sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

87ª Corrida Internacional de São Silvestre

87ª Corrida Internacional de São Silvestre

O grau de dificuldade de um percurso está diretamente relacionado ao esforço despendido pelo atleta para executá-lo.

Introdução


            Sob o comando da Rede Globo, com recorde no número de atletas amadores e de elite inscritos, a Yescon fecha o calendário brasileiro de corrida de rua de 2011 com a 87ª edição da tradicional Corrida de São Silvestre, com uma “festa” de encerramento no “piscinão” do Ibirapuera.
            Este relato tem como objetivo principal apresentar um breve resumo sobre minha participação nesta que é a mais tradicional corrida de rua do Brasil. Do ponto de visa técnico, a prova foi muito difícil. Do ponto de vista tático, entretanto, este pode ter sido o meu melhor desempenho nesse ano. Sendo apenas um, dentre os 25.000 corredores anônimos inscritos, apresento aqui também algumas observações dessa experiência como atleta.
            A forte chuva que caiu em São Paulo no sábado a tarde serviu para confirmar o que todo mundo já suspeitava, de que a mudança do percurso poderia trazer riscos e surpresas negativas. A edição de 2011 da corrida trouxe uma série de novidades. A principal foi a apresentação de um novo percurso com chegada no Parque Ibirapuera. 

Foto 1. Avenida Paulista já interditada, recepciona os atletas.

Preparativos para a Prova


            Cheguei a São Paulo com tempo suficiente para fazer turismo por alguns pontos interessantes. Pude também encaixar dois treinos preparatórios para a prova no Parque Ibirapuera, utilizando o caminho de ida e volta da pousada em que ficamos instalados, o que me permitiu incluir exercícios de subida e descida na temida Av. Brigadeiro Luis Antônio.
            Retirei meu kit da corrida na manhã de quarta-feira. Mesmo sendo o primeiro dia, o movimento no ginásio já era intenso, o que já sinalizava uma grande movimentação de atletas para os próximos dias em que os kits estariam disponíveis. Apesar da fila que se formou, tudo foi muito bem organizado, havendo muitos staffs oferecendo suporte.
            É digno de se notar que nesse ano, paralelamente à entrega dos kits, montou-se no ginásio um grande e organizado stand com expositores e fornecedores de materiais de running oficiais e não oficiais, nos mesmos moldes das principais maratonas estrangeiras.
            Na quinta-feira, chegaram à pousada vários outros atletas com o mesmo objetivo comum: participar da São Silvestre. Havia corredores do Rio Grande do Sul (Bagé e Passo Fundo), Pernambuco (Recife), Espírito Santo (Cachoeiro do Itapemirim, Colatina), Santa Catarina (Florianópolis), etc.
            Eram atletas de diferentes níveis e faixas etárias. Havia desde aqueles que, como eu, largaria no pelotão geral e até aqueles que largariam na elite C. Foi nesse grupo que pude conhecer Personal Trainer Osmar, o “atleta”, junto com um de seus orientandos que chegaram a São Paulo com o objetivo de estarem entre os cem primeiros a concluírem a prova.
            Infelizmente, na véspera da corrida, manifestou-se em mim, o anúncio dos sintomas de uma terrível infecção intestinal, o que me deixou acamado, com febre alta e muito preocupado. Cheguei a pensar que não conseguiria correr no sábado a tarde. Utilizando conhecimentos práticos na área farmacológica, fiz algumas intervenções e, mesmo abalado, apresentei uma significativa melhora.
            Aproveitei a “convalescência” e utilizei o sábado para única e exclusivamente descansar. Almoçamos mais cedo em um restaurante próximo ao hotel, o que me permitiu descansar mais um pouco, antes de me dirigir para o local da largada.
            Já planejava chegar mais cedo na Av. Paulista para melhor me posicionar no funil. De fato chegamos por volta das 14h30min para poder observar o comportamento dos corredores e também fotografar as “tradicionais” figuras caricatas que transitam em São Paulo durante a São Silvestre no dia 31 de dezembro.

