quarta-feira, 25 de julho de 2012

Maratona CAIXA do Rio de Janeiro 2012


A Jornada Vale mais que o Destino
Que o vento sempre esteja ao seu favor!”
                        Provérbio Irlandês


                Uma maratona é um dos grandes eventos do atletismo. Trata-se de um momento no qual atletas de diferentes níveis de condicionamento, se predispõem a se superarem. Entretanto, para estar na largada e, conseguir alcançar a linha de chegada, é necessário uma longa e dedicada preparação. Maior que o esforço contínuo, aplicados dentro de duas, três ou quatro horas necessários para se concluir a prova.  
                Bill Rodgers, quatro vezes vencedor das Maratonas de Boston e Nova York disse: “A maratona pode humilhá-lo”. Ele não estava errado! De fato, a distância de 42.195 metros é mítica. Como uma corrida de longa distância, a maratona, pode expô-la a ter que reconhecer o seu verdadeiro “eu”, com todas as suas virtudes ou fraquezas. Essa é a sua mística!
                A Maratona CAIXA do Rio de Janeiro é uma das provas mais aguardadas do calendário brasileiro de corridas de longa distância. O percurso é quase todo plano, propício para a fixação de recordes pessoais, além de ser realizado quase que totalmente a beira-mar, o que inspira e motiva todo o corredor, com uma vista de “encher os olhos”. Aqui, se faz valer o ditado de que “a jornada vale mais do que o destino”.

Imagem 1. Em 2012 uma maratona fria e silenciosa!

                A prova, considerada pelos especialistas como uma das mais bonitas do mundo, é realizada por entre os cartões postais mais famosos do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, tendo como pano de fundo as praias de Copacabana, Leblon, Ipanema, Baía da Guanabara, Aterro do Flamengo o “Pão de Açúcar”, o “Cristo Redentor”, entre outros.
                Para abrilhantar ainda mais o evento, nas vésperas da corrida, a cidade do Rio havia acabado de receber o título de “Paisagem Cultural Urbana” pela UNESCO. Tudo isso contribuiu para aumentar sobremaneira o charme da cidade, tornando o simples ato de correr ao longo de suas praias, um luxo ainda maior.
                A “maratona carioca” se destaca não somente por suas belezas cênicas, mas também pela excelente organização, o que inclui a disponibilização de meios de transporte para a largada, realizada bem cedo (07h30min) na Praia do Recreio; alocação de postos de hidratação com distribuição de água e isotônicos em boa quantidade e gelados; forte serviço de segurança com vários staffs ao longo do percurso; dentre outros.

Imagem 2. Fomos lá conferir!

                Concomitantemente à Maratona do Rio são realizadas outras duas provas: uma de 6 km, a Family Run e, uma meia maratona. Destaca-se ainda a presença de um grupo de ultramaratonistas que todo o ano faz uma dobradinha, percorrendo 84 km. Eles fazem o percurso duas vezes. Uma do Aterro ao Pontal e, outra ao retornarem ao Aterro logo em seguida. Sobra disposição!
                Segundo dados disponibilizados pela organização, nesse ano, o evento bateu todos os recordes, reunindo algo em torno de 21 mil corredores nas três distâncias, o maior número de participantes de todos os tempos. Outro recorde batido, dado a uma ampla divulgação no exterior, foi o de número de atletas estrangeiros inscritos.
                Em se tratando do número de atletas que conseguiram concluir a prova, a Maratona do Rio já pode ser considerada como a maior do Brasil em 2012, com 2.901 corredores (2.355 homens e 546 mulheres). Em 2011 haviam sido 2.740 concluintes – um crescimento de 161 competidores. A Maratona de São Paulo contabilizou 2.342 concluintes, contra 1.248 em Porto Alegre.
                A prova ocorre em pleno inverno, de onde se espera sempre um clima agradável, mas, no Rio de Janeiro, tudo pode acontecer! No ano passado, todos apostavam que iria chover. Porém, o forte calor e a elevada temperatura, fizeram com que grande parte dos atletas enfrentasse dificuldades para completar a prova. Em 2011, embalados pela beleza cênica local, excelente organização, distribuição farta de água, isotônicos e carboidrato gel, além da presença de animadores, bandas de música e o grande público ao longo do percurso animando os atletas, foi possível driblar, satisfatoriamente, as dificuldades do calor.
                Em 2012 foi o contrário e, como vimos, foi uma prova muito diferente. Talvez, quem participou pela primeira vez, possa ter se surpreendido. Entretanto, para quem já esteve lá em outras edições, o que se viu foi a realização de uma prova fria e silenciosa. A forte chuva daquela manhã de domingo pode ter sido a grande responsável por isso.
                Porém, a Maratona do Rio continua sendo “maravilhosa” e uma das mais bonitas do mundo!


