina e, seja de dia ou de noite, há muito que fazer, como por exemplo, visitar seus vários pontos turísticos, realizar compras durante o dia, tomar um bom café ao final da tarde ou acompanhar um, dos diversos programas culturais. Há opções para todos os gostos e bolsos.
            A Capital Federal da Argentina se estende por um terreno “quase” plano de 202 km² de superfície. Coloquei ênfase no “quase plano” em função de que a Maratona de Buenos Aires é divulgada como tendo um percurso plano, todavia, na prática, após baixarmos os dados do GPS, verificamos que corremos aproximadamente 18 km em subida, sem grandes inclinações, é verdade. Assim, o melhor é considerá-lo como sendo “predominantemente plano” e ideal para os corredores que gostam de desenvolver a velocidade.
            Os rios Prata e Riachuelo são seus limites naturais, bem como a Avenida General Paz, que circunda de norte a oeste. O clima se mantém agradável em grande parte do ano e as estações seguem o mesmo calendário do Brasil. Assim, julho é o mês mais frio. Em nossa viagem, neste mês de outubro, tivemos um clima chuvoso e frio, com a temperatura média entre 8 a 18º C.
            Para quem mora no Centro-Oeste e treinou praticamente em uma região de clima quente e seco, a quase 35º C, o clima para essa prova foi um dos grandes desafios. Segundo a fisiologia do esporte, a baixa temperatura causa tantas dificuldades para a execução dos exercícios físicos quanto o clima quente. O gasto de energia aumenta durante o frio, ocorre dificuldade na respiração e o fluxo sanguíneo é direcionado para os órgãos centrais, tornando a corrida mais difícil.
Características da Prova de Buenos Aires
·         Temperatura fria e prova “predominantemente” plana. Ideal para recordes pessoais e para estreantes;
·         Muito bem organizada;
·         Possibilidade de unir o útil ao agradável, isto é, o “Maraturista”;
·         Largada por ondas de ritmo;
·         É um roteiro perfeito para os brasileiros, pois por lá se come e bebe-se muito bem – das carnes aos doces, vinhos e cervejas. Tudo relativamente barato e muito parecido com o que estamos acostumados.
·         Largada e chegada no mesmo ponto
·         Relação custo x benefício favorável;
      ·         Viagem relativamente curta e muito agradável.

RESUMO DA PROVA


Data: 9 de outubro de 2011
Distância:  42 ,195 km
Largada: 7h30
Número de Participantes: Aproximadamente 7.300 mil
Temperatura: 17,5ºC (média)
Umidade: 88% (média)
Ventos: 16 km/h (média)

            A Maratona de Buenos Aires é considerada como um evento de corrida “puro”, no qual há um único e exclusivo percurso, isto é, apenas os 42 km. Em outras maratonas há uma hibridização, onde se realiza simultaneamente corridas em percursos menores como 5, 10 ou 21 km. Na edição de 2011, alcançou-se o recorde de inscritos na prova, o que a tornou como o principal evento de 42 km na América Latina. Prova disso foi a presença de mais de dois mil atletas estrangeiros, entre eles muitos brasileiros. O total de atletas esse ano superou a casa dos 7.000.

O DIA DA PROVA


            Acordamos por volta das 05h da manhã. O hotel em que estávamos hospedados ofereceu um “café pequeno” aos corredores que lá estavam hospedados. O dia, conforme já era previsto, amanheceu frio e chuvoso. Por volta das 06h da manhã, nos dirigimos de taxi para o local da largada. Sugerimos uma rota de acesso ao local para o taxista, todavia, o motorista optou por fazer um caminho habitual. Como a principal via de acesso já estava bloqueada, houve certo atraso e confusão, o que gerou um princípio de estresse. Apesar do trânsito já estar interrompido pela região, não tivemos dificuldades. Felizmente, chegamos ao local com tempo suficiente para nos ambientarmos e ainda realizamos um breve aquecimento.

