6ª Maratona Brasília de Revezamento
Correr nos ensina a
desafiarmo-nos. A ir além de onde jamais imaginamos que pudéssemos chegar. E
ajuda a descobrir do que somos feitos. É isso que somos. E é isso o que
importa.
PattiSue Plumer,
corredora olímpica norte-americana
Eleita
pela Revista Runner’s World como uma das melhores provas do Brasil, a Maratona Brasília
de Revezamento, já está em sua sexta edição. A prova conta com percurso oficial
para uma maratona (42, 195 km) devidamente aferidos pela CBAt, sendo realizada exclusivamente
na forma de revezamento e comemora, em grande estilo, o aniversário de
Brasília, que completa, nesse ano, 52 anos.
Foto 1. Correr nos ensina a desafiarmo-nos |
Foto 2. "Correr nos ajuda a descobrir do que somos feitos". |
Organizada
competentemente pelo Correio Brasiliense, consegue envolver e “mexer” desde os
amigos e familiares de todos os níveis, até os atletas de elite e amadores, os grupos de
academias e das assessorias esportivas da Capital Federal. A cada edição
registra-se aumento no número de participantes.
A
corrida, já fazia parte das comemorações do aniversário de Brasília, entre os
anos de 1991 e 1998, porém com competidores individuais. Em 2007 a prova
conseguiu reunir 4.026 participantes e passou a ter equipes com dois, quatro ou
oito atletas divididas nas categorias masculina, feminina e mista, além da
categoria adaptada se revezando em um percurso entre a Esplanada dos
Ministérios, L2 Norte, Setor de Embaixadas, Vila Planalto e Praça dos Três
Poderes.
Foto 3. "Correr, nos permite a ir além de onde jamais imaginávamos chegar." |
Inaugurada
em 21 de abril de 1960, Brasília é uma das mais belas e modernas cidades do
país, cuja história começou há muito tempo atrás, ao ser profetizada em Turim,
na Itália, pelo padre salesiano João Bosco. Diz a história que ele sonhou com
uma grande civilização que iria nascer entre os paralelos 15 e 20, exatamente
no local em que Brasília foi construída.
52
anos depois, ao nos deparamos com essa “grande civilização” nos perguntamos: na
verdade, o que temos para comemorar? Encravada no centro do Estado de Goiás, a
cidade vem atraindo a atenção de todos os brasileiros em função de reunir em um
só local, a elite da corrupção no setor público brasileiro, o que vem gerando
centenas de manifestações populares de quem não se conforma com o “status das coisas”.
Quem
esteve na Esplanada dos Ministérios nessa data pode ver um pouquinho de tudo
isso que escrevo. Essa edição da Maratona misturou-se com milhares de manifestantes
que, dignamente se reuniram na Esplanada dos Ministérios, lutando pelo direito coletivo
de não sermos mais enganados.
Entretanto,
como tudo na vida, sempre há exceções. Nesse sentido, até que temos algo a
comemorar, afinal de contas, Brasília, sendo um espelho de tudo o que é bom ou
ruim dentro de nós, é de todos os brasileiros! É uma cidade cosmopolita e que
sempre recebeu de braços abertos todos aqueles que por lá se aventuraram.
Revezamento: um grande desafio, onde correr é apenas um
detalhe!
Uma
prova de revezamento com mais de 5000 participantes requer uma organização de
alto nível. Nesse sentido, a estrutura montada pelo Correio Brasiliense para
essa edição é digna de nota. Tudo no seu devido lugar: uma grande arena de
largada/chegada, grande quantidade de staffs
para orientar e monitorar a segurança da prova, baias de diferentes categorias
para os atletas de cada equipe permanecerem enquanto aguardam a sua hora de
entrar na pista, duas zonas de transição muito bem delimitadas, postos de hidratação
a cada 3 km, guarda volumes, etc.