Assista esse vídeo de 5 min sobre nossa participação neste grande evento do atletismo!



A Chegada

                Chegamos ao Rio de Janeiro na sexta à tarde e fomos diretos para o MAM (Museu de Arte Moderna) para retirar os nossos kits de corrida.  Assim como no ano passado, tudo estava muito bem organizado, com atividades sendo realizadas nos stands dos diversos patrocinadores. Pegamos os nossos kits, fizemos o “teste de pisada” no stand da Olympikus, patrocinadora oficial do evento e fomos para o Hotel.


Imagem 3. Eu e o companheiro Rene, durante a retirada do kit da corrida.

                Por força do destino, do ponto de vista turístico, nesse ano ficamos muito bem alojados na Praia de Copacabana. Entretanto, do ponto de vista prático, ficamos longe do “Aterro”, ponto de chegada da maratona e, de onde partiriam os ônibus que levariam os atletas para a largada. O último ônibus disponibilizado pela organização sairia as 05h30min da manhã. Assim, antecipadamente sabíamos que a nossa boa localização cobraria um preço razoável na manhã de domingo.
                Nesse ano formamos um grupo maior de atletas para participar das 03 distâncias (6 km, 21 e 42 km). Cada um fez toda a preparação possível para enfrentar os seus desafios pessoais. A expectativa para o grande dia era muito grande.
                No sábado, nosso grupo se dividiu. Parte optou por fazer turismo. A outra, da qual eu fazia parte, aproveitou a excelente localização para fazer um leve trote entre as Praias de Copacabana e Leme. Foram seis quilômetros de trote. Relaxamos a musculatura, aliviamos um pouco a tensão e deixamos os nossos corpos melhor preparados para a corrida. 


Imagem 4. Treino para relaxar a musculatura.

Imagem 5. Parte do Grupo reunida.






 
Imagem 6. Parte do grupo reunida.

Imagem 7. Batendo pernas no Rio.

                Ainda encontramos tempo para um banho de mar e “bater pernas” até a Praia de Ipanema. Almoçamos na casa de amigos cariocas, com os quais passamos uma tarde agradabilíssima. À tarde, o grupo se completou, com a chegada de outro companheiro, que ainda arranjou tempo para fazer o seu trote regenerativo no início da noite.
                Saímos para jantar, durante o qual traçamos as últimas estratégias. O assunto mais comentado naquela noite foi o clima. Como estaria no dia da prova? A previsão anunciava chuva. Chegamos a duvidar, pois tanto na sexta-feira, quanto no sábado o sol foi intenso. Naquela noite, conseguimos avistar a lua e algumas estrelas com facilidade. Preferimos acreditar que teríamos um clima agradável na corrida e, preferencialmente, sem chuva.
                Fomos dormir cedo para termos disposição suficiente para enfrentar a nossa jornada que começaria às 03h30min da manhã. Tudo cronometrado: meia-hora para nos preparar, meia-hora para o café da manhã, meia-hora para pegarmos um taxi até o Aterro, de onde pegaríamos um dos primeiros ônibus que nos levaria até o “Praia do Recreio”, local de largada.  


