domingo, 11 de dezembro de 2011

XII Volta Internacional da Pampulha 2010


Uma das Provas mais Tradicionais do Brasil


                A Volta Internacional da Pampulha (VP) é considerada uma das provas mais tradicionais do Brasil e uma das mais importantes do atletismo brasileiro. Essa prova, desde 1999 recebeu chancela internacional e, hoje conta com a participação de atletas provenientes de todos os cantos do mundo, além de milhares de amadores brasileiros e estrangeiros.
                A prova, com 17,8 km, é realizada em volta da Lagoa da Pampulha, um famoso ponto turístico em Belo Horizonte (BH) e serve de teste para quem já domina os 15 km, mas ainda não se sente preparado para uma meia-maratona. Portanto, a preparação para enfrentar esse desafio, se assemelha ao treinamento realizado para uma meia.
                O percurso, quase todo arborizado, passa por diversos pontos turísticos do complexo projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, como a Casa do Baile, o Iate Clube e a Igreja de São Francisco de Assis, além do Estádio Mineirão e o Jardim Zoológico. Estes são alguns dos motivos pelos quais a Revista CR elegeu a VP como uma das provas imperdíveis do Brasil. 

Foto 1. Rene, Antônia, Ricardo e eu (esq.p/dir) na Pampulha com Igreja de São Francisco de Assis ao fundo.

                Por sua importância, essa prova chama atenção da mídia esportiva, tanto é que a mesma vem sendo transmitida ao vivo pela Rede Globo de televisão, fato que interfere diretamente no horário da largada.
                Outra dificuldade é o fato de que o percurso, apesar de ser predominantemente plano, é constituído por diversas curvas, que podem fazer com que o atleta percorra alguns metros a mais, caso não consiga executar o tangenciamento correto, o que não é uma tarefa fácil em função das ruas serem estreitas e haver milhares de participantes querendo fazer o mesmo trajeto.

A Epopéia de 2010


                O ano de 2010 marcou a nossa estréia na VP, o que foi uma verdadeira epopéia. Apesar da excelente companhia dos companheiros do asfalto, tivemos muitas dificuldades para alcançarmos esse objetivo.
                A prova não é fácil de correr. O percurso, apesar de ser predominantemente plano, conta com elevações entre os km 8 e 16. Além disso, ele é formado por várias curvas que contornam o lago, o que, além de quebrar o ritmo constantemente, cria uma forte necessidade de o atleta utilizar suas habilidades de tangenciar, o que não é fácil em uma prova que envolve mais de 13.000 corredores.
                Além disso, trata-se de uma prova imprevisível, pois é altamente dependente do clima que, na “Terra das Alterosas”, oscila muito nessa época do ano. Já ouvi relatos de muitos corredores comentarem ter feito a prova, ora sob chuva, ora sob um forte calor. Portanto, para uma boa prova, além de uma boa preparação, o atleta também depende muito da sorte.
                Em 2010, eu e alguns companheiros de nosso grupo já havíamos participado de provas no eixo Goiânia-Brasília, além da Maratona de Curitiba, que havia sido minha primeira incursão em percursos longos. Neste ano, a idéia de fazer a VP, surgiu quando o colega Rene identificou a existência de uma excursão, com pacote completo (traslado e hospedagem) destinada a transportar, de ônibus, um grupo de atletas de Goiânia para Belo Horizonte, aproximadamente 900 km de distância.
                Não tenho nada contra os ônibus, mas, vocês conseguem imaginar o que é fazer uma viagem dessas por cerca de 900 km e, ainda ter fôlego para participar de uma corrida de rua de 18 km? Já estava devendo um relato dessa epopéia e, gostaria de resgatar um pouco do que aconteceu naquele momento.
                Não vou entrar em detalhes para não tornar esse relato muito longo, mas, o resumo da ópera é um só: Entramos numa tremenda de uma “roubada”, envolvendo eu e os colegas Rene, Ricardo, Antônia, ambos do Grupo Giramundo, além das pessoas inseridas na excursão, que incluía atletas de diferentes níveis, desde a elite, até veteranos, pré-veteranos e iniciantes. 

