segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tênis de Corrida


Qual o modelo ideal?

                Os calçados, de uma forma geral, se constituem de um aparato tecnológico criado para melhorar a qualidade de vida do ser humano que, ao longo de sua evolução, precisou se adaptar a diferentes tipos de terrenos e necessidades.
                Nossos ancestrais costumavam andar e correr descalços. Nos dias de hoje, pode parecer um absurdo pensar na idéia de correr descalço, mas, há uma forte tendência nesse sentido, inspirada principalmente pelas idéias lançadas pelo jornalista Christopher McDoughall, após o lançamento de seu livro “Born to Run. Ele defende a idéia de que com os pés descalços, as pernas e os pés se ajustam “instintiva” e automaticamente, para diminuir o impacto e, assim, reduzir o número de lesões.
                Na categoria de calçados, os modernos tênis de corrida também fazem parte de uma evolução tecnológica criada para corrigir uma série de desvios em tipos de pisadas e proporcionar aos atletas maior conforto, suporte, estabilidade, simulação dos pés descalços (minimalistas), amortecimento para diferentes tipos de terreno e, até mesmo, um melhor desempenho. São vários modelos tendo por base estas necessidades. 
                No meio de tantas opções, cores e marcas despejadas anualmente no mercado pela milionária indústria do tênis, uma pergunta que naturalmente surge é: - Qual o modelo ideal? Para responder a esta e outras perguntas relacionadas ao tema, deve ficar claro que não existe um modelo universal ideal. Cada pessoa possui necessidades bem distintas umas das outras. Essa é uma riqueza encontrada na diversidade do ser humano.
                Assim, o que é bom para um, pode não ser bom para o outro. Essa é grande uma verdade. Não é porque um determinado modelo de tênis está em moda, que ele pode servir a todas as pessoas. Recorre-se aqui àquela velha temática: o melhor a se fazer é experimentar! Portanto, o ideal é você, pessoalmente, avaliar os diferentes modelos ou marcas.
                Uma série de fatores pode interferir nessa avaliação: o biótipo do atleta, a postura, tipo de pisada, peso corporal, objetivos, se é para treinos ou provas (em percursos curtos ou longos), tipos de terreno (asfalto, trilhas...) etc.
                Acima de tudo, é necessário exercitar o autoconhecimento. Para ajudá-lo nessa árdua tarefa conta-se com o auxílio de técnicos, profissionais da área ou pessoas mais experientes, além de diversos serviços relacionados a esse assunto que encontram à disposição dos interessados na internet ou em revistas especializadas.
            Hoje se reconhece que o uso de um modelo de tênis adequado às necessidades básicas do corredor, pode ajudar a evitar lesões, prolongar a sua vida na prática do esporte e, ainda, melhorar o seu desempenho como atleta.
            Os modernos tênis de corrida fazem parte de uma evolução tecnológica, adaptada à ciência do esporte para corrigir uma série de desvios em tipos de pisadas e proporcionar aos atletas maior conforto, suporte e estabilidade.
            São vários modelos tendo por base o atendimento destas necessidades e o oferecimento de uma nova experiência a quem pratica a corrida.  O aumento da oferta e o surgimento de modelos tecnológicos visam atender à crescente demanda de uma população cada vez mais exigente para com a atividade física.
            Entretanto, são tantas opções, cores e marcas despejadas anualmente no mercado, que acabam confundindo os corredores, iniciantes ou não. Responder à pergunta proposta no início deste artigo pode parecer simples, mas não o é.
            Como não existe um modelo universal ideal, o grande segredo, então, está em descobrir quais as suas necessidades básicas como corredor. Assim, o principal objetivo deste artigo é o de ajudar os interessados a entenderem melhor esta matéria para que possam a encontrar uma resposta para esta questão e, assim, realizarem a melhor escolha na hora de adquirir um novo par de tênis.
            Tenham uma boa leitura!


A Evolução dos Sapatos Esportivos


          O registro mais antigo sobre competições de atletismo data de 776 a.C., mas, é certo que os esportes organizados, incluindo provas de pista e de campo foram praticados muitos séculos antes. Desde as primitivas civilizações, o homem já cultivava o gosto de competir, como forma de medir sua força, rapidez e habilidade.
            Os exercícios destinados a aprimorar ou a manter a saúde do corpo, decorriam da própria luta pela sobrevivência. Forçado a enfrentar desde o início, inúmeros obstáculos naturais e, mais tarde, o seu próprio semelhante, o homem apurou seus instintos de correr, saltar e lançar.   