O Dia da Prova

                O Hotel nos serviu um café pequeno, isto é, com o mínimo necessário. Ainda assim, foi um verdadeiro banquete para nós maratonistas, pois tínhamos tudo aquilo que precisávamos. Naquela madrugada, enquanto tomávamos o nosso café, pudemos avistar pela janela, os ultramaratonistas que, naquele momento, já passavam pela Praia de Copacabana em direção ao Pontal.
                Entretanto, assim que colocarmos os pés para fora do Hotel, na tentativa de conseguirmos um taxi, surgiu um convidado “inesperado”: a chuva. Ela nos acompanhou por quase todo o nosso trajeto, do Hotel até o Aterro e, de lá, até o Pontal.
                Corredor é mesmo um ser atípico. Às 05h da manhã, lá estavam eles no Aterro. Uma cena insólita. Atletas com os seus uniformes, naquela hora se misturavam aos bêbados, prostitutas, travestis e andarilhos noturnos, que por lá ainda perambulavam. Eram maratonistas e meio-maratonistas, que tentavam se organizar para entrar em um dos diversos ônibus barulhentos e de carreira que foram colocados à disposição.


Imagem 8. No ônibus, do "Aterro ao Pontal". Eu e os companheiros João Honório, Donizette e Rene.

                Infelizmente a previsão do “tempo” estava correta. A chuva nos acompanhou do Aterro ao Pontal, ora caindo levemente, ora caindo em fortes pancadas. A chuva, somada ao ensurdecedor barulho do motor do “baú”, isto é, do ônibus, que fica praticamente dentro do veículo, foi nos entorpecendo até chegarmos ao local da grande largada.
                Chegamos cedo ao Pontal. Algo em torno das 6h da manhã. Descemos do ônibus e fomos direto procurar abrigo em um dos quiosques locais, onde também já estavam outros corredores. E dá-lhe chuva! Ainda fazendo os preparativos finais, outros atletas foram chegando. 


Imagem 9. Em um dos quiosques locais. Preparativos finais.

                Aproveitamos para rever e fazer novos companheiros naquele local. Para essa maratona optei, em comum acordo com os demais colegas, por correr levando comigo uma pequena câmera fotográfica, mesmo sabendo que poderíamos correr debaixo de chuva. Fui para o sacrifício. Um peso leve, um incômodo a mais, um minuto a menos. Não importa. Os momentos registrados valem todo e qualquer sacrifício.
                Esperamos pacientemente pela hora da largada. Enquanto isso, mais e mais atletas chegavam. O Rio não é a “Terra da Garoa”, mas, com o vento e a chuva fria que caía naquela manhã, deixamos o aquecimento de lado. Afinal, são 42 km a serem percorridos e poderíamos fazê-lo durante a corrida.
                Faltando 30 minutos para o início, fizemos os preparativos finais e nos dirigimos para o funil de largada. Cada vez mais, o cordão de atletas se avolumava. Debaixo da garoa fria, o locutor tentava animar os corredores, que ainda se protegiam do vento. Lembro-me quando ele anunciou a passagem dos ultramaratonistas que iriam dobrar a distância dos 42 km.


Imagem 10. Eu e os companheiros Fernando e Rene, entremeados no funil de largada.

                A edição de 2011 da maratona carioca foi bem diferente da de 2012. Tanto é que voltamos para casa no ano passado e fizemos a maior propaganda para os companheiros que queriam fazer a sua estréia na prova.
                Em 2011 sobrou animação, inclusive durante o percurso. Nessa faltou! A chuva deixou as coisas muito estranhas, mais silenciosas, por mais que o locutor tentasse animar a galera. Infelizmente, essa sensação persistiu por toda a prova, deixando a corrida como uma excelente oportunidade para a reflexão.
                Dada a largada, lá fomos nós atrás de nossos objetivos e “dá-lhe chuva”. Um grande número de atletas se atrasou. Se foi culpa da chuva, não se sabe. A Maratona do Rio tem a largada no sentido oposto ao da chegada. Mesmo após termos percorrido cerca de quatro quilômetros da prova, ainda pudemos observar muitos atletas que tentavam chegar ao local. Alguns nem sequer haviam deixado seus pertences no guarda-volumes. 


