A Corrida e os seus Efeitos
Este é um tipo de relato que poderia muito bem ser iniciado de trás para frente, isto é, da premiação. Isto porque, diferentemente de outras provas que já participei, a 1ª Corrida de Prevenção do Câncer de Mama realizou a premiação por faixa etária quase uma semana depois da realização da mesma, que aconteceu em um domingo ensolarado de setembro, isto é, no dia 18.09.2011.
Esta inovação, gerada ou não por problemas na organização, foi ao mesmo tempo diferente e elogiada pelos atletas com direito ao pódio. Esta decisão, também, demonstrou uma grande responsabilidade por parte da agência organizadora.
Com base nesta situação e, passada quase que uma semana após a realização da corrida, comecei a me perguntar: - Quais os efeitos de uma prova de corrida de rua sobre uma dada comunidade?
Se pensarmos somente no curto prazo, seus efeitos terminariam no dia de hoje, isto é, em 24.09.2011, logo após a organização ter cumprido um dos itens descritos no regulamento: a premiação por faixa etária.
Todavia, seus reais efeitos vão muito além, haja vista que o objetivo principal desta prova foi o de convidar os atletas, regulares ou não, a correrem por uma causa, além de despertar na população a importância da Prevenção do Câncer de Mama. Os depoimentos disponíveis nas redes sociais sobre os efeitos desta corrida como, por exemplo, a superação de algum tipo de desafio, é emocionante.
Câncer de Mama: A Importância do Diagnóstico Precoce
O número de casos de morte por câncer de mama aumenta em todo o mundo, mas o quadro é alarmante nos países subdesenvolvidos, aonde as mulheres ainda novas chegam a morrer em decorrência desses tumores. Os dados integram um relatório internacional do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), publicado no periódico médico The Lancet.
De acordo com o relatório, o número de casos de câncer de mama mais que dobrou no mundo em três décadas, de 641.000 casos em 1980 para 1,6 milhões em 2010 – um aumento que ultrapassa as taxas do crescimento populacional. No mesmo período, as mortes de mulheres por câncer de mama passaram de 250.000 para 425.000 por ano – dessas, 68.000 tinham entre 15 e 49 anos e moravam em países pobres. Quando se observou um crescimento menor foi sugerido que os exames preventivos, mais comuns nos países desenvolvidos, como a mamografia, exercem um efeito altamente positivo.
Como forma de prevenção, os programas para a detecção precoce do câncer de mama estão em curso nos países ricos há muitas décadas. Diversos tipos de tratamentos para o câncer de mama também estão disponíveis para as mulheres dos países desenvolvidos.
Todavia, são elas ainda que têm um maior acesso aos tratamentos e vacinas atualmente utilizadas. De qualquer forma, hoje se reconhece que o câncer de mama é altamente curável, mas, para isso, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais.
Veja, clicando no link abaixo um vídeo com os idealizadores deste evento e, também o depoimento de sobreviventes do câncer de mama:
A Corrida, as Doenças Crônicas e o Câncer: O que tem a ver?
Agora, o que a corrida tem a ver com tudo isso? Além de ser uma ótima forma de “fazer marketing” e, portanto, muito barulho, a corrida faz parte de nosso imaginário coletivo e, desde os nossos ancestrais tem sido uma das formas de demonstrar superação que está relacionada com a nossa capacidade de correr.
Segundo uma recente publicação da British Medical Journal (BMJ) médicos do mundo todo deveriam prescrever a atividade física aos seus pacientes. Por prescrição entenda-se, inclusive, a descrição escrita e devidamente assinada e carimbada, assim como já é feito com os remédios.
Esta é uma estratégia que faz parte do Global Physical Activity Plan, lançado em 2010 pela OMS, especialmente porque as doenças crônicas (hipertensão, tabagismo, diabetes, sedentarismo e obesidade), estão no topo do ranking das causas de morbidade e mortalidade e o estilo de vida tem tudo a ver com o quadro. Embora seja o quarto item da lista, a inatividade física influencia diretamente os demais e, também, pode implicar diretamente a incidência de outras doenças, a exemplo do câncer.
Quase todas as principais causas de morte do mundo ocidental (doenças coronarianas, AVC, diabetes, depressão, hipertensão e, várias formas de câncer eram desconhecidas de nossos antepassados. Seria possível controlar e/ou reduzir estes males com um único remédio: a prática da atividade física, especialmente a corrida.