Imagem 1. Figura rupestre de um homem primitivo correndo.
   
            Acredita-se que, da antiguidade até a Idade Média, os calçados serviam apenas para proteção. Competir sem sandálias, com tiras de couro, era sinal da força do competidor.  Força, com certeza, foi o que não faltou para Fidípedes. Segundo a lenda, no ano de 490 a.C., na Grécia Antiga, ele foi o soldado designado para correr os 40 km entre o Golfo de Maratona e a cidade de Atenas para anunciar a vitória do seu exército.
            Foi somente no século 19 que os sapatos esportivos começaram a tomar a forma que conhecemos hoje. Portanto, uma história ainda muito recente. Os primeiros corredores começaram a utilizá-los a cerca de apenas cem anos. De 1890, quando foi criada a primeira empresa especializada na fabricação de tênis, até os dias de hoje,os modelos foram se tornando cada vez mais tecnológicos, leves, arejados, resistentes e “inteligentes”. A evolução história das marcas esportivas que conhecemos atualmente também é muito recente.
            Na cronologia descrita abaixo, estão elencados os principais eventos que impactaram a evolução tecnológica das marcas e calçados esportivos:


1906 – O ex-garçom e imigrante inglês William J. Riley ao ajudar pessoas com problemas ortopédicos cria a New Balance na cidade de Belmont, Massachusetts (EUA);
1906 – Rihachi Mizuno e o seu irmão mais novo, Rizo, inauguram a primeira loja da Mizuno em Osaka (Japão);
1925 – Adolf e Rudolf Dassler criam a Gebruder Dassler Schuhfabrik;
1946 – Adolf Dassler utilizando lonas e borracha de artigos do exército produz calçados de Trainning;
1948 – Adolf e Rudolf se separam e criam a Adidas e a Puma, respectivamente;
1949 – Kihachiro Onitsuka funda, no Japão, a Onitsuka Tiger. Em 1977 a empresa passa a se chamar Asics.
1972 – O treinador americano, Bowerman, usa uma máquina de wafles para criar um solado de corrida, que se transforma no primeiro modelo de tênis Nike.
1986 – Surge o primeiro tênis com gel para a corrida, que dá a origem para a série de modelos Asics Gel Cushioning System;
1994 – A Nike começa a patrocinar grandes estrelas do esporte;
1998 – A Mizuno lança a atual versão da placa Wave, sistema com amortecimento e estabilidade em um único componente;
2006 – É criado na Itália, o modelo Vibram FiveFingers, com base no conceito da corrida descalça;
                Fonte: Revista Finisher – Edição 007 – 1º Aniversário – janeiro/fevereiro 2012



Tênis de Perfomance / Casuais e os Impostos


            A corrida ainda pode ser considerada uma modalidade esportiva barata de se praticar. A maioria dos corredores não necessita realizar elevados investimentos. Entretanto, quando se trata de adquirir tênis especializados para a corrida, há uma grande variabilidade de marcas e modelos. O mercado oferece aos praticantes diferentes materiais e tecnologias com uma grande variação nos preços, o que torna a escolha ainda mais difícil.
            Segundo a Runner´s World (A Guerra dos Tênis), o motivo de alguns modelos serem tão caros no Brasil encontra-se no fato de que, desde setembro de 2009, o governo aplica uma sobretaxa de 12,47 dólares a cada par proveniente da China. Esta sobretaxa é uma medida antidumping para proteger a indústria brasileira. Os impostos no Brasil dificultam a vida de toda população que necessita adquirir e importar produtos industrializados.
            Para entender esta questão, é necessário diferenciar os tênis de “uso casual” dos tênis de corrida, também chamados de alta perfomance. Uma parcela expressiva dos tênis fabricados e vendidos no mercado brasileiro são os do tipo “casual”. Já os modelos de alta performance só são produzidos em algumas fábricas na Ásia por questões tecnológicas e de escala. A produção de determinado modelo de ponta é concentrada em uma ou duas unidades no mundo para minimizar o custo de uma mercadoria cara por natureza.
            Assim, a medida antidumping acabou por desencadear uma batalha entre a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) e empresas multinacionais e algumas nacionais, onde o maior prejudicado é o corredor, que fica refém de modelos ultrapassados que ainda são comercializados no país por preços elevados. Da época dessa matéria, aos dias de hoje, a situação até que melhorou um pouco, mas a realidade ainda é essa.
            Para a Abicalçados, desde que a sobretaxa foi aplicada, as fabricantes brasileiras criaram mais de 60000 novos postos de trabalho, sem contar as vagas geradas na cadeia produtiva que inclui curtumes, tecelagens e fábricas de maquinário e borracha. Para complicar a história, a medida também não foi bem-vinda para as empresas brasileiras de material esportivo, detentoras das marcas Penalty, Topper e Rainha, que também importam mercadorias da Ásia.
            Para um corredor assíduo que troca de tênis a cada três meses, a aquisição de equipamentos de ponta fica, cada vez mais, com o custo elevado, o que muitas vezes leva o atleta a adquirir os modelos mais recentes fora do Brasil e com preços muito mais acessíveis.


