sexta-feira, 25 de maio de 2012

27º 10 km Tribuna FM - Unilus


A Corrida Perfeita


Ao contrário do que parece, correr não envolve apenas o que você fez em sua última prova, ou sobre quantos quilômetros você percorreu na última semana. Correr, em sua forma mais significante, significa ainda apreciar todo o percurso percorrido.
Richard O'Brien

            Há excelentes provas na distância de 10 km sendo realizadas em todo o Brasil. Entretanto, o que levaria 16.500 atletas até Santos-SP para participar de uma prova dessas? Fui lá conferir. Foi muito gratificante participar da 27ª edição dos 10 km Tribuna FM – Unilus, realizada neste último dia 20 de maio de 2012. Particularmente, esta foi uma das melhores, senão, a melhor prova que já participei. Considero-a como a “corrida perfeita” e vários fatores convergiram para isso. Veja alguns deles no vídeo abaixo:


            Os apelos para se correr 10 km são enormes. De acordo com dados da Runners World são mais de quatro milhões de corredores no Brasil e, para mantê-los motivados são realizadas mais de 600 competições por ano. Destas, 25% são provas de 10 km, realizadas predominantemente na região sudeste.
            Mesmo parecendo pouco, uma prova de 10 km exerce fascínio sobre os corredores, uma vez que a distância é a medida exata para se trabalhar dentro dos limites de velocidade e resistência. Trata-se de uma quilometragem, cujo treinamento não sobrecarrega a rotina, entretanto, sua preparação requer planejamento. Sendo uma ótima combinação de velocidade e resistência, essa distância ajuda a perder peso e adquirir um bom condicionamento físico.
            Os 10 km da Tribuna FM – Unilus é uma das provas mais importantes do país. Sua primeira edição se deu em 1986, com 950 participantes. Em 2012 foram 16.500. O percurso proporciona ao atleta a chance de garantir a melhor marca pessoal na temporada. Todo o trajeto é plano, ao nível do mar, com poucas curvas e em avenidas largas. 

Foto 1. Uma das provas mais importantes do país: 16.500 participantes.

            No ano passado, o destaque foi Marilson Gomes dos Santos, que estabeleceu o seu recorde na marca ao cruzar a linha de chegada com 27min59s, dois segundos a menos que a marca estabelecida em 1997, por Vanderlei Cordeiro de Lima. A prova garantiu ainda os três melhores tempos de 2011, de acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
            Nesse ano, o destaque ficou por conta dos atletas estrangeiros. Mark Korir (Quênia) concluiu a prova com o tempo de 28min01seg no masculino. Assim, Marilson ainda mantém o recorde da prova. No feminino, a atleta Paskalia Chpkorir Kipkoech (Quênia) fechou a prova com o tempo de 30min57seg, fixando um novo recorde na prova nessa categoria.
            A corrida é a maior do Brasil na distância e, também, a preferida entre os principais atletas brasileiros e internacionais. Em 2012 foram quatro quenianos, dois tanzanianos e dois etíopes, número máximo permitido pela CBAt. Os atletas africanos já garantiram 11 títulos, oito com quenianos e três com os angolanos (cinco no feminino e seis no masculino). A corrida ainda possui o aval da Federação Paulista de Atletismo (FPA) e apoio de importantes patrocinadores como a CAIXA, a Unilus, a Prefeitura Municipal, a Santos Brasil Contêineres, entre outros.
            A 27º edição, foi realizada no dia 20 de maio de 2012 em Santos e, teve o mesmo percurso do ano passado. Essa corrida, já figura entre as maiores do continente na distância. A largada ocorreu na Rua João Pessoa, em frente ao prédio da Tribuna, no centro antigo e, a chegada na Praça das Bandeiras, na Praia do Gonzaga, com os dois últimos quilômetros realizados pela orla, praticamente em linha reta.
            Os números dos 10 km Tribuna FM 2012 - Unilus impressionam e falam por si só.  Por exemplo, na categoria masculina, entre as 20 melhores marcas de todos os tempos, sete foram conquistadas nessa prova, os demais foram alcançados fora do Brasil. No feminino, das 20 melhores marcas, dez foram obtidas nela.
            Por sua grandiosidade e importância, como demonstração de respeito aos corredores, a organização optou restringir o número de participantes. A segurança foi garantida com mais de mil pessoas envolvidas no planejamento, montagem e execução.
            A prova é uma das que mais apresentam benefícios diretos aos atletas, sendo a que mais premia. São R$25.000,00 aos vencedores, do masculino ao feminino, com um detalhe: é uma das únicas que premia em dinheiro os 20 melhores atletas, tanto masculino, como feminino.
            Vejam outros números:
·         42 categorias amadoras em disputa;
·         R$120.000,00 em premiação aos 20 melhores do masculino e feminino.
·         16.500 medalhas, maçãs, bananas, sucos, barras de cereais...
·         66.000 alfinetes para números de peito;
·         1.200 staffs na retaguarda;
·         250.000 copinhos d’água (seguindo os padrões internacionais);
·         146 banheiros químicos;
·         6 km em grades;
·         4 caminhões guarda-volumes;
·         8 ambulâncias;
·         130 profissionais da área médica.