Foto 2. No Areião (Ponto de encontro para iniciarmos a nossa jornada)

Foto 3. Nosso grupo ainda no Areião (aguardando a condução)

Foto 4. Descansados, dentro do ônibus e prontos para iniciar a jornada rumo a BH

                Para a VP 2010, o nosso companheiro Rene teve a iniciativa de produzir uma camiseta especial, com a logo do Grupo Giramundo. A viagem iniciou numa sexta-feira à tarde. Reunimo-nos no Parque Areião em Goiânia, onde pegamos a nossa camiseta e partimos rumo a Belo Horizonte.
                Não é preciso dizer que a viagem foi desconfortável e demorada. O organizador da excursão, sob protesto dos participantes, já havia sido solicitado para trocar um primeiro ônibus, que poderia ter tornado nossa viagem insuportável. Apesar disso, ele ainda escolheu um veículo ruim. Para nossa infelicidade, ele também contratou um motorista inexperiente.
                Para agravar ainda mais o quadro, eles acabaram selecionando o caminho mais longo, passando pelo Triângulo Mineiro e, durante o nosso retorno, ainda conseguiu se perder, na madrugada, dentro de Araguari. Imaginem como seria dirigir em BH para quem conseguiu se perder em Araguari. Não havia sequer um GPS, dentro do veículo. Ainda não sei como conseguimos chegar ao local  para pegarmos os nossos kits.

Foto 5. Eu, Antônia, Ricardo e o Sr. Anisio (esq. p/dir. com os kits nas mãos


                Se não fosse o ânimo existente e a alegria contagiante dos atletas presentes, essa epopéia teria sido insuportável. A viagem nem bem começou e paramos para jantar em um posto de combustível na beira da estrada a apenas 200 km de Goiânia, cujo restaurante, “escalpelou” os menos avisados quando pesaram os seus pratos na balança.
                Não foi possível dormir durante a viagem. Paramos para lanchar em outro posto na madrugada de sábado e, finalmente, chegamos muito cansados em Belo Horizonte. Aos “trancos e barrancos”, com palpites de uma melhor rota vindo de todos os lados, fomos direto pegar os kits da corrida. 

Foto 6. Pegando os nossos kits

                Lembram-se da Lei de Murphy? Pois é, quando chegamos ao nosso hotel mais outra surpresa: Era um local muito antigo, da era de ouro de BH, encravado bem no centro da cidade. Se fosse “Cult”, o chamaríamos de “vintage”. Móveis e decorações da época, todavia, para os dias atuais, o local realmente estava era com suas instalações defasadas, como os elevadores, carpetes, camas e banheiros desconfortáveis, além de estar localizado bem no “olho do furacão”, isto é, num ambiente marcado pela promiscuidade e muito barulho vindo da rua, o que nos deixou ainda mais exaustos.

Foto 7. No Hotel, no andar que estávamos hospedados (móveis de época)
Foto 8. Telefone de época

                Apesar do cansaço da viagem, procuramos levar tudo àquilo “numa boa”, afinal de contas estávamos ali para correr. Mesmo após termos viajado por toda noite e, chegado ao hotel depois das 10 h da manhã, não resistimos à tentação de fazer um pouco de turismo no centro da cidade. Assim, fomos conhecer o Museu de Artes e Ofícios, visitar o shopping Center, etc., o que só aumentou o nosso cansaço. 

Foto 9. Relaxando durante o almoço em um shopping do centro de BH

Foto 10. Fazendo turismo

Foto 11. Mais turismo

Foto 12. Nas escadarias do Museu de Artes & Ofícios (vale a pena visitá-lo!)

                Para piorar tudo, planejamos fazer um leve trote à tarde, como forma de descontrair a musculatura. Entretanto, caiu uma forte chuva naquele sábado e abortamos a idéia do trote, o que, por um lado foi bom, pois conseguimos descansar um pouco dessa longa jornada. Porém, outros atletas, que estavam hospedados no hotel, insistiram na tal idéia do trote de relaxamento e acabaram utilizando os corredores de seus andares. Quem conseguiria dormir com um barulho desses?
                Como as filhas de nosso companheiro Ricardo estavam em Belo Horizonte, tivemos uma noite muito agradável no sábado a noite, véspera da prova, pois fomos fazer o nosso jantar de massas em um dos excelentes restaurantes de BH.

Foto 13. Durante o jantar em um bom restaurante de BH


A Prova de 2010


                Bom, vamos à corrida. Como a largada seria por volta das 09h15min, para atender as necessidades da Rede Globo, que ira jogar as imagens na programação do Esporte Espetacular, tomamos o nosso café tranquilamente. Entretanto, queríamos nos posicionar bem para a largada e saímos com muita antecedência para a Lagoa da Pampulha.
                Como a Yescon, agência organizadora da corrida, não consegue atender aos anseios dos corredores, incluindo as tão solicitadas largadas por ondas ou baias de ritmo, procuramos ficar bem posicionados no funil de largada. Para que isso fosse possível, ficamos lá por mais de 2 horas “espremidos”, sem água e sob um sol escaldante e, mesmo assim, ainda ficamos longe do pórtico.