Tênis: Finalidades e Necessidades


            Cada modelo de tênis é desenvolvido para atender determinadas finalidades e necessidades básicas do corredor, como a de competir, estabilizar o movimento ou amortecer o impacto. Com base nestas necessidades, é possível classificá-los em 06 tipos diferentes:


Competição: Utilizados por corredores em competição de pista ou de rua ou para treinos de velocidade. São muito leves e atendem ao público voltado para resultados. Oferecem pouco suporte para o calcanhar. Dispensam o amortecimento, estabilidade e durabilidade em favor de um peso menor. São utilizados pelos atletas de elite e de baixo peso em treinamentos de velocidades e provas.
Estabilidade: Proporcionam suporte e controle do movimento. Foca nos diferentes arcos do pé, garantindo uma pisada mais estável. Oferecem absorção de impactos reforçada no calcanhar e suporte no centro dos pés.
Amortecimento / Neutros: Indicado para provas mais longas e que dispensam o controle na rolagem do pé. Geralmente os iniciantes sempre começam por aqui. Oferecem o máximo em amortecimento e absorção de impactos em toda a planta do pé.
Mínimos: São feitos a partir de materiais muito leves e que simulam os pés descalços. São extremamente leves e flexíveis. Alguns pesam menos de 170 gramas, comparados com os 350 gramas de outros tipos de tênis. Oferecem apenas o suficiente para proteger os pés de objetos pontiagudos ou cortantes.
Perfomance / Treinos: Possuem certo grau de amortecimento e suporte. Pesam menos de 280 gramas e se encaixam como uma luva.
Trilhas: São apropriados para correr sobre superfícies irregulares. Tendem a serem mais robustos, pelo suporte adicional, altos (para protegerem os tornozelos), podem ser resistentes ou inclusive à prova d’água e, freqüentemente, possuem ranhuras no solado para uma melhor tração.


            Os modelos minimalistas surgem como uma nova tendência em tênis de corrida. Eles simulam a corrida com os pés descalços e possuem como características o fato de serem facilmente dobrados e torcidos pela sua leveza.

 
 
Imagem 2. Modelos de tênis mínimos


Imagem 3. Modelo de tênis mínimos.

            Com relação às necessidades do corredor, os modelos visam atender uma, das três categorias de pisadas, ou a forma com que os pés tocam a superfície:


Supinada: Quando os pés tocam o solo com a parte mais externa da sola.
Pronada: Quando o toque no solo ocorre com a parte interna dos pés.
Neutra: Quando a pisada, desde o toque no solo até a impulsão para o ar, acontece de maneira uniforme, ao longo do solado dos pés.



Imagem 4. Arco dos pés, categorias de pisadas e tipos de tênis.


            Revistas especializadas em corrida, como a Runner´s, O2 e Contra-Relógio, oferecem anualmente “Guias de Tênis” com o objetivo de comparar os modelos mais recentes no mercado e, assim, ajudar os leitores a tomarem as melhores decisões. Os consultores destes guias, geralmente levam em consideração o grau de amortecimento, flexibilidade e de resiliência oferecidos pelos diferentes modelos. 


