Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.
Martin Luther King. Jr.
Antartic Ice Marathon 2011
Maratonistas e corredores de longa distância de todo o planeta buscam se desafiar constantemente seja com uma corrida na selva, em elevadas altitudes ou em pleno deserto. Entretanto, o que leva alguém a encarar um desafio realizado em um ambiente insólito, onde em algumas épocas do ano o sol brilha por 24h, onde as tempestades de neve são constantes e a velocidade do vento pode chegar até a 200 km por hora, onde a temperatura pode chegar a - 30º C e onde nem mesmo um inseto consegue sobreviver?
Esse é o cenário da Antartic Ice Marathon que reúne duas das provas mais difíceis do mundo: uma maratona e uma ultra de 100 km no gelo, considerada como o percurso mais frio do mundo e, obviamente, reservada apenas para os atletas de endurance mais resistentes. Em nosso imaginário, a Antártica representa esse grande desafio, a última fronteira selvagem a ser conquistada. Cada corredor tem seus motivos individuais para tentar superá-la.
Foto 1. Ambiente inóspito onde nem os insetos conseguem sobreviver. |
Foto 2. Temperatura que chega a - 30 graus C e rajadas de vento de até 200 km po hora |
Essa introdução pode soar muito familiar para você, e com razão. Esse desafio, já foi mostrado para todo o Brasil em uma série de reportagens, veiculada pelo Programa Fantástico da Rede Globo, intitulada Planeta Extremo, realizada pelo jornalista e ultramaratonista Clayton Conservani, que participou de uma das edições dessa prova.
Ele participou desse desafio ao lado do atleta carioca Bernardo Fonseca que, na época, venceu os dois desafios: a maratona e a ultra. Na ocasião, participaram 40 atletas provenientes de 16 países. Convido a quem não viu esse episódio, transmitido pela Rede Globo, que acesse o link abaixo para ter uma pequena dimensão das dificuldades enfrentadas pelos atletas:
A Polar Running Adventures, agência organizadora desse desafio e que também organiza a North Polar Marathon, antecipadamente recomenda para quem desejar participar tanto da maratona quanto da ultra, a não esperar realizar um bom tempo de prova, em função de que o vento proveniente do Pólo pode variar de 10 a 25 nós.
Eles também adiantam: “Esqueça os pingüins e a multidão aplaudindo ao longo do percurso. Nenhum pingüim sobrevive nesse lugar. Confie apenas em você mesmo como fonte de motivação junto à natureza indomável”.
Alison Hamlett, jornalista e fotógrafa da Revista Runner’s World participou da edição de 2011 da Antarctic Ice Marathon. Para ela, há incontáveis provas inspiradoras e desafiadoras ao redor do planeta, mas essa é a “mãe de todas”, pois, nenhuma outra se aproxima em termos de condições extremas.
Em seu relato, Alison conta que sua aventura começou às 22h do dia 29.11.11, a partir de Punta Arenas, no sul do Chile. A viagem durou cerca de 4horas e meia até chegar ao acampamento de Union Glacier, que fica aos pés das montanhas Ellsworth.
Foto 3. Acampamento em Union Glacier |
Foto 4. Chegada dos atletas no Avião Illusion |
Foto 5. Avião Illusion e estruturas de apoio |
Entre os atletas de 2011, havia uma atmosfera muito positiva. Alguns deles já haviam corrido mais de 100 maratonas, outros eram pessoas simples e outros, desejavam correr uma maratona em cada continente e, assim, tornarem-se membros de um grupo seleto: o Seven Continents Club.
A maratona foi realizada no dia 01.12.11 às 11h da manhã. Participaram 32 atletas provenientes de 17 países. O percurso foi demarcado com bandeirolas laranjadas. Os atletas tinham que percorrer o mesmo percurso por três vezes. Todavia, a superfície uniforme se desfazia, à medida que o dia esquentava e o sol derretia a neve, fazendo com que a segunda volta fosse mais difícil do que a primeira, o que drenava bastante a energia.
Foto 6. Percurso da maratona e da ultra |
Para ela, sem referência alguma na paisagem, correr em uma linha reta por apenas 8 km já era uma grande batalha física e mental. Os postos de hidratação e ajuda, estavam localizados a cada 10 km. Eles surgiam no horizonte como um ponto negro e oferecia irresistíveis oportunidades para comer, beber e descansar.
Foto 7. Chegada |
Veja a classificação, com os tempos dos três primeiros colocados da 7ª edição da Antartic Ice Marathon:
Masculino:
1. Clement Thevenet (FRA) - 3:47:07 hrs
2. Alvin Matthews (USA) - 4:38:19 hrs
3. Matthew Von Ertfelda (USA) - 4:52:58 hrs
Feminino:
1. Yvonne Brown (GBR) - 4:26:10 hrs
2. Emer Dooley (IRL) - 4:41:30 hrs
3. Alison Hamlett (GBR)- 4:46:39
O corredor francês estabeleceu um novo recorde para a prova. Uma mulher da Grã-Bretanha chegou em segundo lugar. O terceiro lugar ficou com um americano e o quarto e quinto lugar com outras duas mulheres, inclusive o de nossa jornalista da Runner’s World. As mulheres cada vez mais vêm conquistando o seu espaço e demonstrando uma forte resistência para as provas de endurance.
Em seu relato, Alison acrescenta que às 10h da manhã seguinte, apenas 05 ultra-coredores participaram dos 100 km em condições climáticas muito piores do que a da maratona. O mesmo francês que ganhou a maratona, fechou os 100 km em 12h09min06seg, registrando outro recorde da prova nessa distância.
Obviamente, tudo isso tem um peso financeiro. O pacote completo para o registro nesta maratona, o que inclui uma jornada de cinco dias, com acomodações, vôo em jato privado da cidade de Punta Arenas no Chile para o acampamento Union Glacier, não fica por menos de 9.900 euros. Se você é um desses corredores que gosta de se desafiar, prepare-se, pois, em 20 de novembro de 2012 será realizada a 7ª edição da Antartic Ice Marathon.
Para quem não se encontra preparado para uma maratona, também pode participar de uma meia-maratona realizada nesse período no mesmo local. Basta se inscrever na White Continent Half-Marathon. E, para quem não está preparado nem para a meia, há ainda uma corrida, parecida com a nossa family run. Trata-se da Antarctic Mile.
Portanto, aí está uma boa sugestão para aqueles que buscam fortes aventuras.
Fonte
Revista 02 – Outubro de 2011 – No 102
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