A Organização
A organização dessa 1ª Corrida de Prevenção do Câncer de Mama foi impecável, em todos os aspectos, desde a retirada dos kits até a finalização da mesma. Além da causa principal, a inscrição nesta corrida também envolveu a doação, por cada atleta inscrito, de 2 kg de alimentos não perecíveis. Eu, juntamente com alguns colegas de trabalho, retirei o kit, de excelente qualidade e bom gosto, tranquilamente na sexta-feira pela manhã.
É possível avaliar o impacto da organização de uma corrida de rua por meio do número de participantes e também pela adesão dos grupos de corrida e das academias. Essa corrida, vale registrar, foi um sucesso!
Foto de Fernanda Elisa: Pórtico de largada/chegada
Foto de Fernanda Elisa:Tendas de Academia e Grupos de Corrida
Foto de Sandra Regina: Tendas de Academia e Grupos de Corrida
Mais de 700 atletas inscritos para as modalidades de caminhada e corrida de 5 e 10 km, além disso, logo na chegada, já foi possível verificar a forte presença de várias academias e grupos de corrida, que montaram suas tendas próximas ao pórtico de largada/chegada.
A organização realizou várias atividades paralelas ao evento. No dia 17/09/2011, às 17 h, por exemplo, foram realizadas duas palestras dirigidas aos coordenadores de assessoria esportiva. Uma com Robson Caetano, um dos maiores nomes do atletismo brasileiro, além de ser comentarista esportivo, jornalista e profissional de educação física. A outra foi com Maurício Storelli, assessor de imprensa da Rede Record de São Paulo. Robson Caetano, foi escolhido para ser o padrinho desta prova.
Foto de Fernanda Elisa: O Atleta e Padrinho da Prova Robson Caetano
Outras ações paralelas envolveram a apresentação da “Madrastra”, bateria percussionista dos alunos de medicina da UFGo; um aulão de Yoga; exames de ultrassom 4D e pontos de recolhimento de doações de perucas e roupas para a APCAM (Associação dos Portadores de Câncer de Mama). Um ponto alto e também inovador do evento foi a execução do Hino Nacional Brasileiro “ao vivo” com violão e na voz da cantora goiana Maria Eugênia.
Fotos Sandra Regina: Salão com os stands e local de retirada do kit pós-prova
Foto de Fernanda Elisa: A "Madrastra" - Grupo de Percussão da Medicina UFGo
Veja clicando no link abaixo, um vídeo com alguns detalhes do clima da corrida, além de um depoimento do atleta Robson Caetano:
A Experiência da Corrida
Correr ou não correr: Eis a questão!
A corrida é mesmo um esporte que faz parte do imaginário coletivo, digo isso pelo fato de que foi muito bom chegar ao local da prova e, aos poucos, observar os atletas chegarem e se reunirem para “bater um bom papo” antes da largada. Assim, também pude rever e cumprimentar vários de nossos companheiros do asfalto, habituais ou não.
Esta é uma causa que, sem dúvida alguma, vale a pena correr, pois o câncer de mama pode afetar diretamente a mulher, mas, indiretamente, afeta toda a família, isto é, pais, irmãos, marido e filhos.
Tanto vale a pena correr que, fiz minha inscrição online e antecipadamente, não somente pela causa, mas principalmente pela qualidade dos eventos realizados pela equipe organizadora.
Apesar da importância desta corrida, pensei duas vezes antes de me dirigir para o local da largada. Daí o motivo deste subtítulo: Correr ou não: Eis a questão! A dúvida foi em função de que, uma semana atrás, talvez por ter forçado muito o ritmo em outra prova passada ou talvez, pelo excesso de treinamento, me vi com uma pequena lesão. O diagnóstico: uma contratura no gastrocnêmio direito, levou meu ortopedista a sugerir a interrupção da minha seqüência de treinos, além de realizar sessões de fisioterapia.
Como estava me sentido bem e, sem dores, me propus a fazer um teste durante a sessão de aquecimento. Assim, se sentisse dores ou percebesse que não teria condições de finalizar os 10 km, para os quais estava inscrito, estava disposto a abandonar a idéia de participar da prova. Animei-me, pois, aqueci e nada senti. Todavia, mais à frente, aprendi que a corrida cobra caro de quem erra na estratégia.
Foto de Fernanda Elisa: Aquecimento
A largada estava prevista para as 8h30min e foi dada logo após a execução do Hino Nacional. Aqui cabe uma observação: a largada neste horário expôs fortemente os atletas aos rigores do calor e da baixa umidade relativa do ar em Goiânia nesta época do ano, apesar da organização ter oferecido um excelente serviço no fornecimento de água nos postos de hidratação ao longo de todo o percurso e, também, no pós-evento.