                                  
A Tendência dos Tênis “Mínimos”

            
             Uma das tendências de consumo mais recente no mercado de tênis, foi o surgimento dos modelos conhecidos como minimalistas. Suas características costumam ser exóticas. Tecnicamente, eles simulam uma corrida descalça. Eles sugerem um movimento mais natural dos pés, o que desenvolve maior força, flexibilidade, além de melhorar o equilíbrio via propriocepção. 


Imagem 5. Modelo de tênis mínimo.

            Os defensores desta tendência argumentam que o uso de calçados “mínimos”, melhora o desempenho, reduz as chances de lesões, estimula o tecido conjuntivo e fortalece o tônus muscular. Há muitos prós e contras com relação a esta tendência.
            A verdade é que o impacto da pisada com e sem tênis são diferentes. Com os modelos minimalistas, o peso do corpo se concentra na planta ou no meio do pé. Com os tênis convencionais, que possuem amortecedores, o peso recai sobre o calcanhar que se apóia primeiro no solo.
            Hoje se sabe que o corredor muda a biomecânica da corrida de acordo com a dureza da entressola do calçado. Esta mesma biomecânica, isto é, a forma como o atleta corre interfere diretamente sobre o seu desempenho e no surgimento de lesões.
            Não há estudos suficientes que possam afirmar se é melhor ou pior correr com ou sem tênis. Os adeptos da corrida com os pés descalços acreditam que os modelos de tênis tradicionais atrapalham a capacidade natural do pé de absorver o choque, fonte das principais lesões.
           Para a maioria dos treinadores, uma corrida com o modelo minimalista tem o seu lugar, como nas distâncias curtas sobre uma superfície segura, o que pode dar aos pés maior força e desenvolvê-los para uma passada mais rápida. Seja uma simples moda, ou não, sem o suporte necessário, a distância ou a superfície da corrida freqüentemente pode causar lesões, incluindo um grande número de fraturas por estresse.
            Infelizmente, durante uma corrida, há muitos riscos escondidos nas superfícies. São cacos de vidros, pedras ou espinhos escondidos sob a grama. Há ainda que considerar as irregularidades de piso, o que podem aumentar a severidade de alguns traumas. Não se pode esquecer que os tênis modernos, possuem décadas de pesquisas ortopédicas, desenvolvidas para demonstrar que determinadas tecnologias podem proteger os pés de grande parte dos problemas relacionados à superfície.
            Vale aqui ouvir a experiência de um grande corredor. Vanderlei Cordeiro de Lima (ex-atleta de elite e medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas 2004), em depoimento à revista O2, conta que, desde criança, nunca teve o hábito de correr descalço. Ele usava o que existia na época. Na década de 80 ele ganhou um tênis Nike de atletismo importado. Deste dia em diante, ele constatou que um bom tênis pode melhorar muito o rendimento. Da mesma forma, um tênis ruim, causando bolhas, dor ou irritação também pode prejudicá-lo. Neste depoimento, Vanderlei arrematou: “um tênis bom ajuda, porém, de nada adianta um tênis bom sem o devido treinamento”.
            A prática freqüente da corrida, independente do grau de estabilidade, amortecimento e flexibilidade, pode desencadear um grande número de lesões em função dos movimentos repetitivos. A civilização perdeu o hábito de andar descalço. Vale lembrar que é importante passar algum tempo sem o calçado, ou seja, é importante dar um alívio aos pés no final de cada dia. 



A Influência do Tipo de Superfície


            Quando corremos, os pés chegam a suportar de duas a três vezes o peso do corpo a cada passada. Um dos fatores que diminuem ou aumentam esse impacto é a superfície do terreno. Quanto mais rígido, maior o impacto. Maior também a velocidade, pois boa parte da força é devolvida aos pés, aumentando o impulso.
            O corpo vai ter de absorver essa energia e, por isso, é maior o risco de lesões em pontos mais vulneráveis, como as articulações. Uma boa maneira de evitar ou piorar lesões preexistentes é correr com modelos de tênis apropriados para cada terreno e alternar o tipo de piso por onde se corre.
            Por exemplo, o concreto é o mais rígido entre os pisos. É o que oferece mais impacto e, portanto, o menos indicado. Modelos de tênis com bom amortecimento, que ofereçam flexibilidade, proteção contra o impacto e proporcionem maior conforto, já que o piso é muito rígido, são os mais indicados. Por ser uma superfície que desgasta muito o solado, procure produtos de boa qualidade e que tenham um material mais resistente.