Foto 2. Eu e meu filho na Avenida Paulista

            Nesse ano, com a mudança, o percurso da prova envolveu a tradicional largada na Avenida Paulista, mas a chegada em outro local. Assim, enquanto minha esposa e meu filho se encarregaram de fazer as fotos, me posicionei na baia de largada do pelotão geral por volta das 14h40min, junto com milhares de outros corredores que já se encontravam ali, aninhados, desde as 13hs. Da Av. Paulista, minha esposa e filho, se dirigiriam para o Parque Ibirapuera, para aguardar a minha chegada.
            Até o momento da largada, eu e vários atletas aguardamos, pacientemente, por volta de 3 horas, ali, em pé. Durante esse momento, pude fazer várias observações em 360º e comecei a indagar: quem são esses atletas fantasiados, caricaturizados e carregando pesadas placas, e que se dispõem a ficar quase 4 horas em pé, aguardando pela largada da última corrida de rua do ano no Brasil?
            Gente proveniente de vários rincões do país. Uma coisa eles tem em comum: de fato, todos são verdadeiramente corredores. Durante minha conversa com alguns deles, pude notar que muitos tinham o perfil para largarem junto com os atletas da elite “B ou C”, mas que, por uma série de razões estavam ali, no pelotão geral, desde as duas horas da tarde, para largarem com certa vantagem. 

Foto 3. "A Noiva", uma das caricaturas típicas da São Silvestre.

Foto 4. Outra figura típica da São Silvestre.

Foto 5. Seu Madruga e Kiko também marcaram presença!

Foto 6. " O cidadão" Edson Arantes também estava lá"

Foto 7. Outra figura típica da São Silvestre.

Foto 8. Outra figura característica.

Foto 9. Eh turma arretada essa!

Foto 10. O Rei e seu súdito.

Foto 11. O famoso Garçom de Araxá - Não é mole não, correr com a bandeja em mãos!

Foto 12. Falei que ele não morreu!

Foto 13. O Rei das embaixadinhas.

            Precisei de muita concentração para me segurar nessas 3 horas de pé. Comigo, levei somente uma pequena garrafa de água descartável, a qual também tive que administrar. Por sorte, o dia em São Paulo naquela tarde estava nublado, o que amenizou um pouco a longa espera. Conversei com alguns dos companheiros de jornada e, em todos observei a mesma expectativa: como será o novo percurso? Todos já tinham uma noção das dificuldades que enfrentariam pela frente.
            Todos sabem que o grande espetáculo da SS é comandado pela Rede Globo e, a largada da mesma se dá quando a grade de programação permite jogá-la no ar. A alguns metros de nós, se encontrava uma grua com uma câmera filmadora dessa emissora que de vez em quando se movimentava para filmar algumas tomadas. Quando isso ocorria, havia um grande alvoroço entre os atletas, que passavam a agitar suas mãos e seus cartazes, numa tentativa de terem suas imagens e suas mensagens transmitidas para todo o país.
            Durante a nossa espera, o narrador da corrida, chegou a anunciar vários horários diferentes para a grande largada da elite masculina e do pelotão geral. Ora seria às 17h30min, ora 17h32min, ora 17h35min, o que nos deixava mais apreensivos ainda, pois o tempo estava virando e uma grande chuva ameaçava a cair para estragar a festa, o que de fato veio a ocorrer.
            Uma cena lamentável que pude observar nos minutos finais que antecediam a largada, foi um grande grupo corredores aproveitadores, que a cada momento invadiam a grade de proteção que delimitava o funil de largada, para se posicionarem melhor na baia, num claro desrespeito aos atletas que por ali já aguardavam a mais de 3 horas. A cada invasão, vaias e mais vaias. Descontentes, alguns atletas chegavam até a atirar alguns objetos como garrafas de água e outras “coisas” nos invasores.   
            Essa situação toda remete a uma antiga demanda da prova, a necessidade de se instituir uma largada por ondas de ritmo, como o que já acontece em algumas provas no Brasil e nas principais corridas do mundo. Isso seria uma das formas de demonstrar respeito ao atleta, permitindo que ele se posicione no funil junto com corredores que possuem o mesmo ritmo dele. Isso já ocorre nas principais provas do mundo, envolvendo um grande número de participantes, como a São Silvestre.
            Uma largada por ondas de ritmo permite que o atleta largue dentro de seu ritmo e, ao mesmo tempo, permite aos organizadores administrarem o fluxo da prova, evitando os atropelamentos e uma série de constrangimentos aos atletas, como esse de ter que chegar numa baia 3 horas antes de ser dada a largada.
            Apesar de não estar registrado oficialmente, durante a largada, pude presenciar vários atropelamentos de pessoas e, conseqüentemente, muita gente machucada. Um atleta que estava hospedado no mesmo hotel que eu, me relatou mais tarde ter caído, junto com outros dois atletas que desmoronaram na sua frente. O constrangimento que a SS impõe aos corredores é LAMENTÁVEL.
            Em meu entendimento, a “polêmica” toda causada em torno da mudança do percurso, e que pode ter abalado um pouco o aspecto de tradicionalidade da prova, é uma questão de menor importância, quando comparada com a necessidade de melhor se organizar um evento dessa envergadura.