Foto 2. Guarda volumes

            Esta, sem dúvida alguma, foi uma das melhores provas de que já participei. Do ponto de vista logístico, não tive nenhum inconveniente para sair de Goiânia e chegar ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo e, posteriormente, me dirigir à cidade de Santos de ônibus.
            A organização foi impecável, em todos os sentidos, desde a retirada dos kits de corrida, em um dos ginásios da Unilus (Universidade Lusíada), até a retirada dos kits pós-prova. Os staffs foram muito prestativos envolventes.

Foto 3. Retirando o kit

Foto 4. Na retirada do kit

            Na manhã da prova, tudo foi muito tranqüilo. Saí do hotel em que estava hospedado, de ônibus e me dirigi até a área de concentração para a largada. Vários atletas também fizeram o mesmo. Esse deslocamento durou cerca de quatro quilômetros e fui me energizando. Tive oportunidade de conhecer um atleta que correu fantasiado de “Airton Sena, de macacão e capacete. Indumentária completa!
            Ao chegar à concentração, me deparei com milhares de atletas que se aglutinavam na Praça da Catedral e do prédio do Palácio da Justiça. Por lá, é comum atletas correrem fantasiados. Apesar de sermos mais de 16.500 corredores, não houve nenhum problema ou atraso. Tudo ocorreu de forma pacífica e ordeira.

Foto 5. Área de concentração

Foto 6. Uma das ruas de acesso às baias de largada

Foto 7. Dentro da baia de largada - Espaço para se aquecer e alongar

Foto 8. Staffs prestativos e envolventes

Foto 9. Me preparando para a largada

            A organização divulgou dados do número de atletas inscritos por cidade. Segundo estes dados 72% dos atletas eram provenientes de Santos e de cidades vizinhas (São Vicente, Guarujá e Praia Grande). Cerca de 15% eram provenientes da cidade de São Paulo.
            Foi nessa publicação que descobri que havia somente 04 atletas goianienses participando dessa prova. Eu era um destes quatro atletas. Segundo a relação, do Estado de Goiás, ainda havia 01 atleta da cidade de Goiás Velho, o qual tive oportunidade de conhecer, 01 de Senador Canedo e 02 de Goiatuba. 

Foto 10. Quatro atletas goianienses, entre os 16.500.

            Para garantir a segurança e tranqüilidade, a organização realizou largada em ondas e separou os atletas em seis baias diferentes, de acordo com o ritmo planejado de prova. O acesso a essas baias se deu por ruas diferentes, mas, tudo foi realizado sem nenhum tumulto.
            As largadas em ondas evitam a aglomeração e permitem aos atletas saírem em seu próprio ritmo. Os primeiros a largarem foram os deficientes físicos e visuais, às 8 h. A elite feminina largou às 08h10min. Depois, às 08h20min largaram a elite masculina, o pelotão Premium, a elite B masculina e feminina e os atletas amadores do 1º Pelotão. Às 8h30min largaram os atletas amadores 2º Pelotão e os caminhantes.
            Um percurso plano e sem curvas permite que o atleta desenvolva e mantenha um ritmo forte. Senti isso na pele. É uma corrida realizada em “alta voltagem”. Todos saíram “fortes”, desde o primeiro quilômetro. Apesar de haver atletas não tão rápidos, não houve os problemas comuns dos “funis” de largada ou para realizar as ultrapassagens.
            Sobre o percurso, a corrida começa em frente ao prédio da Tribuna, no centro antigo, por onde os atletas percorrem um quilômetro. Ao passarem pelo túnel Ferreira Martins Pontes, eles saem da parte histórica da cidade e entra na parte mais moderna. Passam em frente à Arena Santos e seguem até a Praia do Gonzaga, por onde se percorre mais dois quilômetros a beira mar. Assim, além de plano, corre-se por um percurso muito bonito.