Imagem 6. Concreto

Imagem 7. Atletas treinando sob o concreto, a superfície mais rígida.


            Já o asfalto é o que mais se assemelha com as condições de uma corrida de rua. Por ser bastante rígido, ele devolve o impulso da passada e você pode desenvolver boa velocidade. Pode ser usado em treinos de tiro e em longões. O tênis ideal precisa, conferir amortecimento e flexibilidade. Deve ser feito com um tecido respirável. A ventilação do pé é importante porque o asfalto, mais que qualquer outro piso, absorve muito calor.


Imagem 8. Correndo sobre a manta asfáltica.


            A terra batida é considerada por treinadores como o piso ideal para oferecer bom amortecimento. Todavia, não “segura” tanto a passada. É favorável para se realizar treinos longos e de intensidade. Para este terreno, o calçado deve ter um solado com boas ranhuras, para garantir maior tração e diminuir a chance de escorregar.


Imagem 9. Correndo sobre o "chão batido".


            Para esse tipo de terreno, alguns cuidados adicionais: Quanto mais larga for a sola, maior estabilidade. O cadarço deve possibilitar um encaixe justo no pé e a entressola deve ser macia para absorver o impacto de uma pedra ou buraco. O tecido deve ser ventilado e possibilitar a saída de água (caso você passe por um trecho molhado), mas também proteger o pé de galhos. Se o piso for muito irregular, invista em um modelo específico para trilhas.
            Já a areia é instável e submetem os joelhos, tornozelos e quadril a um intenso movimento de torção. Como esse terreno exige força de músculos que costumam ser negligenciados em outros tipos de superfícies, treinar na areia é uma boa opção para desenvolver a força. Também é o solo indicado para estimular a propriocepção (conscientização corporal). 


Imagem 10. Correndo sobre a areia.

            As corridas sobre a areia devem ser curtas. Para algumas pessoas, os tênis mínimos, que simulam os pés descalços, ou não usar nada pode ser a melhor opção. Por ser mais macia, a areia não requer tanto amortecimento. Cuidado para não machucar ou queimar a sola dos pés. Para quem se sente inseguro em correr descalço, um tênis baixo e leve seria o ideal. Se correr perto do mar, dê preferência a modelos com um bom sistema de saída de água.
          Nas pistas de corrida, o terreno costuma ser sintético e não traz muitas surpresas ou irregularidades, pois, normalmente, não há buracos, raízes escondidas ou nem meios-fios. Na pista há mais amortecimento que o asfalto, mas não é tão macia a ponto de provocar instabilidade. É uma ótima superfície para realizar treinos de velocidade e útil para quem precisa marcar a quilometragem exata. O material da pista é feito especialmente para tracionar as travas das sapatilhas dos corredores de alto desempenho. Se não é o seu caso, e você usa a pista para treinos, não dispense o amortecimento e a estabilidade, especialmente se ela estiver desgastada.


Imagem 11. Correndo sobre uma pista de corrida sintética.


            Na grama, a maior parte do impacto é absorvida pelo chão em vez de voltar para a perna. Por isso, ela é uma boa opção para quem quer gastar mais calorias e trabalhar a musculatura. Indicada para treinos intervalados ou fartleks (ritmos variados). Prefira modelos com ranhuras no solado e bom sistema de tração. Por ser um terreno mais macio, a grama não pede tanto amortecimento, mas o tênis deve oferecer boa estabilidade.


Imagem 12. Correndo sobre a grama.


            Já a esteira oferece uma superfície amortecida, o que reduz o estresse nas costas, quadril, joelhos e pés. É um caminho livre de obstáculos e uma boa opção para quem tem pouco tempo e para quem quer controlar tempo de exercício, freqüência cardíaca e velocidade. Um modelo de tênis mais simples e que ofereça bom equilíbrio, amortecimento e estabilidade é uma boa opção.