A Prova


            Finalmente o momento pelo qual todos aguardavam se aproximava e, com ele, a chuva também. Havia chovido bastante à noite e durante toda a manhã que antecedeu a prova. Entretanto, houve uma trégua à tarde, que durou até as 17h30min.
            Especialistas em corrida já haviam sinalizado anteriormente sobre os desafios e perigos envolvendo o novo percurso, cujo desenho incluiu nos quilômetros iniciais e, finais, uma longa seqüência de descidas perigosas, o que por si só, já colocaria o atleta sob elevado risco de segurança.
            Vários alertas já haviam sido emitidos para orientar os atletas a não forçarem o ritmo nesses pontos críticos. Como a toda descida, há uma subida em igual proporção, havia grandes possibilidades deles tentarem “ganhar” e melhorar o tempo de prova nesses pontos.
            Com o piso molhado, o grau de dificuldade técnica da prova, aumentaria ainda mais o risco de lesões. Para piorar a situação, a forte chuva que caiu naquela tarde, expôs ainda mais alguns “problemas” da nova área de dispersão prevista para o Parque Ibirapuera, que naquela tarde se transformou num grande “piscinão”.
            Não cheguei a ouvir o narrador anunciar, nem tampouco escutei o “tiro” ou buzina da largada. Simplesmente percebi a necessidade de marchar quando a multidão começou a avançar lentamente.
            A marcha, de passos curtos, durou longos instantes. Logo, percebi que já conseguia trotar. Num jogo de empurra e empurra, consegui passar sobre o tapete de cronometragem e acionar o cronômetro de meu GPS. Um simples trote já é difícil de ser realizado para quem ficou de pé, imobilizado por cerca de três horas. Imagine você a dificuldade para entrar no ritmo da prova.
            Entretanto, com toda dificuldade, a partir daí, fomos conquistando lentamente a Avenida Paulista. Passamos sob o palco instalado próximo ao MASP, onde estavam localizados locutores, cinegrafistas e vários fotógrafos com suas câmeras em punho.
           