Imagem 1. Percurso da 27a 10 km Tribuna FM - Unilus

            A segurança e a vibração se deram em todo o trajeto dos 10 km. Neste ano a organização dispôs ao longo do percurso dois DJ’s e duas bandas de música, além de dançarinos hip-hop e de zumba e membros da bateria da União Imperial (os dois últimos como apoio da Unique Academia).
            No final, apesar do elevado contingente de corredores, não houve tumultos para a retirada do kit pós-prova (medalha, água, frutas, suco e barra de cereais). Cumprimentei alguns atletas com os quais compartilhei essa jornada, encontrei um casal de companheiros de corrida goianienses e retornei ao Hotel.


Foto 11. Após minha chegada


Foto 12. Tendas para a retirada de kits pós-prova

Foto 13. Mais atletas que concluiram a prova

Foto 14. Fluxo de atletas na retirada de kits pós-prova

            A experiência de participar dessa prova demonstra que é possível realizar grandes corridas no Brasil sem os grandes inconvenientes que já foram registrados anteriormente e, tão duramente criticados pelos especialistas, em provas como a Volta da Pampulha e a São Silvestre. A organização impecável, a separação por ondas de ritmo e o envolvimento do público em geral, são fatores decisivos para esse sucesso!

Foto 15. Concentração antes da largada

Foto 16. Concentração antes da largada - 16.500 participantes com total segurança!

            Os 10 km da Tribuna FM – Unilus é uma prova tradicional. Estando em Santos pude entender a razão disso. O envolvimento de toda a comunidade é algo impressionante e, talvez, um de seus grandes segredos. Sejam nos restaurantes, ou nos bares, supermercados, hotéis, etc., todos falam da corrida. No dia da prova, o povo santista vai às ruas apoiar os atletas com suas famílias e os seus balões coloridos, sinos, buzinas, tampas de panelas. Vale de tudo para incentivar os atletas. Posso dizer, é contagiante.
            É claro que a organização e forte apoio financeiro é o que atrai os principais atletas brasileiros e estrangeiros, também é muito importante, mas, isso fica lá com os atletas da elite. Entretanto, o que alimenta mesmo este enorme “cordão de gente” são os corredores amadores. Estamos falando de mais de 16.000 participantes. Se não fosse a limitação imposta pela organização para garantir a segurança do evento, essa corrida alcançaria 20.000 participantes facilmente!
            Todos esses fatores, combinados, tornaram essa “corrida perfeita”. Para mim, uma das melhores, senão, a melhor prova que já participei. Cravei um recorde pessoal na distância, fiz novos companheiros de corrida e, ainda, conquistei o direito de largar na Elite B em sua próxima edição.

Foto 17. Vim, vi e corri!

Foto 18. Essa não tem preço!

Foto 19. Com o companheiro "Zequinha". Todos o conhecem por lá! Vai Zequinha!!!

Foto 20. Com os gêmeos!

            Uma prova imperdível!
        


Fonte:
Revista Runner´s – Edição 34 – agosto de 2011.
Revista Oficial da Prova 27a 10 Km Tribuna FM - Unilus 2012

domingo, 13 de maio de 2012

5ª Maratona de Brasília


5ª Maratona de Brasília

“May the road rise up to meet you. May the wind be always at your back.”
                “Que a estrada esteja a seu favor. Que o vento nunca esteja contra você.”
Tradução livre de um provérbio Irlandês

            Em fase de preparação para a Maratona do Rio de Janeiro, a ser realizada em julho desse ano, eu e os companheiros Rene e Ricardo, aceitamos o desafio de enfrentar a 5ª Maratona de Brasília como uma prova-treino para checar e avaliar nossas reais condições.


Foto 1. "The Road is long" - Alguém poderia dizer o que esses três corredores possuem em comum, além do uniforme?