A Prova

                A largada se deu pontualmente às 7h30min do domingo (08/07), debaixo de muita chuva.  A temperatura agradável permitiu que os corredores, tanto os da elite quanto os amadores, melhorassem o seu rendimento e conseguisse quebrar os seus recordes pessoais, inclusive o da prova, na categoria masculina e feminina.
                Os jornais esportivos na segunda-feira, pós prova, trouxeram várias manchetes, destacando a influência do clima nos resultados, como a seguinte: “O tempo nublado e chuvoso, com a temperatura por volta dos 18º C foi determinante para o bom desempenho dos atletas e, conseqüentemente, a quebra de recordes da prova”.
                Particularmente, não vejo a chuva como uma aliada, ao contrário. Vejo-a mais como um desafio a ser superado. Minha primeira e última grande prova que participei debaixo de chuva foi a edição de 2011 da São Silvestre. Lembro-me que, apesar do novo percurso ter sugerido uma prova mais rápida, a chuva surpreendeu e, impediu-me de alcançar meu objetivo pessoal naquela ocasião.
                No Rio a situação não foi diferente. A chuva deixou grande parte do percurso alagado, levando os atletas a terem que inundar os seus tênis e meias nas poças d’água, ou terem que se desviar por caminhos adjacentes. Para mim, a chuva foi outro desafio a ser superado, além de ter que completar os 42.195 metros da prova.


Imagem 11. Dá-lhe chuva - do início ao fim.

                Meu tênis encharcou nas poças d’água e, fez com que minhas meias se enrugassem e pressionassem a sola de meus pés. Praticamente tive que administrar um sofrimento em boa parte do percurso, levando-me a desgastar o meu psicológico muito antes de chegar à barreira dos 30 km. As bolhas surgiram sob a sola de meus pés. Pensei naquele bordão utilizado durante os treinamentos de força: - “A dor é passageira. Desistir é para sempre!”
                Se a chuva atrapalhou, por outro lado, posso assegurar que, em 2012, a temperatura e o vento fizeram toda a diferença no meu desempenho e, provavelmente também no de outros atletas. A edição de 2011 da maratona carioca foi bem diferente, o que leva a confirmar que cada prova é especial.
                Os atletas naquela ocasião, ao contrário desse ano, enfrentaram elevada temperatura, muito sol, vento contra em boa parte do percurso e, toda sorte de efeitos que estas condições climáticas possam gerar.
                Hoje, lembro-me de por volta do quilômetro 11 ter encontrado um grupo de atletas que estavam satisfeitos com as condições climáticas. Não tive a menor dúvida em dizer para eles que, para mim, essa prova havia caído do céu. Sim. Literalmente. Caiu do céu na forma da chuva, o que deixou o clima mais agradável e, também, na forma de vento e diga-se: vento-a-favor. O “sopro Divino” literalmente nos carregou em boa parte do percurso. Foi incrível a sensação de correr a favor do vento. Foi como se estivéssemos sendo conduzidos.


Imagem 12. "Que o vento possa sempre estar ao seu favor!"