Trote de aquecimento
            Após meses de preparação, estávamos lá, na linha de largada. Havia chovido na madrugada de domingo. Muitas expectativas! Além da excelente organização, o percurso prometia um grau de dificuldade leve a moderado. A largada estava organizada por baias de ritmo. Havíamos optado por largar na baia amarela, isto é, aquela marcada para aqueles corredores que conseguiriam imprimir um ritmo de 4min30seg por km percorrido.
            Nos momentos que antecederam a largada, haviam muitas atividades paralelas. Bandas, canções festivas, etc. Tudo isso emociona, toca e estimula os corredores. Nesta edição de 2011, dentre os 7.000 participantes, estavam muitos corredores brasileiros, peruanos, chilenos, paraguaios, uruguaios, equatorianos e, também, muitos europeus.
Largada com quenianos à frente

Largada com o pelotão geral
            A largada ocorreu sem nenhum atropelo. Meu último longão deixou-me confiante de que poderia realizar uma boa corrida. Procurei imprimir um ritmo mais leve no início, em função de procurar sentir o comportamento da minha panturrilha, que estava se recuperando de uma lesão. Nosso colega Rene, imprimiu um ritmo mais forte e distanciou-se.
            Apesar da grandiosidade e da enorme dificuldade, a participação em uma maratona é uma grande festa! Durante a corrida é possível conversar, observar o ambiente e, até fazer amizades. Até o km 6 corri na companhia do colega Ricardo. Neste período, foi com muita alegria que tivemos a oportunidade de encontrar e conversar com o nosso companheiro e colega Hugo, que realizava a sua estréia em uma maratona em grande estilo, isto é, participando de uma prova internacional.
            A partir do km 6, já com o corpo melhor aquecido, percebi que podia forçar um pouco mais o ritmo e, assim o fiz.  Nesta fase de recuperação de posições na corrida, pude passar por vários corredores. No caminho encontrei novamente os colegas Rene e o Hugo. Corri na companhia do colega Hugo até por volta do km 25. Neste ínterim, tivemos a oportunidade de deixar o marcador de ritmo dos 4min30seg para trás.
            Aqui vale a pena fazer uma observação quanto a organização desta prova. A música é uma grande aliada pra manter em alta a motivação dos corredores numa maratona. Os organizadores da Maratona de Buenos Aires colocaram várias atrações artísticas no percurso, como bandas musicais, grupos de dança ( principalmente seu famoso tango). Assim, vários artistas com diferentes enfoques, se apresentavam a cada 5 km do percurso. A presença deles foi freqüente até entre os km 25 a 30. Nos últimos 15 km, os corredores contaram somente com o apoio do público presente.
            Apesar de, no Brasil, ainda serem poucas as provas que oferecem música no percurso, vale a pena registrar que tive a oportunidade de participar da Maratona de Curitiba 2010 e a Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro 2011 e, em todas as duas tinham atrações musicais. Com certeza é só uma questão de tempo pra moda pegar de vez por aqui.
            Não conheço outras maratonas pelo mundo afora, mas já acredito que a corrida de Buenos Aires figura-se entre uma das mais belas. Considerada como a Europa, dentro da América do Sul, a cidade possui uma bela arquitetura e está repleta de monumentos. O reconhecimento aos feitos dos antepassados do povo argentino é um dos grandes diferenciais desse lugar. Costuma-se dizer que a Argentina não é um país, mas, sim uma nação. O cenário, marcado por largas ruas e avenidas é estonteante e, quase nem percebi quando estava prestes a concluir a metade da maratona.
            Conforme mencionado anteriormente, a corrida inicia-se e finaliza no mesmo local. Nesse sentido, o percurso pode ser dividido em três fases bem distintas. A primeira incluiu um belo parque, situado próximo ao Estádio “Monumental de Nuñhez”, do River Plate; a segunda percorreu as largas avenidas que vai em direção ao centro, passando pelos bairros de Palermo e Recoleta de onde é possível admirar os vários monumentos e os prédios centenários, como a Avenida 9 de julho, onde está o obelisco, até a Casa Rosada e; a terceira, nos retirou do centro e nos levou até ao bairro de La Boca, uma região sul mais periférica, onde encontra-se o Estádio do Clube Atlético Boca Juniors e a região portuária. Este ponto é marcado por ser uma região considerada uma periferia.
            Aqui, já entre os km 17 e 18, eu e o colega Hugo e demais atletas tivemos a oportunidade de ver uma cena inusitada. Enquanto aquela centopéia gigante, formada pela horda de aproximadamente 7000 corredores passava um morador local, sem nenhum constrangimento acendia e dava grandes “baforadas” em um cigarro estranho. Esta situação remete a um grande paradoxo, em função de ser um exemplo tão contrário ao que praticamos!
            Posteriormente, de volta ao parque onde tudo começou, ainda passamos pela região do Puerto Madero, que foi recentemente restaurada e, onde se encontra os excelentes restaurantes da capital portenha.