            A maratona, considerada por muitos como a “senhora de todas as provas” é um desafio que exige muita preparação e respeito. Afinal, não é somente os 42, 195 km que contam, pois, para se chegar lá, o atleta precisa se dedicar muito. Demanda-se treino prévio e, treino sério, ausência do âmbito familiar, preparação extra na academia, etc. Se o atleta não está por conta, fica tudo mais difícil. É duro e sofrido!
            Como maratonistas, reconhecemos isso. Foi com esse cuidado que fomos para Brasília. Apesar da nossa experiência, como corredores de longa distância, sabíamos que enfrentaríamos um grande teste, pois ainda não havíamos atingido uma rodagem suficiente nos treinamentos para nos deixar confiantes. Essa rodagem requereria de nós uma dedicação prévia de 4 a 6 meses de preparação, o que não foi possível.
            Para mim, o desafio foi ainda maior, pois há mais de dois meses venho me recuperando de uma lesão, que me levou a reduzir drasticamente o volume dos treinos. Fui para Brasília, ao lado dos companheiros, com uma grande dúvida, pois, nessa prova, tudo poderia acontecer. 


Foto 2. Correr 42 km é fácil! O difícil mesmo são os 195 metros finais. Em Brasília os 8 km finais são em rampa.

            A Maratona de Brasília já está em sua quinta edição. Neste ano a organização fez algumas alterações como a antecipação da prova do mês de julho para maio, o que foi muito positivo em função de que em julho os níveis de umidade relativa do ar se tornam mais baixos, o que tende a aumentar ainda mais o nível de dificuldade da prova.  Outra novidade foi o novo percurso de apenas uma volta.
            A prova é uma excelente oportunidade para aqueles que desejam conhecer o Plano Piloto, idealizado por Niemayer, pois o novo percurso passa pelos principais pontos turísticos da cidade como a Catedral, a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, a Praça dos Três Poderes, Eixão (Sul e Norte), as Embaixadas e, tendo ainda, como pano de fundo, o Lago Paranoá.
            A escolha do percurso foi muito feliz. Entretanto, em Brasília, a exemplo de outras cidades no Estado de Goiás, é muito difícil realizar uma corrida em um lugar totalmente plano, pois, apesar de ser no Planalto Central, as encostas e fundos de vales são frequentes. 

Imagem 1. Altimetria da 5a Maratona de Brasília


A Prova

            A 5ª Maratona de Brasília foi realizada no dia 06.05.2012 e contou com dois percursos diferentes: os 42,195 km e uma corrida de 8,5 km. De acordo com informações disponibilizadas pela organização do evento, não houve como conseguir uma aprovação para se realizar uma meia-maratona concomitantemente.
            Na maratona houve recorde no número de atletas inscritos: 350 participantes destemidos. Pode parecer pouco, mas recorde é recorde. Isso evidencia que a prova de Brasília ainda tem um grande potencial pela frente. No ano passado, apenas 140 atletas concluíram a prova. Nesse ano foram 248 homens e 34 mulheres.
            Pelo apelo turístico da Capital Federal, pela farta rede hoteleira e, pelo excelente nível de organização, a Maratona de Brasília tem tudo de bom para reunir algo em torno de 1000 maratonistas, se tornar uma das provas certificadas pela Revista Contra-Relógio e, assim, aumentar o seu prestígio no país.
            Tanto para os corredores, quanto para os especialistas, a Maratona de Brasília é considerada como de elevado grau de dificuldade. Hoje, entendemos o porquê disso. A altimetria da prova não deixa a menor dúvida. Veja a comparação abaixo de duas provas difíceis no Brasil:


MARATONA
PLANO
SUBIDA
DESCIDA
Londrina
2,150 Km
19,390 Km
21,110 Km
Curitiba
6,540 Km
18,750 Km
17,870 Km
Brasília
3,010 Km
21,090 Km
18,500 Km

           
               Em função desse nível de dificuldade, não poderíamos ter uma oportunidade melhor para testar os nossos limites. Assim, utilizamos a prova para realizarmos todos os tipos de testes possíveis, isto é, aproveitamos o clima de competição para colocar em cheque nossa concentração, alimentação, planejamento de ritmo para superar as intermináveis subidas do percurso, superação psicológica para vencer a “famigerada” barreira dos 30 km, concluir a prova, além de testar como seria nosso tempo de recuperação no pós prova.
            Mal sabíamos o quanto de proveito e aprendizado iríamos adquirir após concluir esse desafio. Mesmo durante a prova, quilômetro a quilômetro, aclive por aclive, discutimos detalhadamente nossa estratégia para a prova.
            Alguns fatores críticos são fundamentais para se concluir uma prova dessa natureza. Dentre eles poderíamos citar: 
        1) Competência na organização da prova, o que inclui a segurança dos atletas, oferecimento adequado de postos de hidratação, etc.
        2) Uma preparação prévia adequada ao desafio (treino x recuperação x alimentação); 
        3) Um percurso com altimetria amigável; 
        4) Clima favorável;