Foto 4. Estruturas montadas para a corrida. Nesta foto, nossa área de transição (2 atletas). |
Foto 5. Portal de chegada e largada mais ao fundo da imagem. Ao lado direito, áreas de transição. |
Foto 6. Minha passagem pela área da transição. Completando a primeira volta: - É Pedreira!!! |
Foto 7. Chegada de um atleta da Equipe do Cruzeiro |
Foto 8. Áreas de transição. |
Montar
uma equipe de revezamento requer muita habilidade e coordenação por parte de
treinadores e atletas, especialmente diante de um percurso tão exigente e
técnico como o dessa prova. Nessa prova,
por exemplo, a primeira etapa do percurso envolveu mais descida do que a última
etapa, que exigiu muito mais do corredor.
Assim,
o capitão ou coordenador de cada time, além de ter as habilidades de liderança
necessária, precisa também conhecer bastante seus atletas para poder alocá-los adequadamente
ao longo do circuito. Portanto, um grande desafio por si só, onde correr é
apenas um detalhe.
Foto 9. Momento de um revezamento. Necessidade de sincronização entre os atletas. |
Foto 10. Outro revezamento. |
Foto 11. Outra transição realizada sem perda de tempo. |
Foto 12. Tensão entre os atletas que aguardam seus pares. |
Foto 13. Momento de ansiedade dos atletas que aguardam pelo revezamento. |
Foto 14. Mais tensão. |
Nas
equipes com 8 atletas, cada um cumpriu obrigatoriamente meia volta do percurso,
onde 4 cumpriram a distância de 5.760m (1a etapa) e 4 a distância de 4.789 m
(2a etapa). Nas equipes com 4 atletas, cada um cumpriu uma volta completa do
percurso de 10.549m. Nas equipes com 2 atletas, cada um cumpriu duas voltas
completas e consecutivas no percurso, totalizando 21.098m, sendo obrigatória a
passagem pelo tapete da cronometragem eletrônica (leitura do chip) nas duas
voltas.
Imagem 1. Percurso oficial da prova com duas áreas de transição distintas ao longo do percurso. |
A
prova de revezamento requer também por parte da equipe de atletas, independente
da categoria, muita coordenação. É preciso conhecer o preparo e capacidade de cada
colega, estar atento na zona de transição para entrar na pista e fazer o
revezamento na hora certa. Infelizmente ainda é muito comum ver atletas
chegarem à zona de transição e perderem muito tempo, procurando o colega com o
qual fará a transição.
Com
tanto apelos assim, não poderíamos ficar de fora. Eu e o companheiro Ricardo,
optamos por participar dessa belíssima prova na categoria de dupla, cada qual
sendo responsável por percorrer uma “perna” de 21.098 m. Eu, retornando de uma
lesão. Ele, se preparando para correr uma maratona.
Além
de uma bela prova, muito bem organizada e com percurso certificado pela CBAt, a
distância atende a cada uma de nossas necessidades e, pode ainda ser
considerada como um treinamento de luxo.
As
provas na distância de 21 km, o percurso de uma meia maratona, são as que mais
crescem em número de participantes tanto no Brasil como no exterior. Conseguir
completar uma “meia” confirma que esta distância não é tão ingrata como uma
maratona, que exige do atleta uma preparação prévia e muito mais complexa. Pude
comprovar isso na prática, pois consegui finalizá-la mesmo sem treinar
adequadamente por dois meses.
A Prova
Geralmente,
as corridas de rua são realizadas aos domingos. Essa não! O dia 21 de abril de
2012 caiu no sábado. Assim, os atletas puderam sair um pouco da rotina e
correrem em um dia diferente. A velha desculpa do compromisso matinal aos
domingos não “colaram” para essa prova.
Foi
um dia bonito e ensolarado na Capital Federal. Muitas atrações e festividades
estavam programadas para a Esplanada dos Ministérios, palco da corrida e de
onde foi dada a largada. Quem esteve lá naquela manhã, pode ver no céu azul de
Brasília, mais de 15 balões sobrevoando a região. O dia prometia muita festa!