                Certa vez li um provérbio Irlandês do qual gostei muito devido a sua relação direta com a corrida e, sempre o utilizo na forma de citações. Ele é mais ou menos assim: “que o vento possa sempre estar ao seu favor”. Hoje sei como é mais favorável correr com o vento a favor e não sofrer com as barreiras impostas pelo “vento contra”.
                Apesar da chuva, das poças d’água sobre o asfalto e das meias encharcadas,  machucando-me a sola dos pés, a sensação de correr a favor do vento tornou a corrida muito mais fácil e, porque não dizer, mais prazerosa.  Foi como se eu estivesse sendo carregado.
                É normal durante a largada os atletas imprimirem um ritmo mais forte do que o usual. Os atletas amadores também vão ao sabor das emoções, puxados por atletas mais rápidos. Por volta do quilômetro cinco olhei o cronômetro e vi que estava fazendo aquela passagem muito rápida. O ritmo estava mais para uma prova de 10 km, e não uma maratona. Pensei em reduzir, mas não consegui!
                Mesmo quanto atingi o quilômetro 10, ainda imprimindo um ritmo mais rápido do que o planejado, o vento a favor permitiu que minha sensação de esforço estivesse dentro daquilo que costumamos chamar de “confortável”. Pode parecer um grande erro, afinal de contas ainda teria que enfrentar mais 32 km pela frente e, poderia ter que pagar um alto preço por essa ousadia.
                Entretanto, seria um equívoco deixar de aproveitar o “empurrão” de Deus, na forma do vento que nos levava adiante. Nesta altura da prova, cheguei a comentar com alguns companheiros que estavam ao meu lado naquele momento: “De fato, essa prova caiu do céu! Se eu fosse um pouco mais leve, não estaria correndo! Estaria voando!”. Essa foi a minha sensação durante quase toda a prova.
                Há outra citação que diz: “Na maratona, os primeiros 30 quilômetros se corre com os pés. Os outros 12, com a mente. Já, os 195 metros finais, com o coração.” Outra citação muito verdadeira, que li durante a Maratona de Buenos Aires. Esse ditado é uma regra geral e, como tal, pode funcionar de maneira diferente para a maioria dos atletas, dependendo de sua preparação e de seu condicionamento.
                Aproveito esta citação, para falar um pouco de como foi o restante da prova. O percurso da maratona do Rio vai muito bem até por volta do quilômetro 25, a partir do qual os atletas enfrentam uma forte subida até por volta do quilômetro 28. É logo após esse ponto que a corrida se redefine e os atletas reformulam suas estratégias.
                Passei por essa subida ainda me sentido muito bem. Só percebi que o ritmo começou a reduzir por volta do quilômetro 35, quando as pernas começaram a ficar um pouco mais pesadas. Mesmo tomando os cuidados necessários em termos de hidratação, suplementação e reposição hidroeletrolítica, foi a partir do quilômetro 40 que senti a chegada de outro convidado indesejado: uma fisgada na coxa direita. Consegui ajustar o ritmo de forma a não ter que parar. Ela me acompanhou desde então. Neste ponto faltavam apenas dois quilômetros e os tais 195 metros para finalizar a prova.
                Dessa experiência só algo a mais para dizer: para mim, a maratona carioca começou exatamente a partir do quilômetro 28. Logo após a grande subida. Entretanto, da largada até o quilômetro 35 consegui correr com as pernas, embora que empurrado pelo vento. Do quilômetro 35 até o 40, corri com a mente. Já os 2.195 metros finais, corri literalmente com o meu coração.
                Mesmo correndo com o coração, eu sabia que faltava pouco, muito pouco para concluir o grande desafio! Mesmo com o ritmo um pouco diminuído, ainda consegui conquistar algumas posições.
                Estes quilômetros finais demoraram a se completar. Nesta altura passei a acompanhar melhor os números indicados pelo meu GPS. Curiosamente, vale aqui registrar que até a metade da prova, os dados gerados por ele estavam batendo rigorosamente com os quilômetros informados pela organização. Posteriormente, os números ficaram descompassados e fui percebendo que estava correndo um pouco mais.
                Não sei o que pode ter acontecido. O fato é que os 195 metros finais custaram muito a chegar. Lembro-me de ter emparelhado com outro corredor já no final da prova. Ele me falou: “ - Acho que já estamos chegando!” Olhei para o GPS, vi os números e lhe disse: “Só restam 200 metros! Depois daquela curva, já avistaremos o portal de chegada. Aí é aprumar o corpo e correr para o abraço e para a foto!”
                Que nada! Esses 200 metros custaram muito a chegar. Ainda tínhamos muito chão pela frente, quando meu GPS acusou os 42.195 metros. Essa questão tem sido muito debatida entre os especialistas em corrida do Brasil. Tem sido muito comum os GPS não baterem com a quilometragem oficial da provas. Normalmente eles acusam uma rodagem um pouco maior.
                Em uma maratona, por exemplo, seria de se esperar que o GPS marcasse de 100 a 200 metros a mais do que a medida oficial da maratona. Infelizmente meu GPS marcou 42.616 metros. Cerca de 400 metros de corrida a mais. Em 2011 aconteceu a mesma coisa.
                Infelizmente está se tornando comum: mais uma prova onde os dados gerados pelo GPS não batem com a marcação oficial do evento. Uma pena para uma das maratonas mais importantes do Brasil. De qualquer forma isso não tirou o brilho da corrida e nem reduziu a sensação de superação de mais um importante desafio.  