Foto 14. Indo para a prova

Foto 15. Antônia, Sr Anísio, Ricardo e Rene (prontos para a prova)

Foto 16. Eu, Rene e Ricardo no funil de largada

Foto 17. Bravos corredores prontos para a largada

                A Volta da Pampulha de 2010 reuniu aproximadamente 12000 participantes. A temperatura registrada durante a prova foi de 25º C. Seu início foi as 09h15min. Para variar, a vitória seria dos quenianos tanto no masculino (54min08seg) quanto feminino (1h05min).
                Dada a largada, lá fomos nós: “os zumbis”. Mais parecia que estávamos “piados”, (como se diz em Minas Gerais, quando a galinha está com suas pernas amarradas). Fomos martelando o chão com muita dificuldade, tentando nos desvencilhar dos corredores com ritmos mais baixo, num eterno ziguezaguear pelas estreitas Alamedas da Pampulha.
                Conseguimos entrar no ritmo da prova somente após o km 10. Foi quando a corrida finalmente começou para nós. Depois, conversando com meus companheiros do asfalto, confirmei que eles também tiveram a mesma experiência.
                Estes, dentre outros, foram os motivos pela qual pensei em não voltar à Pampulha novamente. Ora, a largada é tarde, o percurso apesar de bonito e quase plano, é chato, com muitas quebras de ritmo, devido aos contornos da lagoa, o que leva muitos corredores, que não sabem ou ficam impossibilitados de tangenciar, a percorrer muito mais do que os 17,8 km previstos para a prova.
                Enfim, mesmo com toda essa dificuldade, conseguimos finalizar nossa participação nessa prova. Abaixo segue uma tabela com um resumo dos nossos tempos.

Atleta
Num.
Classif.
Idade
Fx.Et.
Class.Fx.Et
Tempo Liq.
Antônia
10274
257º
35
F3539
57º
01:43:47
Nilo
6391
738º
44
M4044
132º
01:22:26
Renê
8091
1033º
45
M4549
156º
01:26:51
Ricardo
3282
805º
42
M4044
144º
01:24:43

                Apesar das dificuldades, meu resultado não foi de todo ruim, pois alcancei a 738ª posição na classificação geral de um total de 6483 corredores do sexo masculino, isto é, entre os 12% mais rápidos. Nada mal. Na faixa etária fiquei na 132ª posição de um total de 1066 atletas, também entre os 12-13% mais rápidos.
                Logo após o término da prova, o companheiro Ricardo nos apresentou alguns corredores e, conterrâneos seus da cidade de Juiz de Fora, ocasião em que pudemos ouvir um pouco de suas histórias como, por exemplo, a de um reciclador de lixo que virou maratonista.
Foto 18. Grupo Giramundo (prontos para a prova)

Foto 19. Pós-prova, com as medalhas em mãos

Foto 20. Agora, só resta o retorno para Goiânia.

                De volta ao hotel, mal tivemos tempo de tomar um banho e partimos, logo em seguida, em direção à Goiânia para finalizar nossa aventura. Mais uma vez repito, se não fosse o “Espírito do Corredor”, que todos os atletas carregam, a viagem teria sido insuportável. Regressamos ouvindo várias histórias sobre a experiência em correr essa prova.
                Apesar do cansaço, do desconforto e de um atleta que passou mal, a viagem de volta foi alegre, divertida e mais descontraída, mas, voltar à Pampulha no futuro, não fazia mais parte de meus planos.

Fonte


Revista Contra Relógio – Ano 18 – No. 196 - Janeiro de 2010
Revista Contra Relógio – Ano 18 – No. 208 – Janeiro de 2011
Revista O2 – No. 88 - Agosto de 2010


2 comentários:

  1. Excelente Nilo! Muito bom recordar desta corrida em fomos em um Grupo muito legal e conhecemos vários atletas aqui de Goiânia com os quais fizemos amizade que se mantêm até os dias de hoje.

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  2. Rene, esse é o grande legado que uma experiência dessa trás: fazer amizades e boas amizades que duram até os dias de hoje. Fazer a inscrição de uma prova, é barato. Correr não é tão difícil. Mas, o valor da amizade, esse, não tem preço!
    Este é um dos valores que a corrida proporciona, além do condicionamento físico. Um forte abraço!

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