O Novo Percurso


            Não entrarei em detalhes sobre o que ocorreu a cada quilômetro, mas tentarei aqui, fazer um breve resumo sobre a minha percepção sobre o novo percurso. As opiniões aqui expostas também coincidem com a opinião de outros atletas que participaram da corrida.
            Para a organização, havia uma grande expectativa de se quebrar o recorde da prova, pois se classificou o novo percurso como sendo mais rápido. Analisando os números friamente, também somos levados para esse mesmo pensamento. Veja como ficou: distância no plano: 2,31 km - subindo: 5,53 km e, descendo: 7,38 km.
            Aparentemente, um percurso mais fácil. Todavia, não o foi, pois correr ladeira abaixo requer muito preparo e técnica. É justamente na descida, quando o atleta pensa que pode ganhar tempo, é que ele precisa ser mais cauteloso, em função do elevado risco de lesão. Esse grau de dificuldade é aumentado se o atleta está com sobrepeso. Ocorre o famoso “descer freando”.
            De fato, um novo recorde foi estabelecido. Entretanto, tanto no masculino quanto no feminino o show ficou por conta dos atletas africanos, o que deixa a São Silvestre cada vez mais internacional e menos com cara de Brasil.
            O etíope Tariku Bekele cruzou a linha de chegada com 43min35seg. Ele manteve uma velocidade média de 25 km/h. O segundo colocado, o queniano Mark Korir, chegou 23 segundos depois. “Foi difícil porque estava chovendo muito”, conta o queniano. Em terceiro, o também queniano Matthew Kisorio também se queixou das condições climáticas da prova. Foi a primeira corrida de Bekele no Brasil. Ele declarou para a imprensa local: “Nunca corri uma prova de 15 quilômetros tão dura e a chuva não ajudou”.
            O nosso atleta favorito, o Marilson Gomes dos Santos, fez um tempo ruim comparado ao forte nível dos atletas internacionais, cravando 45min06seg para concluí-la. Ele já havia declarado num jornal local que, a mudança do percurso, dificultaria ainda mais a prova por deixar todos os atletas em pé de igualdade e a prova mais equilibrada. Segundo suas próprias palavras, “agora todo mundo sai do zero!”. 
            Acredito que, o grau de dificuldade de um percurso está relacionado diretamente à intensidade que você se dedica a ele. Para mim, a corrida de São Silvestre nunca foi fácil. Mesmo o seu percurso mais tradicional já era muito exigente. Entretanto, mais do que equilibrada, o nível de dificuldade técnica do novo percurso foi mais elevado ainda, o que foi agravado pela chuva torrencial que caiu sobre São Paulo naquela tarde.
            Infelizmente nem eu, nem outros atletas que pude conversar posteriormente, alcançamos os objetivos de tempo previstos para os 15 km da prova. Entretanto, do ponto de vista tático, fiz uma grande corrida e, esse pode ter sido o meu melhor desempenho desse ano nos 15 km. Esse cenário aparentemente negativo, mais do que decepcionante cria uma grande oportunidade de reflexão.
            Em 2011, não há como se falar em recorde de prova ou recorde pessoal em se tratando de uma prova que, apesar de tradicional, foi realizada em um percurso totalmente novo.
            Mais do que a dificuldade gerada por um novo percurso, tecnicamente mais difícil, correr uma SS nunca foi uma tarefa fácil. Exige-se muito preparo. Não estou falando aqui dos atletas de elite (A, B ou C), mas, sim da grande massa de corredores que engrossam a grande centopéia humana das corridas de rua do país. Primeiro, para se alcançar um bom tempo, o atleta tem que largar bem e, aqui, para largar bem, ele precisa chegar muito cedo e esperar, afinal de contas são 25.000 corredores inscritos no pelotão geral.