Uma Maratona Fria e Silenciosa

                Para quem correu a Maratona do Rio pela primeira vez, a prova pode ter sido muito bem avaliada. Entretanto, para nós que estivemos lá em 2011, a edição de 2012 foi muito diferente. A forte chuva que caiu pode ter sido uma das responsáveis por isso.
                Como essa edição bateu todos os recordes, especialmente no número de atletas inscritos, a decepção pode ter sido um pouco maior. Fico com pena dos atletas estrangeiros que saíram de sua terra natal para tomar aquele “toró de água” no Rio de Janeiro. Três ou quatro horas de uma ducha fria nas costas, não é nada fácil. É como eu disse: além dos 42.195 metros, um desafio a mais: a chuva.
                De maneira geral a organização da prova foi excelente, desde a retirada dos kits até a disponibilização de meios de transporte para a largada. Os atletas puderam contar com perfeita hidratação, com distribuição de água e isotônicos, em boa quantidade e gelados. Nesse quesito não faltou nada. Infelizmente, diferentemente de 2011 não houve distribuição de carboidrato gel. Sorte minha de ter levado os meus. Quem contou com eles pode ter ficado decepcionado.
                A chuva com certeza apagou muito da beleza cênica da maratona carioca. Desde a largada, a minha sensação foi de total isolamento e, praticamente os atletas fizeram uma corrida silenciosa, onde puderam exercitar bastante o autocontrole e a força do pensamento. Como quase todo o trajeto é realizado a beira-mar, podia-se de longe observar um mar batedor, onde poucos surfistas ousavam se arriscar. Aproveitei estes momentos para pensar positivamente em todas as pessoas que me ajudaram a chegar até ali.
                Nessa corrida isolada e silenciosa, a chuva não deixou sequer que as crianças que costumam simplesmente a saudar os atletas ou a pedirem alguma coisa, como bonés, camisetas, etc., se posicionassem ao longo do caminho. Nem elas vieram.
                Da mesma forma, o público em geral, tão aguardado e presente em outras edições, também não compareceu. Ao adentrar em Ipanema e Copacabana, isso foi fortemente sentido: cadê todo mundo? Eu havia falado para meus colegas que debutaram que eles estariam lá! Onde estão os aplausos e os incentivos de “Força! Falta pouco! Vamos lá!?
                Nem os amigos que se comprometeram a me esperar próximo ao Arpoador, não estavam lá! Restou um grito seco no vazio, em meio a multidão. A foto abaixo, tirada por uma amiga do hotel de onde estava, retrata um pouco desse vazio e solidão, enquanto eu passei pela Praia de Copacabana.

Imagem 13. Eu, passando pela praia de Copacabana - Uma prova fria, isolada e silenciosa!