Nós participamos da melhor parte, fazendo aquilo que mais gostando: correndo!
Foto 15. 52 anos: Uma bela festa! |
Foto 16. Balões coloridos preparam para subir. |
A
prova em si pode ser considerada como uma “pedreira”. O percurso é muito
técnico e exigente, especialmente em um dia ensolarado como foi este! Para quem
corre, participar de uma corrida de revezamento na categoria solo ou em dupla
sobre um percurso longo como foi esse, é um grande desafio. Para ter um bom
desempenho, o atleta lida com o fator psicológico constantemente.
O
desafio mais significativo é a sensação de “dejavu”
e o desgaste de ter que repetir uma cena, especialmente numa situação que
envolve esforço, como o ato de correr. Ter que enfrentar aquela subida
novamente, ter de passar pela zona de transição entre os quilômetros 4 e 5, ter
de esperar pelo posto de hidratação que está no km 9, etc., são exemplos
típicos dessa corrida. Além disso, para quem está nessa situação, ainda tem-se
que lidar com o fato de corredores mais descansados e que acabaram de entrar na
pista, o superar a todo o momento, acentuando o desgaste. Portanto, participar
de uma corrida dessa natureza requer uma boa dose de equilíbrio.
Tive
sorte. Como capitão e primeiro atleta de nossa equipe, fui o primeiro a ir para
a pista e lá estava eu na linha de largada que se deu às 8h em ponto. Digo
sorte devido ao fato de que pude aproveitar um pouco mais o frescor da manhã.
Procurei correr com cuidado, tentando sentir meu corpo e as reações de minha
perna direita, que ainda se encontra em recuperação. Fui para prova tendo uma
idéia do percurso, mais não sabia dos desafios que nós iríamos enfrentar:
poucas descidas, subidas muito longas, muito sol, pouca sombra ao longo do
circuito, etc.
Imagem 2. Altimetria do percurso. |
A
maior “pedreira” quem pegou mesmo foi o companheiro Ricardo, que saiu para a
pista por volta das 9h40min. Se o sol e o calor judiaram de mim, imagina ele
que permaneceu no circuito até as 11hs aproximadamente. Foi uma prova que
exigiu muita força, resistência e preparo físico e mental.
Diante
tantas dificuldades, ficamos satisfeitos com os nossos resultados. Como uma
equipe, mantivemos uma boa média de, aproximadamente, 1h40min para concluir o
percurso. Foi um teste e que aumentou ainda mais a nossa experiência ao ter
participado da 6ª Maratona Brasília de Revezamento.
Foto 17. Ao lado do companheiro Ricardo. |
Foto 18. Prontos para novos desafios! |
Para
mim, completar mais esse desafio me proporcionou maior confiança para esquecer
um pouco a lesão e continuar seguindo em frente com corridas de média e longa
distância. Para o companheiro Ricardo, o certificou para enfrentar uma maratona
em breve.
Esse
é mais um mistério e um novo aprendizado. Correr nos ensina a desafiarmo-nos. A
ir além de onde jamais imaginamos que pudéssemos chegar. E ajuda a descobrir do
que somos feitos.
Fonte:
Revista Runner's World - Edição 38 - dezembro de 2011
Parabéns por terem participado nesta prova de excelente qualidade e organização. Com certeza correr uma prova de revezamento exige um pouco mais de dedicação e controle. Vocês foram muito bem. Vou me organizar para poder participar no próximo ano. Quem sabe formaremos uma equipe um pouco maior. Abraços.
ResponderExcluirRene, sua experiência conta muito numa prova com esse perfil. Seria muito bom tê-lo conosco. Podemos ter no próximo ano uma ou mais equipes competitivas para fazer bonito no "Planalto Central".
ExcluirA prova, sem nenhum defeito. Percurso balizado pela CBAt e muito bem organizada. Não foi a toa que a Runner's World (Ed 38 - dez 2011)a elegeu como uma das melhores provas do país.
Um grande abraço!
Nilo Resende