Imagem 13. Correndo sobre a esteira.



Qual a marca de Tênis Preferida?


            Durante os meses de abril e maio de 2011, o “Jornal Corrida” conduziu uma pesquisa para saber qual a marca de tênis preferida entre os atletas. Foram entrevistadas 300 pessoas. Algumas foram abordadas na USP (Universidade de São Paulo), outras em provas realizadas na capital paulista e 50% delas responderam por meio de enquete nas mídias sociais.
            Apesar da pequena amostragem, é possível ter uma idéia das marcas mais utilizadas. Os resultados encontrados apontam que Asics, Mizuno e Nike encontram-se entre as marcas mais preferidas. Resultados semelhantes também são confirmados em outras pesquisas. Isso não significa que elas sejam as melhores opções para você, pois, muito desse desempenho comercial, pode ser atribuído a campanhas de marketing bem sucedidas.


MARCA
PARTICIPAÇÃO
Asics
35 %
Mizuno
24 %
Nike
20%
Adidas
8 %
Saucony
5 %
Outras*
1 %
* Entre as outras marcas estavam: Newton / Brooks / Puma / Reebok / Fila / Olympikus / KSwiss / New Balance com 1% para cada uma delas.


            No meio de tantos modelos e marcas, qual seria mesmo o modelo ideal? Para responder a esta pergunta, se deve deixar claro: não existe um modelo universal ideal. O melhor a se fazer é conhecer as suas necessidades básicas como corredor, conforme apontado anteriormente e, é claro, experimentar!
                Para ajudá-lo a realizar a melhor escolha, considere ainda as sugestões abaixo:


Conheça os seus pés. Como eles são? Normal, plano ou cavo? Conheça qual o seu tipo de marcha, i.e, pisada. É neutra (alinhada), para dentro (hiperpronação) ou para fora (supinação)? Além dos métodos observacionais que um profissional da área pode lhe oferecer, hoje, conhecer o seu tipo de pisada, isto é, se é pronada, neutra ou supinada, ficou mais fácil, pois também há serviços disponíveis nas lojas especializadas, sites e revistas que podem auxiliá-lo na escolha do modelo correto.
Ouça opiniões diferentes (amigos, revistas especializadas, internet). Quanto mais você souber, menores serão as chances de errar.
Não se arrisque com marcas desconhecidas. Não vale a pena economizar na qualidade do material. Também, nem sempre o modelo mais caro é o melhor.
Cuidados com os vendedores, eles se aproveitam da falta de experiência de alguns corredores para oferecer produtos mais caros.
Os mais bonitos nem sempre são os melhores.
Teste o modelo desejado. Não adianta só ter as melhores informações (revistas, internet, opiniões de terceiros...). É importante saber se ele é de fato confortável e, para isso, você deve testá-los. Assim, mesmo que compre pela internet, antes de adquirir o seu par de tênis, vá até uma loja e teste o modelo desejado.
Olhe-o por dentro para descobrir possíveis defeitos de fabricação. Uma costura ou uma borracha podem prejudicar seu desempenho e ferir os seus pés. Não se arrisque. Não compre um tênis novo e vá testá-lo durante uma prova.
Pesquise os preços e até aproveite as promoções! Uma ótima forma de economizar, sem abrir mão da qualidade, é adquirir os tênis de modelos anteriores.
O melhor horário para testar um tênis é no fim do dia, ou após o treino, quando o pé está mais inchado.
Como a corrida incha os pés, o indicado é sempre comprar um número maior do que o que você está acostumado. Deixe pelo menos 1,5 cm de folga na ponta para evitar apertos.
Experimente um tênis novo com o tipo de meia que você normalmente utiliza durante a corrida.
É aconselhável ter modelos de tênis diferentes para atender as suas necessidades. Tenha um para o seu treinamento específico, outro para realizar os trotes, outro para competições. O que justifica possuir mais de um modelo é o fato de que, cada tipo de terreno exerce um impacto diferente na corrida.