            Para obter essa vantagem, os atletas assumem alguns riscos. Aguardar pacientemente em pé, por três horas ou mais é um deles. Ora, nesse lapso de tempo é possível correr uma maratona! Essa situação, constrangedora o deixa física e mentalmente cansado e abalado. Além disso, numa corrida com 25.000 atletas, a prova só começa mesmo a partir do segundo quilômetro, quando os corredores conseguem correr mais livremente. Antes disso, a corrida é um constante desvencilhar de pessoas, tropeços e cotoveladas.
            Além do mais, a subida da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, continua lá. Entretanto, um pouco antes do “Grand Finalle” aguardando sadicamente os atletas. Para enfrentá-la e manter uma boa média de ritmo, requer-se um bom condicionamento físico e mental, portanto, muito treinamento.
            Entretanto, a SS possui seu outro lado, o que na essência, além do enfrentamento dos 15 km, é a sua grande magia. Trata-se de seu lado lúdico e do caráter festivo. Antes de qualquer coisa, trata-se de um momento de confraternização entre milhares de corredores que optam por passar o último dia do ano fazendo aquilo que mais gostam: correr ao lado de seu igual.
            É muito pequeno assumir que o que torna a SS uma prova tradicional sejam pura e simplesmente a sua freqüência e a data em que a mesma é realizada, como foi declarado por um dos organizadores da prova em recente entrevista para o portal da O2 por minuto. Não concordo com eles.
            Numa SS, você não corre o risco de correr sozinho. Da mesma forma, a participação do público na prova é algo digno de nota. Parabéns aos paulistanos! Não arredaram o pé, nem mesmo sob a intensa chuva que caiu naquela tarde. Em todo o trajeto, eles estavam lá, aplaudindo, incentivando e, até mesmo se divertindo, com os atletas que passavam. Essa é a grande magia da prova.
            Do ponto de vista tático, esse pode ter sido o meu melhor desempenho em 2011, pois consegui correr e ao mesmo tempo administrar os grandes desafios apresentados pelo novo percurso. Preparei-me para estar ali e, procurei fazer o meu melhor para finalizar bem a prova e, quem sabe até fazer um tempo melhor do que o alcançado em 2010.
            Em minha opinião, o ponto mais crítico da corrida continuou sendo o da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, que surge para o atleta aproximadamente no km 11. Nesse novo percurso, o atleta percorre praticamente toda a avenida. A sua primeira parte é constituída por uma forte subida aonde o atleta já chega fadigado (Km 11 ao km 13).
            Ao cruzar a Avenida Paulista, todo o cansaço é premiado quando a Brigadeiro se converte em uma forte descida até chegar ao Parque Ibirapuera (Km 13 ao Km 14). Entretanto, como toda descida envolve cautela, nessa parte da prova, que também coincidiu com os quilômetros finais, optei por continuar administrando a corrida e não me arriscar, especialmente por que o piso estava muito escorregadio e, a chuva, não dava trégua.
            Ao percorrer os metros finais da prova, já em direção ao obelisco do Parque Ibirapuera, mesmo cansado consegui reunir minhas forças para um sprint final. Ao me aproximar da chegada, ainda consegui ouvir a voz de meu filho, que gritou por mim, debaixo de uma chuva torrencial.
            Consegui finalizar a prova com o tempo de 01h07min04seg, marcando um ritmo médio de 4min24seg/km. Em meu entendimento não há porque se falar em recorde de prova, tendo em vista que a SS 2011 trouxe uma história totalmente nova, envolvendo um novo percurso. Apesar de ter levado para a prova uma meta mais ambiciosa, me sinto plenamente realizado, estando classificado entre os 7% dos atletas mais rápidos na prova. Um excelente resultado para um atleta amador com menos de 3 anos de experiência como corredor.