            A organização foi impecável, em todos os sentidos. A largada para a “senhora de todas as provas”, prevista para as 7 h da manhã, não se atrasou. Já a largada para a corrida de 8,5 km se deu às 7h30min. Uma largada às 7h da manhã, consegue preservar os atletas e ameniza o grau de sofrimento, para aqueles com objetivos de tempo menos audaciosos.


Foto 3. Preparando para a largada.

             
                A organização também foi muito competente na hidratação, oferecendo postos de isotônico a cada 6 km e água cada 3 km. Essa, sem dúvida alguma, foi uma grande contribuição e um ponto positivo.
            Tudo ocorreu de acordo com o que a organização prometeu. Foi água gelada e em grande quantidade! Água e isotônico, posto sim, posto não. O maior desafio mesmo ficou por conta de tomar o isotônico, sem parar, pois eles foram oferecidos em copos abertos.
            Outros fatores menos perceptíveis para os atletas também foram colocados a disposição pela organização como os banheiros químicos e presença de ambulâncias ao longo do percurso e seguro de vida para os atletas. Tudo isso tornou nossa participação mais segura e confortável.
            Gostaria de registrar aqui somente um comentário que pode contribuir para tornar a sexta edição dessa prova ainda melhor. Trata-se de colocar o posto de isotônico antes da água. Nessa prova, somente o primeiro posto obedeceu a essa ordem. Nos demais, o isotônico foi oferecido imediatamente depois da água.
            O detalhe é que, muitos corredores não conseguem tomar o isotônico sem derramá-lo sobre o corpo, deixando-o “preguento”. Além disso, o isotônico pode deixar o atleta um pouco “enjoado”, além de que o seu sabor pode não ser adequado. Um posto de água oferecido logo após, como é feito na maioria das maratonas das quais participamos, poderia amenizar esses efeitos indesejados.
            Como destacamos anteriormente, nossa preparação não foi a mais adequada possível. Fizemos os nossos treinos de rodagens separadamente e em horários diferentes. Cada qual conseguiu alcançar, no máximo, 30 km nos treinos longos. Isso nos habilitaria a concluir uma maratona, que são 42 km? 
            Hoje, aprendemos na prática que, de fato, há vários caminhos diferentes para se completar uma maratona. As opiniões de treinadores também são divergentes a esse respeito. Alguns sugerem altas quilometragens, enquanto que outros, não.
            Não somos atletas iniciantes. Já tínhamos certa rodagem e algumas maratonas no currículo. Entretanto, não sabíamos o que iria acontecer. Sabíamos que se fizéssemos um bom planejamento, tínhamos condições de concluir a prova. Todavia, a grande dúvida era: o quanto isso iria nos custar?
            É justamente nessa hora que o nosso lado filosófico começa a funcionar. Como atletas desafiados pela 5ª Maratona de Brasília, tínhamos que ter estratégias para superar os desafios impostos pela quilometragem de respeito da prova, afinal de contas são 42 km, além de uma altimetria que, previamente, sabíamos que castigaria os atletas menos preparados.
            Diferentes estratégias influenciam no sucesso de um maratonista ao enfrentar uma prova. Normalmente, ele lida com uma questão primordial, isto é, saber escolher, dentro de um continuum, onde se encaixar entre dois pontos: a velocidade e, o outro, a resistência.
            A prova de Brasília não é uma prova propícia para estréias ou para obtenção de recordes pessoais. Veja, por exemplo, que o campeão na categoria masculino neste ano concluiu a mesma com o tempo de 2h27min, já no feminino, o tempo de conclusão foi de 3h14min.
            Está certo que não tínhamos um contingente de atletas de elite ou de quenianos participando dessa maratona, mas, sem dúvida alguma, um tempo muito alto quando comparado às outras maratonas mais importantes. Entretanto, mesmo não sendo uma prova ideal para se obter um recorde pessoal, essa prova pode ser considerada como um excelente teste de preparação, e que teste! 
