sábado, 14 de setembro de 2013

Corrida da Independência de Águas Claras - 2013

Entre Organizadores e Atletas, não há INDEPENDÊNCIA.

 

Em 07 de Setembro se comemora a Independência do Brasil. Na ocasião, a data é lembrada nas principais cidades do país com os tradicionais desfiles civis e militares, numa grande festa cívica. Em alguns lugares, também se comemora correndo. 

Foi o caso de Águas Claras*, no Distrito Federal, que realizou no dia 08 (domingo) a Corrida e Caminhada da Independência. O evento contou com a organização e realização da Fun & Run Sports, em parceria com a Administração Regional, o mesmo que a prefeitura local. A cronometragem ficou a cargo da Chiptiming. 
 
 
Imagem 1. Atletas dos 10 km se preparam para a largada.
 

Confira no vídeo abaixo como foi a largada:  
 
 
Vídeo 1. Largada 10 e 5 km
 

O evento conseguiu reunir quase todos os ingredientes para uma grande corrida, e principalmente apoio. Infelizmente, algumas coisas não deram certo. Para quem acreditou e apoiou, como os patrocinadores e atletas inscritos, o que era para ser uma grande festa, acabou se tornando uma enorme decepção. 

Foram problemas típicos de provas não oficiais, como uma falha grave na aferição do percurso, ausência de serviço médico para o atendimento de emergências, confusão, durante a chegada dos atletas e, posteriormente, na divulgação dos resultados, entre outros.  

Se por um lado a corrida não foi das melhores, por outro, esta foi uma excelente oportunidade para se refletir sobre um assunto que poucos dispensam a devida atenção: o documento chamado de “regulamento” de uma prova de corrida de rua. Para que isso serve?  

A experiência ensina que, uma atenção mais dedicada a esta questão, pode auxiliar os atletas a escolherem melhor as suas provas, pois nem todas são dignas de se participar. Para os atletas mais sérios e dedicados, uma simples leitura neste instrumento, poderia evitar transtornos e, consequentemente, decepções, como as que ocorreram em Águas Claras. 

Infelizmente, assim como ocorre com a maioria dos contratos que circulam por nossas vidas, poucos corredores dedicam tempo suficiente para ler os regulamentos, salvo se for para analisar questões relacionadas a premiação ou outro ponto mais específico. 

Os regulamentos funcionam como um contrato, no caso, de prestação de serviços. É o instrumento jurídico utilizado para assegurar direitos e deveres tanto para quem organiza, quanto para quem participa do evento, o atleta. A inscrição, por sua vez, implica em adesão automática às suas cláusulas. 

Na prática, é o meio formal, desenvolvido unilateralmente, ou seja, por quem organiza o evento, para se proteger juridicamente. Invariavelmente, quando se veem prejudicados, os atletas, por boa-fé, acabam se tornando agentes passivos.  Quando se trata de se defender ou reivindicar alguma questão, eles precisam fazê-lo ali na hora, no calor das emoções.  

Passado o evento e, não havendo reclamações no local da prova, os problemas encontrados (pois raramente é apenas um), caem no esquecimento. Como o atleta é a parte mais frágil deste relacionamento fica a questão: ele, o atleta, perde os seus direitos, caso não reivindique algo ali na hora? Com certeza, um bom tema para ser discutido. 

Uma simples leitura no regulamento pode ser reveladora e dar pistas sobre o que se pode esperar de um evento, isto é, sua provável qualidade. Para ilustrar esta questão, veja o exemplo retirado do regulamento da Corrida da Independência de Águas Claras, antes do site ter sido retirado do ar.  

Um dos primeiros sinais que algo poderia sair errado estava bem visível na seguinte informação do documento: "Os percursos da corrida são de aproximadamente 10 km e 5 km, e o da caminhada, aproximadamente 5 km”.  

A palavra "aproximadamente", utilizada no instrumento é ampla e permite uma grande margem de erro. Na prática, o percurso que era para ser de 10 km, na verdade, tinha apenas 8 km. Uma grande diferença, que acabou decepcionando muito os atletas.  

Não é raro faltar água no percurso, isotônico, kits pré e pós-corrida, etc. Todavia, faltar 2 km é de se admirar. Encontra-se por aí desvios de 100 até 500 metros, em uma prova de 10 km, mas, não uma margem de erro de 2 km. Como não foi uma corrida oficial, isto é, com a chancela de entidades competentes, muito pouco se pode fazer. Mas, acredito que caiba aqui uma forte crítica.  

Alguns itens inseridos nos regulamentos, como disponibilidade de serviço médico, ambulância e socorristas para atendimentos de emergência, banheiros químicos, hidratação e segurança no percurso, ficam parecendo muita generosidade por parte dos organizadores. Na verdade, esses são itens obrigatórios para que os órgãos fiscalizadores competentes viabilizem os eventos dessa natureza. Não é nenhum favor ao atleta. 

Nesta corrida mesmo, não havia nenhum serviço médico ou ambulância disponível. Um problema a mais. Por sorte, parece que não houve problemas. E numa situação de necessidade? O que o atleta deveria fazer? Esperar o serviço médico ser solicitado? Esperar por sua chegada? Denunciar?  

A resposta para tudo isso é uma só: deixar de apoiar! É por estas e outras que o número de 'pipocas' aumentam: inscrições com preços elevados e serviços mal prestados. 

