A Corrida é sinônimo de liberdade
“Correr é refletir sobre
as suas próprias possibilidades dentro de um exercício fascinante, fraternal e
singelo. É, antes de tudo, uma atividade alegre.”
Yllen Kerr
Apesar
da importância das competições, para se medir a evolução e o desempenho de um
atleta perante outros, uma das coisas que os corredores mais gostam de fazer é
correr. Correr é muito simples. Esteja em boas condições de saúde, escolha um
par de tênis, roupas adequadas e vá correr!! Simples assim.
Certa
vez me perguntaram: - o que significa correr? Respondi: - Correr é ser livre!
Sim, a corrida é sinônimo de liberdade. É o nosso direito de ir e vir constitucional,
só que num ritmo mais acelerado. Para correr você não precisa usar os melhores
equipamentos ou de tecnologia de ponta. Trata-se do exercício físico mais
natural do ser humano, desde a pré-história. É você e suas pernas, mais nada. Para
correr você não precisa, sequer, participar de competições.
Ouvindo
relatos de atletas veteranos, temos notícias de que, uma ou duas décadas atrás,
as provas eram poucas. Eram mais simples e reuniam quase sempre os mesmos
corredores. Participar delas era gratuito. Não havia os kits como se conhece hoje, nem chips de cronometragem, mas era tudo
anotado. Não havia água no percurso e o atleta corria sabendo disso.
Esse
cenário mudou. O número de praticantes cresce a passos largos. Basta olhar em
praças e outros locais públicos a quantidade de pessoas correndo. Conseqüentemente,
cresce também o número de organizadores, a oferta e a freqüência de provas realizadas
por eles. Chega ao ponto de se ter duas ou mais provas sendo realizadas no
mesmo final de semana em uma mesma cidade.
Hoje,
organizar uma prova de corrida de rua envolve elevados custos. São várias rodadas
de negociações com agências governamentais e privadas para sua viabilidade. As
corridas se tornaram muito mais sofisticadas. As maiores envolvem grandes marcas
patrocinadoras (públicas e privadas).
Para
conforto dos atletas, se investe em aferição de percursos, distribuição de chips de cronometragem descartáveis, um forte
esquema de segurança, serviços de saúde, grande volume de recursos (cones de
trânsito, faixas, marketing, staffs,
voluntários e colaboradores), kits
caprichados com camisas tecnológicas e outros “mimos”, farta distribuição de
água e isotônicos durante a ao final do percurso, alimentos repositores para os
concluintes ao final da prova, frutas, sanduíches, etc.
Com
tamanha complexidade, as provas acabaram se tornando um grande evento. Uma
grande festa, com bandas de música e tudo mais. São eventos que facilmente chegam
a reunir de mil a cinco mil corredores de diferentes níveis, o que muitas vezes
faz a corrida em si se parecer apenas mais um detalhe.
Com
o aumento na oferta de provas, aumentou também a concorrência entre os
organizadores. Com isso, os atletas ficaram mais exigentes. Curiosamente, mesmo
com o aumento do número de participantes e patrocinadores, ao invés das
inscrições baixarem os seus preços, ocorreu o contrário. Os valores tem se
tornado cada vez mais elevado.
Dificilmente
se consegue encontrar uma prova cuja inscrição fique por menos do que R$60,00. Provas
de ponta no Brasil como a Asics Golden
Four e a São Silvestre, por
exemplo, estão com as inscrições por volta de R$100,00 a R$120,00, o que deveria
deixar a prova ainda mais seletiva. Não em função do desempenho do atleta, mas
sim, em função de seu poder aquisitivo. Olha que não estamos considerando os
investimentos que o atleta precisa fazer para correr em cidades diferentes da
sua, como passagens aéreas ou rodoviárias, diárias de hotel, alimentação, etc.
Infelizmente,
as inscrições sobem na medida em que aumenta o investimento dos patrocinadores.
O que é uma pena, pois a corrida, uma das modalidades esportivas mais
democráticas de todas, acabou se tornando um artigo de luxo para a realidade da
maioria dos participantes, isto é, algo para a “elite dos corredores” e não
para os “corredores de elite”.
Com
isso, os participantes também ficaram mais exigentes e, como clientes e consumidores,
passaram a exigir os seus direitos e aquilo que está escrito no contrato
(regulamento) da prova. Não adianta simplesmente “forrar” o portal de largada/chegada
com um tapete vermelho. Se o atleta investe um valor elevado para correr “com
segurança” e não recebe em troca sequer o básico, algo está errado. Ele tem o
direito de se queixar.
Lembrem-se
de que a corrida é muito mais do que participar de provas. É um ato de
liberdade e é gratuito. É como dizia Yllen Kerr: Corra para Viver. Correr é refletir sobre as suas próprias
possibilidades dentro de um exercício fascinante, fraternal e singelo. É, antes
de tudo, uma atividade alegre.
Boas
Corridas!
Fonte de apoio:
Revista Contra-Relogio – Ano 19 – No. 226 – julho de 2012.
Um post ACERTADÍSSIMO, escrito com muita propriedade, parabéns ao autor do texto.
ResponderExcluirIvana, muito obrigado pela visita ao blog e pelo feedback.
ResponderExcluirTenha um bom final de semana!
Boas corridas!
Nilo
Muito bom o texto. Expressa com clareza e simplicidade o sentimento de muitos que acreditam que correr é um ato de liberdade. Abraço.
ResponderExcluirAriana, fico feliz por ter gostado do texto.
ExcluirCorrer é mesmo um ato de liberdade, mesmo em competições, onde colocamos o nosso treinamento à prova perante outros corredores. Todavia, não devemos perder de vista que prova de corrida é também um momento de confraternização, de camaradagem.
Correr não deve ser em hipótese alguma, algo estressante, especialmente quando se trata de uma prova.
Um grande abraço e boas corridas!
Nilo