            Sabíamos que a velocidade, via um ritmo mais forte, poderia nos “quebrar”. Por outro lado, trabalhar somente a resistência, sem se preocupar com o tempo, poderia prolongar o nosso sofrimento, isto é, concluir a prova com mais de quatro horas seria um grande castigo. Para superar esse dilema, tivemos que planejar e utilizar nossa inteligência para saber dosar qual o ritmo aplicar para não “quebrar”. Esse foi o nosso diferencial.
            Assim, tivemos que trabalhar fortemente o nosso lado psicológico para enfrentar os desafios impostos pela prova. Pela altimetria divulgada, sabíamos em quais momentos enfrentaríamos as longas subidas. Também sabíamos que enfrentaríamos uma chegada com 8 km em rampa e que ainda poderíamos enfrentar o vento-contra ao passarmos pelo Eixão e pela L-4, já às margens do Lago Paranoá.
            O clima, apesar de não ser o ideal, também ajudou. A antecipação da prova para o mês de maio ajudou bastante. Trata-se de um mês não tão seco como julho-outubro, além do que, é nesse mês que entramos no “inverno” nessa região do país. A largada às 7h da manhã, também ajudou a amenizar os efeitos desfavoráveis do clima.
            Todos esses fatores combinados concorreram favoravelmente para o nosso sucesso, mas, houve um fator que foi fundamental para concluir a prova: ter ao lado bons companheiros de corrida. Ao longo do percurso enfrentamos todos os tipos de dificuldades, especialmente quando estávamos ultrapassando a barreira dos 30 km. Entretanto, cada companheiro foi fundamental para oferecer suporte ao outro, na medida da necessidade. Enfrentamos juntos! Isso fez toda a diferença!
            Quanto ao percurso, vale registrar que tivemos alguns pontos insólitos. Por exemplo: a prova foi basicamente desenvolvida sobre as Avenidas L-4 e Eixão (Sul e Norte). Como já é do conhecimento de todos, o Eixão é fechado aos domingos, para que os moradores locais possam utilizá-la para lazer.
            Enquanto estávamos correndo sobre a L-4, todo o percurso estava demarcado por cones de segurança, nos separando do trânsito normal. Entretanto, quando fizemos a transição para o Eixão, inicialmente na Asa Sul e, posteriormente, até a Asa Norte, os maratonistas se misturaram aos demais cidadãos, que por lá, desenvolviam suas atividades de lazer, o que tornou essa longa fração do percurso muito monótono. Ao longo do Eixão não houve necessidade de demarcação por cones em função do mesmo já se encontrar completamente fechado para o trânsito de veículos automotores.
            Assim, misturamo-nos às famílias, às crianças e animais de estimação que por lá se encontravam naquele dia, além de várias outras tribos de esportistas (skatistas, ciclistas, patins, etc.). Não houve público nos saudando, como ocorre nas grandes provas. Muitos deles, com certeza, nem sabiam que estávamos participando de uma maratona.
            Às vezes éramos saudados por alguns transeuntes ou corredores de finais de semana, mas naquela altura, era difícil saber quem estava participando ou não da corrida. Se não fosse a nossa concentração e foco, além de um ou outro posto de hidratação que encontramos ao longo desse longo caminho, parecia que estávamos mesmo era realizando um longão.
            Foi justamente na Asa Norte, ainda sobre o Eixão, que tivemos que enfrentar “o muro dos 30 km”. Foi justamente no momento em que nos sentíamos mais isolados. Além do “muro”, bateu aquela solidão e aquela sensação de abandono. Em algumas provas das quais já participamos, como as Maratonas de Curitiba, Rio de Janeiro e Buenos Aires é comum a organização desses eventos inserirem no contexto alguma atividade de animação para os atletas, como por exemplo, uma banda de música. Fica por aqui nossa sugestão.
            Existe um ditado entre os maratonistas de que correr 42 km não é difícil. O difícil mesmo é percorrer aqueles 195 metros finais. Em Brasília isso é muito verdadeiro. Essa maratona vai além disso. Para o atleta conseguir passar pelo pórtico de chegada, ele ainda precisa ainda vencer 8 km de rampa (além de um forte vento contra). Todavia, rampa mesmo se encontrava nos 195 metros finais da prova. Quem conhece o percurso sabe o que estou dizendo. 