Foto de Sandra Regina: Largada
Foto de Sandra Regina: Largada
Foto de Fernanda Elisa: Largada
O primeiro quilômetro já foi bem seletivo, pois, incluiu logo de início uma forte subida. Pelos dados gerados pelo GPS, a corrida foi mesmo toda seletiva. (Distância no plano: 2,21 km; subindo: 4,01 km; descendo: 3,71 km). Senti-me muito bem durante a primeira metade da prova. Ao longo do percurso pude ainda rever, cumprimentar e desejar uma boa corrida para alguns companheiros novamente.
Entretanto, na segunda metade da prova, a corrida veio me cobrar o seu preço. Comecei a sentir o músculo que estava lesado e tive que melhor administrar o meu ritmo. É nessa hora que a gente percebe que entre os atletas existe sim uma competição, porém, ela ocorre de uma forma sadia e ética. Digo isso em função de ter sido ultrapassado por um colega que corre num ritmo semelhante ao meu e que havia percebido a minha dificuldade. Ele só seguiu em frente após certificar-se que estava tudo bem e que eu havia reduzido o ritmo por estar lesionado.
Assim, apesar destas limitações: sol escaldante e a lesão incomodando, consegui fechar a prova com um tempo de 41min54seg. Um tempo muito bom para meu condicionamento atual e que, certamente, poderia ter sido melhor, se tudo estivesse bem.
Fotos de Fernanda Elisa: Chegada
Os resultados por faixa etária somente foram divulgados na segunda-feira (19.09.11). O meu tempo de prova me valeu o 3º lugar na faixa etária. Um prêmio excelente para o tamanho da ousadia.
Veja, clicando no link abaixo, um vídeo com uma reportagem sobre este evento:
Conforme informamos no início deste relato, a premiação para os ganhadores de cada categoria por faixa etária foi informada um a um, no decorrer da semana, contactados pela agência organizadora do evento e, convidados para participarem de uma Cerimônia de Premiação Especial que aconteceu no sábado seguinte na República da Saúde, local especializado em alimentação e nutrição para atletas.
Imagem: Carta Convite Especial
Aqui, novamente registra-se o compromisso e grande responsabilidade da organização, na forma do reconhecimento, que apesar de simples, no mundo da corrida foi inovadora, de alto nível e bastante elogiada por todos os atletas.
Chegando ao local da premiação, percebi que o “Chef” e proprietário, o Tony, é um grande amigo nosso, que foi um dos meus professores na PUC-GO no Curso de Administração. Tive a oportunidade de receber o troféu diretamente de suas mãos. Na República da Saúde (quem gosta de um local agradável e de alimentos naturais, é um bom local para se conhecer), os participantes foram recepcionados e puderam confraternizar-se com um delicioso café da manhã.
Foto de Fernanda Elisa: Delicioso café da manhã na República da Saúde com integrantes também premiados do Grupo de Corrida Girmundo
Foto de Fernanda Elisa: Integrantes premiados do Grupo de Corrida Giramundo
Fotos de Fernanda Elisa: Cerimônia de Premiação Especial na República da Saúde com o Chef Tony
Com toda certeza, este tipo de reconhecimento, exerceu um efeito muito maior do que se tivesse ocorrido no dia da prova, depois de um sol escaldante, às 11h30min da manhã daquele domingo, seria insuportável aguardar uma “maratona de premiações”.
PARABÉNS aos organizadores pela demonstração de carinho e responsabilidade para com os atletas, que segundo o ultramaratonista Rodolfo Lucena “são seres exóticos que se somam a milhares de outros, seja na frente, no miolo ou na “rabeira” com o objetivo de formar a longa lagarta que vai afinando e encolhendo conforme avança”.
São estes seres que povoam o nosso imaginário coletivo e alimentam as corridas neste Estado, no Brasil e, no resto do mundo.
Referências:
Globo notícias em http://g1.globo.com/videos/goias
Linha de Chegada em http://www.linhadechegada.com
LUCENA, Rodolfo. Maratonando: desafios e descobertas nos cinco continentes – Rio de Janeiro: Record, 2006.
Revista Veja em: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/casos-de-cancer-de-mama-e-cervical-crescem-em-paises-subdesenvolvidos
República da Saúde em: http://republicadasaude.com.br
Sports & Tracks Eventos Esportivos Diferenciados em: http://www.stracks.com.br