FUERZA! FUERZA! A BARREIRA DOS 30


            Consegui manter um ritmo forte até o km 30, quando fui abalado por um terrível desconforto intestinal. Não entendi o que poderia ter ocorrido. Já estava em Buenos Aires por dois dias e tinha feito uma excelente ambientação. Procurei fazer minhas refeições da forma correta e seguindo as melhores orientações. Todavia, tudo o que eu pensava naquele momento era parar de correr e procurar resolver o meu problema.
            Para piorar a situação, o km 30 é normalmente o momento em que os corredores enfrentam o temido “muro”. Segundo o jornalista e ultramaratonista Rodolfo Lucena, este é o momento da prova em que as forças vão embora, a dor na musculatura toma conta do pensamento, os pés inchados formigam e a vontade de concluir fraqueja diante da sedução de descansar. Este é o ponto que a corrida deixa de ser simplesmente física e passa a ser também uma grande batalha psicológica. Foi exatamente neste ponto da prova que surgiu meu desconforto intestinal, que somado ao cansaço me fez reduzir o ritmo.
            A maratona é de fato uma prova emblemática e imprevisível, onde tudo pode acontecer. Por exemplo, neste mesmo dia em que acontecia a Maratona de Buenos Aires, ocorria também a Maratona de Chicago, onde o representante brasileiro Marilson que havia se preparado para quebrar o recorde também teve que desistir da prova após ter percorrido cerca de 33 km em função de um desconforto intestinal.
            Por outro lado, há ainda o caso do corredor Adriano Bastos, que chegou na edição da Maratona de Florianópolis 2011 como o grande favorito para mais uma conquista. O que o atleta não sabia, porém, é que o tricampeonato viria de forma tão inusitada. Com problemas estomacais, ele foi obrigado a parar três vezes durante a corrida para ir ao banheiro – nos quilômetros 13, 18 e 35. Apesar disso, cruzou a linha de chegada em 2h21min38s, quase um minuto à frente do segundo colocado.
            Como não sou nem Marilson, nem Adriano, mas meramente um corredor amador que utiliza a corrida como meio de obter uma melhor qualidade de vida, optei por não abandonar a prova e nem parar para ir ao banheiro. Toquei em frente, com o ritmo reduzido e procurando apaziguar a enorme batalha psicológica que era travada em meu cérebro naquele momento.
            Para piorar, ainda tive que validar a Lei de Murphy durante a corrida, quando aceitei dos staffs da corrida utilizar o carboidrato gel oferecido pela organização. Segundo a Lei de Murphy, se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. Ainda validando a Lei de Murphy, minha situação e, também dos demais corredores piorou em função de que a partir do km 30 não encontramos os postos de hidratação, conforme estava previsto, gerando maior dificuldade ainda pela sede em função da escassez de água, justamente no momento em que ela era mais necessária. Acredito que não é preciso dizer mais nada sobre esse assunto.
            A temperatura baixa e o vento contra foram outros fatores que também contribuíram para dificultar a corrida. O vento, além de exercer uma barreira para a manutenção do ritmo faz com que o corpo suado esfrie ainda mais, gerando uma percepção ainda maior do frio. 
            Apesar disso, até o km 30 foi tudo tranqüilo: havia bastante água, esponjas, distribuição de isotônicos (gatorade). Por sorte, foi justamente a partir desse ponto, que se aglomeraram um maior número de argentinos pelas ruas da cidade. Sempre muito amáveis, eles incentivavam os corredores gritando: Fuerza! Fuerza! Apesar disso, percebi que os torcedores chilenos e, como havia chilenos na maratona, eram muito mais animados: “Viva o Chile! Quem sabe a próxima maratona não seja em Santiago?”
            Nesta altura da corrida o “coelho” marcador de ritmo dos 4min30seg passou por mim como um imã, em volta do qual se aglutinavam alguns corredores, talvez uns 10, que tentavam manter o mesmo ritmo. Tentei acompanhá-lo, mas, não consegui. Deixei-o ir. Apesar da placa de 4min30seg, tive a impressão de que ele estava marcando um ritmo de 4min por km. Penso que ele estava mais rápido do que deveria.
            Durante a corrida, à medida que os quilômetros passavam, percebi que havia problemas com a marcação da prova, os dados não batiam com as informações geradas pelo meu GPS. Havia sempre uma divergência de aproximadamente 500 m, o que foi confirmado ao final da corrida. De acordo com as agências regulatórias, a marcação oficial de uma maratona deve ser de 42, 195 km. Todavia, em Buenos Aires os nossos marcadores registraram 42, 640 km.
            Em uma maratona, os quilômetros finais sempre são os mais difíceis. Há até um comentário que insinua que, na maratona o difícil não são os 42 km, mas, sim os 195 m finais. Acredite, é verdade!
            Percorremos os km 38 à 41 dentro de um lindo parque da cidade, por onde circulavam muitas pessoas que faziam o seu lazer naquela manhã de domingo. Apesar disso, o único contratempo que enfrentamos foi ter que pular ou subir nos incontáveis quebra-molas dispostos nas vias deste parque, o que me fez lembrar o Ricardo que um dia compartilhou conosco a informação de que um famoso corredor da elite de atletas brasileira teve que abandonar uma prova em função de uma lesão que ele sofreu após subir uma guia de calçada. Somente quem está neste nível de cansaço consegue perceber o tremendo esforço que se faz ao se quebrar um ritmo ou mudar um pouco a altura e a passada após 40 km de prova. Essa sensação de dificuldade somente foi quebrada porque sabíamos que o fim estava próximo!
            Muitos colegas que não estão familiarizados com o mundo da corrida me perguntam se ganhamos algum dinheiro participando destas corridas. O difícil é explicar que, ao contrário, além de não ganhar, fazemos é o contrário, isto é, gastar. Sem nenhum tipo de patrocínio, investimos o nosso dinheiro ao fazer a inscrição, ao programarmos uma viagem, etc. Todavia, esta é a hora em que aproveitamos para falar dos atletas de elite, dos corredores amadores e daqueles que buscam por uma melhor qualidade de vida. Este é o momento em que apresentarmos a eles os outros benefícios da corrida, além do ganho material.
            Em minha experiência de corredor já vivi muitas emoções ao completar provas de 5, 10 e 21 km. Todavia, nada se compara à emoção de se completar uma maratona. É uma sensação indescritível ver o público manifestando palavras de incentivo e esforço àqueles “guerreiros”. Quando se avista o pórtico de chegada, o corredor é tomado por uma sensação de êxtase, da qual reúne suas reservas de forças, com as quais consegue correr como se estivesse começando a prova. Portanto, apesar de investir certo montante de dinheiro para participar de um evento como esse, finalizá-lo e concluí-lo não têm preço! 