            Com tantas dicas, é hora de colocar “os pés à obra”. O mercado dispõe de vários modelos de tênis, com diferentes tecnologias e preços. Com certeza haverá algum que se encaixará em seu perfil. 
            Infelizmente, salvo poucas exceções, a maioria das lojas de materiais esportivos do Brasil não possui vendedores preparados para oferecer o melhor conselho para a sua compra. Uma conversa com o seu treinador, colegas mais experientes ou uma visita a um ortopedista, pode ajudá-lo a conhecer melhor o seu tipo de “pisada”.
            Hoje, há alguns serviços online que mostram os cuidados, preços médios, onde encontrá-los e, até mesmo, como amarrar o seu tênis. Vale a pena pesquisar. A seguir estão algumas sugestões:


           

Quando aposentar o seu velho companheiro de corrida!


            Outro ponto importante está em determinar qual é a durabilidade de um tênis. Tão importante quanto escolhê-lo é saber quando aposentá-lo. Uma causa comum de lesões é correr com tênis desgastados. Alguns sinais, como desgaste da sola, são bem claros. Entretanto, mesmo um tênis parecendo novo pode já ter perdido grande parte da capacidade de amortecimento.
            Em geral recomenda-se substituí-los entre 560-880 km de uso. Se você está voltando de uma fratura por estresse, seria prudente aposentá-lo antes, isto é, entre 560 e 640 km. Corredores pesados também podem ter que trocar o tênis mais cedo. O ideal seria os corredores possuírem dois ou três pares para utilizá-los alternadamente.
            Um ponto importante está em saber se, ao "descansar" o tênis, ele teria mais tempo de recuperar sua capacidade de amortecimento. Alguns especialistas afirmam que é preciso apenas seis horas. Outros sustentam que seriam necessárias 48 horas para o calçado recuperar seu amortecimento. Apesar da polêmica, há outras razões para revezar dois ou mais pares.
            Em um país de clima tropical, como o Brasil, os calçados tendem a ficar molhados depois de um treino em dia quente e úmido. Ao revezá-los, eles terão mais tempo para secar totalmente. Outro argumento é que, alternando tênis de características um pouco diferentes, você alterna o estresse que seu corpo sofre a cada treino.
            Ainda se deve atentar para o uso do tênis no terreno para o qual ele foi projetado. Por exemplo, um tênis de trilha, não deveria ser utilizado no asfalto. Da mesma forma tênis que não são da categoria trilha, não duraria muito se fossem usados em terrenos acidentados.
                Uma grande verdade é que, usar tênis de corrida inadequados, ou gastos, pode levar a uma série de problemas na forma de lesões. Por isso, muito cuidado ao fazer a sua escolha. Se sentir que algo está errado, descarte o modelo.
                Mais um ponto importante: ao descartar um tênis ou doá-lo, cuidado, especialmente se você possui desvios de pisada e observar que ele gastou mais de um lado do que o de outro. Pode parecer absurdo, mas, às vezes é melhor jogar o modelo fora, pois poderá causar problemas àquele que o estará recebendo. Caso contrário, dê outra finalidade ao velho par de tênis, como utilizá-lo para passeio, não permitindo que ele seja utilizado para treinos ou corridas.
            Para aqueles que gostariam de ouvir a opinião de um especialista no assunto, sugerimos acessar ao vídeo produzido pela Oxigênio TV no link abaixo. Nele, a Dra. Ana Lucia de Sá Pinto, fala sobre os principais aspectos que o corredor deve levar em consideração ao comprar um tênis para corrida.


           
            Esperamos que estas sugestões sejam úteis.
            Nos vemos nas próximas corridas.


Fontes de Apoio:



http://www.webrun.com.br/home/guia/tenis
McDougall, Christopher – Nascido para Correr: a experiência de descobrir uma nova vida; tradução de Rosemarie Ziegelmaier – São Paulo : Globo, 2010.

3 comentários:

  1. tudo que você sempre precisou saber sobre tênis agora está aqui,super útil, esclarecedor, além de histórico.

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  2. Matéria excelente, difícil achar uma tão completa assim na internet, estão de parabéns!

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  3. muito boa esta materia, li e reli 3 vezes, e falando em sapato de corrida, voces sabiam que o grande corredor tcheco EMIL ZATOPEK, campeão olimpico no começo de carreira fazia seus treinos em floresta com neve correndo de coturno militar pois assim se sentia mais rapido e leve quando usava sapatilhas de corrida.

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