São Silvestre: Resumo de Participação 2010 e 2011
ANO
TEMPO
RITMO
CLAS.GER/NR INSCR. (%)
CAT./NR INSCR. (%)
2010
01:10:17
4:41
1700/14805 (11,5%)
265/2321
(11,4%)
2011
01:07:04
4:24
1102/15017 (7,3%)
112/2178
(5,1%)

Foto 14. Apesar do elevado nível técnico, balanço positivo quanto ao desempenho na prova.


            Meu filho e minha esposa me aguardavam no local da chegada, que naquele momento, já havia se transformado em um verdadeiro rio (sem exageros).  Minha esposa me relatou, posteriormente, que enquanto me aguardava e fazia alguns registros fotográficos do evento a chuva veio e rapidamente a enxurrada ocupou o espaço onde ela estava, cobrindo-a de água até a altura de suas canelas.
            Foi o que eu também constatei. Logo que cheguei, fui guiado pelo locutor que orientava os atletas concluintes a não pararem na área de dispersão e se dirigirem ao local da entrega do kit pós prova (medalha e lanche). Recentemente, foi apresentado um cálculo que na São Silvestre o fluxo de chegada é de 400 corredores por minuto. De fato um grande espetáculo! Assim, procurei seguir o fluxo.
            A saída da área de dispersão criou mais uma cena lamentável, expondo ainda mais os atletas. A organização criou um longo curral para orientar os corredores até as tendas onde seria entregue o kit pós-prova. Assim, fomos obrigados a caminhar por um longo percurso coberto por lama e água para então, finalmente pegarmos as nossas merecidas medalhas de participação. Aliás, uma linda medalha!
            Apesar de todo empenho engendrado pela organização da prova em melhorar os aspectos de segurança e oferecer qualidade na entrega de serviços aos atletas, esqueceu-se de um pequeno detalhe: a possibilidade de intensa chuva, tão comum em São Paulo nessa época do ano.
            Mesmo enfrentando significativas críticas de atletas, treinadores e da mídia especializada, os organizadores da SS realizaram a prova assumindo os riscos desse novo percurso. A chuva, “persona non grata” nessa tarde, véspera de réveillon, expôs uma série de problemas que precisam ser revistos pela organização para a 88ª edição dessa prova.
            Após minha peregrinação para buscar o kit pós prova, já muito “ensopado” e com sinais de hipotermia, tive que dar uma grande volta para chegar ao local onde meu filho e esposa se encontravam. Também os encontrei em situação igualmente crítica. Era água por todo lado.
            Uma vez encharcados, optamos por voltar caminhando para o hotel. Durante a nossa volta, refiz o caminho subindo a Avenida Brigadeiro Luis Antônio. Seguimos no contra fluxo da prova, onde milhares de atletas ainda cumpriam seus desafios pessoais. Ficamos emocionados com vários deles.
            Mesmo que a organização tenha apresentado um balanço positivo, quanto aos aspectos de segurança e ausência de atletas machucados durante o evento, o que nós vimos naqueles instantes finais, foi algo bem diferente. Vimos vários atletas abandonando a prova em função de lesões. Assim, pode ser que, oficialmente, não tenha havido nenhuma queixa, mas, na prática não foi isso o que ocorreu.
            Apesar das críticas acima, não podemos tirar o mérito da organização quanto a alguns aspectos:

·         Excelente nível de organização durante a entrega dos kits da corrida;
·         Inovação com o oferecimento de exposição e feira com estandes de patrocinadores e fornecedores de materiais para running no mesmo nível das principais provas do mundo;
·         Medalha de participação muito bonita e digna de coleção;
·         Várias ruas interditadas na região da Avenida Paulista por conta da São Silvestre;
·         Operação que demandou mais de três mil homens (entre militares e staffs);
·         Garantia de presença de vários atletas da elite nacional e internacional;
            Quem sabe eu tenha ânimo suficiente para correr outra SS e assim ter a chance de poder comparar meus tempos nesse percurso novo e tão radical!!

Fonte







4 comentários:

  1. Parabéns pela corrida bem realizada. Tive a informação que a Organização da Prova pretende aumentar ainda mais o número de corredores na São Silvestre com a finalidade de chegar até os 45.000 participantes ao final de alguns anos. Bem, nota-se que não havendo mudanças tanto no local de largada quanto no local da chegada e ainda na maneira de organizar a largada na qual muitos já acham que tem que ser por ondas de tempo (min/km) e também com intervalo entre as ondas (onda a cada 5 ou 10 min), nós deixaremos de correr com dificuldades como é hoje (25.000 atletas) e passaremos a caminhar com dificuldade. Resta a Organização da Prova decidir qual será o futuro da SS, uma corrida de excelência (como já existe algumas no Brasil) ou uma caminhada tumultuada.

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  2. Rene,Parabéns para nós! Fomos Guerreiros, ao enfrentar todas dificuldades listadas acima!
    Também fiquei sabendo que os atletas inscritos receberão em breve um questionário sobre a prova. Vamos aguardar, analisar o teor desse questionário e proporcionar os nossos feedbacks mais sinceros!
    Vamos também torcer para que os organizadores tomem as melhores decisões para manter a chama da tradição dessa corrida sempre acesa!
    Um grande abraço!
    Nilo

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  3. Parabéns Nilo pelo desempenho, final desse ano quero ir, valeu.

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  4. Advaldo, vai ser uma experiência inesquecível. Vale a pena! Um grande abraço!

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