Medalha pós corrida
            Apesar de tanta dificuldade, com o tempo de 3h16min45seg consegui ficar na elite que corresponde aos 5% dos corredores mais rápidos da prova além de conquistar o 56º lugar entre os atletas brasileiros presentes, sendo ainda o 5º colocado na faixa etária também entre os brasileiros. Abaixo, encontra-se um resumo referente a minha participação nessa grande prova:
Distância: 42.64 km Tempo: 3h16min45seg Ritmo médio: 4:37 min/km Veloc. Média: 13.0 km/h Ganho de elevação: 205 m; Calorias: 7,088 C.
            Apesar da Maratona de Buenos Aires ser considerada como uma prova predominantemente plana, os atletas tiveram que fazer quase 18 km de subida. Veja um resumo dos dados: Distância no plano: 13,78 km - Distância subindo: 17,66 km - Distância descendo: 11,20 km. 

            Meu filho Thiago, conseguiu gravar um vídeo com a minha chegada, o qual compartilho com vocês abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=XgXS7kKXXJY

            A seguir, incluo dados relativos a prova e a minha posição de classificação:
·         Número de Participantes: 7.279
·         Número de concluintes: 5.620 (aproximadamente 1.659 abandonaram ou não compareceram)
·         Classificação Geral: 386
·         Classificação Sexo: 363
·         Classificação por Categoria: 39
·         Número de brasileiros: 3.936
·         Classificação entre os brasileiros: 56º
·         Classificação na faixa etária entre os brasileiros: 5º lugar

10 km
15 km
21,09 km
25 km
30 km
35 km
40 km
Líquido
00:45:58
01:08:19
01:36:05
01:53:38
02:17:03
02:40:23
03:06:36
03:16:45
04min35s
04min33s
04min33s
04min32s
04min34s
04min34s
04min39s
04min36s