                Também não houve bandas de músicas espalhadas ao longo do percurso, além das projeções digitais dentro dos túneis. Aliás, a passagem pelos túneis deixou a prova mais silenciosa ainda. Dentro deles, ouvíamos somente o rouco rugir dos carros e o ritmo seco das passadas dos corredores.
                A Maratona CAIXA 2012 do Rio foi exatamente isso. Mas, valeu à pena! Sim, e como valeu!



Considerações Finais

                A temperatura agradável foi determinante para que grande parte dos atletas batesse suas marcas pessoais. Tanto no masculino, quanto no feminino houve quebra de recordes na prova com o atleta queniano Willy Kimutai  vencendo em 2:15:01 e Thabita Kibet em 2:34:41. Para os vencedores foram distribuídos R$ 200 mil em prêmios.
                De forma geral estamos muito contentes, pois nos preparamos adequadamente e conseguimos superar todos os desafios, inclusive driblando os elementos surpresa da chuva e do vento.
                Todos nós conseguimos fechar a prova dentro de um tempo menor do que o planejado, o que também levou-nos a superar as nossas marcas pessoais, o que demonstra que, apesar dos desafios e dos elementos surpresa, a maratona do Rio continua sendo “maravilhosa” e uma das provas mais rápidas do Brasil.


Imagem 14. Uma linda e merecida medalha de participação!

Imagem 15. Superação dos objetivos pessoais.

                Que os ventos possam estar sempre ao seu favor!



Fontes de apoio:

Revista Runner’s World – Edição 38 – Dezembro de 2011.
Revista Contra Relógio – Ano 18 – No. 208 – Janeiro de 2011.




8 comentários:

  1. Parabens mais uma vez pelo relato. Desta vez sobre uma grande prova e que trouxe para todos nos um grande aprendizado atraves da experiencia de correr 42 km sob chuva. VQV.

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  2. Rene,
    Cada prova, um novo aprendizado. Na Maratona do Rio foram vários!
    Mais um desafio superado. Vamos em frente! Abraços!

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  3. Belo relato, Nilo! Parabéns por ele e pela sua excelente participação e resultado no Rio. Espero que possamos estar juntos novamente lá no próximo ano. É uma prova de que gosto demais, com sol ou com chuva.

    Abraços!

    Fábio Namiuti

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    1. Valeu Fábio. Muito obrigado pelo feedback. Você tem razão, faça sol ou faça chuva, é uma prova imperdível. Também espero estar lá novamente em 2013.
      Um forte abraço!
      Nilo

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  4. DONIZETTE (TRINDAD-GO)

    PARABENS,, Grande atleta e ESCRITOR de MARATONA,,,
    foi exatamente isso aí seu relato foi claro. Foi linda, já estou com saudades de tudo de novo. espero estar juntos novamente para esta e outras mais, levando nosso grupo GIRAMUNDO á participação em grandes eventos como este. um forte abraço...

    QUE O VENTO ESTEJA SEMPRE A NOSSO FAVOR...

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  5. Valeu Doni!
    Obrigado pelos comentários! Você também se superou muitos obstáculos para estar nesta Maratona. Fazer um tempo de 3h não é para qualquer um. Exige-se muita dedicação e preparo. Você soube muito bem superá-los!
    um grande abraço e tenha pela frente ótimas corridas e, "que o vento sempre esteja a seu favor!"
    Um grande abraço!
    Nilo

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  6. Grande Nilo e colegas do grupo, parabéns pela excelente corrida, agora o relato do Nilo esta cada vez melhor, já pode publicar um livro hein, grande abraço e continue firme em seus objetivos.
    Advaldo.

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    1. Advaldo, muito obrigado pelo feedback. Cada corrida, uma história, um novo aprendizado. Numa maratona, temos váriás. Há um ditado que diz "Correr e escrever, é só começar!". Logo, logo, eu é que quero ver os seus relatos.
      Um grande abraço!
      Nilo Resende

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