Foto 4. Disposição para fechar os 195 metros finais.

            Foi nesse momento da prova, isto é, os 8 quilômetros finais, que vimos muitos atletas pagarem o preço por adotarem a estratégia errada para a prova. Alguns pagaram mais caro. Foram aqueles que não utilizaram um bom equacionamento na relação de velocidade VS resistência.
            Ali, naquele local que muitos sucumbiram às câimbras e/ou tiveram que andar. Não que seja decepcionante andar em uma prova de longa duração, pois essa seria apenas mais uma escolha estratégica. Entretanto, nossa estratégia pareceu ser a mais acertada. Nesse ponto, alcançamos e até passamos por muitos dos atletas que haviam nos deixado para trás no início ou no meio da prova.
            Para a nossa felicidade, conseguimos concluir a maratona com um tempo muito menor do que o previsto. Fomos recepcionados como heróis ao passar pelo pórtico de chegada. A chegada do companheiro Rene foi anunciada pelo narrador que ainda aproveitou para saudar todos os corredores goianos.
            A nossa estratégia se mostrou acertada porque, além de termos obtido um bom tempo, também conseguimos chegar praticamente inteiros e sem lesões. Não estávamos “acabados”, como normalmente acontece com alguns corredores. Pudemos aproveitar aquele momento, isto é, logo após a chegada, para confraternizarmo-nos. 


Foto 5. Minha chegada.


            Foi uma confraternização mais do que merecida. Foi tudo muito tranqüilo e seguro. Após nos hidratarmos e retirarmos o kit pós prova, composto por medalha, boné, toalha e frutas, tivemos mais uma grande surpresa: um banquete de massas.
            Mais uma vez a organização soube surpreender seus clientes. Eles inovaram e ofereceram um farto buffet de massas, com dois tipos de molho diferentes e um delicioso muffin para os atletas que conseguiram concluir a prova.
            Foi tudo muito bem organizado. Havia mesas e cadeiras suficientes para que todos, à medida que concluíssem a prova, pudessem se sentar e jogar um pouco de conversa fora. Eu já tinha visto jantar de massas, mas, um banquete desses, logo após uma prova de grande duração, foi de fato, algo inusitado. Parabéns à organização!

Foto 6. Buffet de massas - Surpreendendo novamente!

Foto 7. Buffet de massas - Surpreendendo novamente!

Foto 8. Buffet de massas - Surpreendendo novamente!

Foto 9. Buffet de massas - Surpreendendo novamente!

            Somente em 2012, até o presente momento, lembrando que ainda estamos no início do mês de maio, eu e o companheiro Ricardo, conseguimos percorrer juntos mais de 105 km pelas largas avenidas de Brasília. Foram três excepcionais meias e uma maratona inteira pela Capital Federal.
            Agora, ao lado do companheiro Renê, fechamos com a “chave de ouro” mais uma etapa de nossa preparação. Participar dessa edição da Maratona de Brasília, nos deu a oportunidade de revisitar os percursos de diferentes provas, pelas quais já transitamos como o da Meia Maratona Internacional da Caixa, a Meia das Pontes, a Maratona de Revezamento e, inclusive, a parte “menos rápida” do percurso da Asics Golden Four, considerada como uma das meias mais rápidas do Brasil.
            Para nós, participar dessa prova, repleta de grandes desafios, foi fundamental. Nossa estratégia, aliado ao suporte mútuo, permitiu que a concluíssemos com um tempo muito menor do que aquele que havíamos previsto e, de certa forma, nos forneceu maior confiança para que possamos participar da Maratona do Rio de Janeiro, no próximo mês de julho.
            Iniciei esse relato citando um provérbio Irlandês, o qual considero muito pertinente com o desafio proposto pela 5ª Maratona de Brasília. Aliás, esse provérbio possui todas as prerrogativas mais do que suficientes para se tornar uma saudação para os corredores de rua de qualquer distância.
            É com essa saudação que também finalizo esse relato:

         “Que a estrada e o vento estejam sempre ao seu favor!”

            Para terminar, curtam também esse vídeo, gravado em 1969, cuja letra tem tudo a ver com o “espírito” com o qual enfrentamos essa prova.



            Um forte abraço a todos!