Isso está se tornando muito sério. Hoje se observa regulamentos com cláusulas absurdas, como proibindo os participantes, que se sintam prejudicados, de ingressarem com ações cíveis antes, durante e após o evento. Agora, a nova moda é querer proibir os atletas de fotografarem, filmarem ou divulgarem suas próprias imagens no evento.  

Só falta mesmo proibirem a participação do público. Porém, como o próprio nome aponta, é público! (ou não e?). Será que, quem tem muito para proibir, não é porque também muito tem muito para esconder?  Chegamos às vias do absurdo. 

Na Corrida da Independência, foram criadas todas as condições para um grande evento, o que pode ser constatado pelo vídeo da prova. Os atletas aderiram, pagaram um valor razoável pela inscrição (R$50,00), doaram 2 kg de alimento não perecível e compareceram em massa para prestigiarem a iniciativa. A Administração Regional de Águas Claras fez a sua parte: disponibilizou muitas viaturas e agentes do DETRAN. Os patrocinadores também não economizaram e investiram no evento.
 
 
Imagem 3. Viaturas (carros e motos) e agentes do DETRAN-DF fizeram a segurança do percurso.
 

No entanto, infelizmente, o evento não atendeu as expectativas. Da forma como foi organizada, comprometeu inclusive o serviço de cronometragem. Vale acrescentar que alguns atletas correram, estando devidamente inscritos e não tiveram seus tempos registrados, como foi o meu caso. Além disso, aqueles que tiveram suas marcas registradas, ainda aguardam os resultados por faixa etária serem divulgados.  
 
 
Imagem 2. Minha chegada.
 

Isso lembra aquelas festas de formatura, onde o aluno paga durante o curso e o evento não se realiza. Ou, se realizado, deixa muito a desejar. 

Empresas organizadoras de corridas, atletas e outros atores envolvidos dependem um do outro. Em se tratando de competições de corrida de rua, não há como falar em INDEPENDÊNCIA. É preciso haver respeito. 

Por isso, caro atleta, como a parte mais frágil nesse relacionamento, pense muito bem! Se não quer problemas, procure ler os regulamentos. Apoie organizadores que você já conhece, e que tenha experiência no assunto. Dê preferência para as provas oficiais, isto é, aquelas homologadas e certificadas. Entretanto, lembre-se que isso não significa que você estará livre de aborrecimentos. 

Um grande abraço e boas corridas!

 

 
*Águas Claras já foi uma extensão da cidade satélite de Taguatinga (DF). Começou a se desenvolver na década de 90. Em pouco tempo, se transformou em Região Administrativa independente, do Distrito Federal. Hoje, é uma verdadeira cidade, a 19 km do Plano Piloto de Brasília, com uma área aproximada de 31,5 km² e uma população estimada de 135 mil habitantes.

6 comentários:

  1. Nilo,
    Só podemos lamentar quando essas intercorrências ofuscam o brilho da nossa boa e velha corrida de rua. É fato que ao passar dos anos os corredores vão aprimorando a forma de selecionar as corridas, dando maior destaque aquelas que respeitam os atletas. Já tive a oportunidade de ler aqui no "Companheiros de Corrida" relato destacando e parabenizando a organização da prova. Ultra abraço e bons treinos!!!

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  2. Olá Silvestre, muito obrigado pela participação!
    As críticas que oferecemos tem sempre o intuito de melhorar a qualidade de nossos eventos. É como você mesmo mencionou, quando é para elogiar, vamos elogiar.
    Mas, se pode melhorar, porque não nos posicionarmos?
    Depois de todas as intercorrências, só resta mesmo lamentar. Uma pena para os atletas que se sentiram decepcionados.
    Um grande abraço para você e boas corridas por aí!
    Nilo

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  3. Olá Nilo Resende, boa tarde, gostaríamos de saber onde houve a proibição aos atletas de fotografarem (qual evento?), filmarem ou divulgarem suas próprias imagens no evento... Como empresa de fotografia oficial deste evento desconhecemos esta informação, por gentileza nos esclareça mais sobre o tema.... abraço nosso.
    Equipe CorrepraFoto

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    1. Olá Equipe Corre Pra Foto!
      Obrigado pelo contato e pelo interesse na matéria.
      Envie-nos o e-mail para o endereço abaixo para enviarmos o regulamento, onde a cláusula está inserida.

      niloresende@gmail.com

      Abraços!
      Nilo

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  4. Nilo, adorei o texto e concordo em tudo que foi dito. Fui um atleta lesado, li o regulamento sim (sempre leio antes de escolher minhas corridas) e nele constava troféu por faixa etária. Eu sabia que conseguiria e por isso me inscrevi. Mas me deu uma dor de cabeça tão grande depois, tive que ligar pois computaram errado e me inscreveram na corrida de 5km sendo que eu marquei a de 10km, fiquei em primeiro na faixa etária mas não recebi o troféu e a organização ainda teve a cara de pau de mudar o regulamento antes da corrida. Não vale nem a pena recorrer depois. Uma corrida dessas não merece mais que o meu desprezo.
    Grande abraço

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    1. Olá Caio, obrigado por sua visita e por ter deixado aqui os seus comentários!
      Que experiência lamentável foi essa!
      É isso aí. Às vezes não vale a pena reclamar. Se queremos seriedade, o melhor a fazer é apoiar organizadores conhecidos, e que tenham experiência no assunto, além de dar preferência para as provas oficiais, isto é, aquelas homologadas e certificadas.
      Um grande abraço!
      Nilo

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