Obs.: Os dados foram retirados do site oficial da Maratona de Buenos Aires (www.maratondebuenosaires.com).
            Com a trégua da chuva que atingiu a capital argentina durante toda semana, as temperaturas oscilaram entre 15ºC e 20ºC. Isso somado ao percurso plano e a boa organização, o dia se tornou propício para quebras de recordes pessoais e estréias na distância. Conforme pode ser visto abaixo, os nossos companheiros do asfalto Rene, Ricardo e Hugo tiveram uma participação excelente e também conquistaram recordes pessoais:
RENE M. MIGUEL:             03h22min42seg
RICARDO A. T. LIMA:       03h31min08seg
HUGO V. T. GOMES:          03h31min12seg
Chegada do colega Rene

Chegada do colega Ricardo

Os colegas Ricardo e Hugo na chegada
            O clima muito úmido (88% de UR) no dia da prova, em função dos Rios da Prata e o Riachuelo, além das chuvas nos dias anteriores, somado à temperatura que ficaram entre 15 e 20 °C, não atrapalharam o desempenho dos fundistas que participaram da competição.
            Como era esperada, a participação dos quenianos foi definitiva. Simon Kariuki Njoroge ficou em primeiro lugar (2h10min). Com este tempo, bateu-se o recorde da prova, que curiosamente, no ano passado só deu brasileiros no pódio com o atleta Adriano Bastos fechando a prova com 2h17min. Bem Chebet Kipruto na segunda colocação (2h12min) e, Abraham Kiprotich Tandoi em terceiro lugar, com 2h13min.
            Entre as mulheres, os primeiros lugares ficaram com atletas da América do Sul. As argentinas Andrea Graciano (2h46min34seg) e Karina Neipán (2h48min19seg) conquistaram, respectivamente, primeiro e segundo lugares no pódio. A terceira foi a paraguaia Carmen Martínez, com a marca de 2h49min08seg.
            Ao final da corrida, ficamos ainda na área de dispersão por mais algum tempo, na tentativa de nos encontrarmos novamente no meio de toda a multidão. Isso de fato aconteceu.
Encontro do grupo na área de dispersão

Encontro do grupo na área de dispersão
            Após termos nos encontrado, e vencido o desafio de concluir a maratona, mal sabíamos que o nosso maior desafio ainda estava por vir: encontrar um taxi desocupado para nos levar de volta ao hotel. Nesse momento da dispersão, vários corredores com os seus acompanhantes dependiam de um taxi para retornar aos seus lugares, o que causou um grande congestionamento. Aqui, vale um alerta para aqueles corredores que desejarem participar da edição desta maratona em 2012.
            Aí está uma prova que, sem dúvida alguma, nós faríamos tudo novamente.
            Nos dias subseqüentes à Maratona, eu e o colega Rene, tivemos ainda a oportunidade de realizar dois trotes regenerativos pela manhã na Capital Portenha, enquanto a maioria dos argentinos ainda dormia. Fizemos, em dias alternados, uma corrida de 10 km e outra de 15 km, por onde percorremos novamente as largas avenidas e os belos parques da cidade. 
Durante o trote regenerativo

Durante o trote regenerativo
            Aqui cabe mais um último registro. Apesar de toda a beleza, em nossas “andanças & corridas” pela cidade, observamos que os argentinos gostam muito de criar cachorros, e de grande porte. Por lá, existem os cuidadores de cães que são trabalhadores encarregados de levarem os “bichinhos” para passear. Entretanto, estes cuidadores chegam a levar até 10 cães durante o passeio. Como os pobres animais também precisam fazer suas necessidades, eles o fazem ali, na rua, ou pior, nas calçadas! Assim, ao correr, ou mesmo andar, pelos bosques e praças, tenhamos muito cuidado onde pisar. 

OS MARATURISTAS

A seguir estão algumas fotos dos maraturistas, enquanto não estão correndo:

 

No Estádio do CA Boca Juniors

No Caminito

Ainda no Caminito, degustando uma Quilmes

Durante o almoço

Durante o jantar

Fazendo um city-tour

FONTE:






Linha de Chegada em http://www.linhadechegada.com

LUCENA, Rodolfo. Maratonando: desafios e descobertas nos cinco continentes – Rio de Janeiro: Record, 2006.

Revista Contra Relógio - Ano 19 – No 214; Julho 2011

Revista Contra Relógio – Ano 18 – No 206; Novembro 2010