Para Sempre Corredor

A Corrida na Terceira Idade: O Cenário Brasileiro

ABSTRACT:  "Running Forever" - The main objective of this paper is to analyze the participation of senior athletes in running events, using as a source of research data results from some major U.S. marathons, as the number of participants, age categories and records achieved. To assess the reality of Brazil, we present numbers from a middle distance race, however, is by far one of the largest road races in the country, The São Silvestre. Finally, we analyze the data provided by the magazine Contra Relógio for the formation of the Brazilian Top Marathoners 2012.

             O universo da corrida exerce fascínio sobre o ser humano, independente de ser ou não um corredor. Paralelamente ao fascínio, a prática da corrida cria também um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que ela liberta o seu praticante das garras do sedentarismo, ela também escraviza, deixando o seu praticante totalmente dependente dela. Tal qual um vício, somente angariar-se-á dos seus “efeitos”, durante a pratica da atividade.

                A corrida pode surgir na vida das pessoas em diferentes fases da vida. Surge naturalmente na infância, na forma de jogos e brincadeiras; na juventude, para atender a alguma demanda curricular ou em situações específicas e; na fase adulta e até mesmo na terceira idade, como uma necessidade para a manutenção da saúde. Independente da fase, a corrida pode e deve ser feita com prazer.

Imagem 1. O atleta canadense Ed Withlock aos 80 anos de idade

                 Neste universo, é comum indagar: - A idade exerce algum papel limitante? Até quando podemos correr? Não há uma resposta certa para essa questão, tendo em vista que cada ser humano é biologicamente único e diferente um do outro. Cada um desenvolve, ao longo da vida, suas próprias limitações, ao mesmo tempo em que responde de forma diferente aos mesmos estímulos físicos.

Imagem 2. Atletas seniores durante uma prova

                Hoje se sabe que quanto mais cedo se incorporar a prática da atividade esportiva, especialmente a corrida, ao seu estilo de vida, mais rapidamente, se estará atuando para retardar os efeitos implacáveis do envelhecimento, e ao mesmo tempo, o surgimento de limitações físicas futuras.

                Apesar de parecer contraditório, tudo parece indicar que a idade não exerce um papel limitante para se incorporar a corrida ao estilo de vida. Talvez, o exemplo mais extremo que se pode citar atualmente, seja o do “corredor de turbante”, o indiano Fauja Singh e do atleta canadense Ed Withlock. Singh, aos 101 anos, ainda corria maratonas. Já Withlock, aos 80 anos completou a Maratona de Toronto com incríveis 3h15min50seg, estabelecendo um novo recorde para a idade.

Imagem 3. Fauja Singh, aos 100 anos de idade: "O Corredor de Turbante"

Imagem 4. O corredor americano Jack Kirk: "O Demônio de Dipsea", correu até os últimos dias de sua vida.

                Felizmente não precisamos ir ao extremo para confirmar esse fato. Basta analisar os resultados das principais provas de corridas de longa distância pelo mundo, como as Maratonas de Chicago, Nova York, Londres, Berlin e Boston e verificar a quantidade de atletas na terceira idade participando destes eventos e ainda sendo muito competitivos, mesmo quando comparado a atletas mais jovens. 

Imagem 5. A Monja triatleta na terceira idade, se superando durante uma prova.

                         

                 O principal objetivo deste artigo é o de fazer um resgate sobre essa questão, utilizando como fonte de pesquisa uma síntese dos resultados de algumas das principais corridas de longa distância americanas, com informações sobre números de participantes, categorias, idades e recordes alcançados. Os dados estão compilados em tabelas e destacados de acordo com as faixas etárias.

                Para avaliar a realidade do Brasil, apresentamos números de uma corrida de média distância, porém, é de longe, uma das maiores corridas de rua do país, a São Silvestre. Para finalizar, são analisados os dados disponibilizados pela Revista Contra Relógio para a formação do Ranking Brasileiro de Maratonistas de 2012.

Maratona de Nova York 2011

               

               A Maratona de Nova York em 2011 contabilizou 47.083 concluintes. Destes, 29.872 (63,5%) eram do sexo masculino e, 17.211 (36,5%) do sexo feminino. Os números indicam que as mulheres se lançam em provas de longa distância mais cedo do que os homens, isto é, a partir dos 25 anos. Em ambos os casos, os atletas mais competitivos estavam entre os 25 a 34 anos. Houve maior concentração na participação de homens entre a faixa etária de 35-54 anos, enquanto que no caso das mulheres, a maior concentração foi entre 25 a 49 anos.

                Com relação a atletas na terceira idade, foram 1.658 homens (5,5%) na faixa etária de 60 a 89 anos. De maneira impressionante, houve atleta de entre os 60 a 64 anos fechando a prova em menos de 3 horas, além de outros correndo com tempo abaixo de 3h30min.  No grupo das mulheres foram 410 atletas entre 60 a 89 anos (2,53%). Algumas delas concluíram a competição abaixo de 03h40min.

Maratona de Boston 2012

               

                   A Maratona de Boston, considerada uma das maratonas mais tradicionais do mundo e uma das mais exigentes em termos de índice classificatórios, em 2012 contabilizou aproximadamente 21.616 concluintes, sendo 12.621 homens (58,4%) e 8.995 mulheres (41,6%). Um bom equilíbrio entre as duas categorias de participantes. Um cenário raro de ser encontrado no Brasil.

                Um dado curioso para esta edição da competição foi a enorme participação de atletas jovens e muito competitivos por sinal. Foram esmagadores 34,3% (homens) e 51,1% (mulheres) jovens na faixa etária entre 18 a 39 anos. Ainda destaca-se uma maior concentração de homens na faixa etária de 40 a 54 anos, enquanto que no grupo das mulheres, predominou as atletas entre 40 a 49 anos.

                 Com relação a atletas seniores, foram 1051 homens (8,32%) e 228 mulheres (2,53%) na faixa etária entre 60 a 80 anos.  Entre os homens, houve atletas que conseguiram concluir a prova abaixo de 3h30min e, entre as mulheres, houve quem conseguisse finalizar a competição abaixo de 3h45min, mesmo estando na faixa etária entre os 60 a 64 anos.

Maratona de Chicago 2011        

               

             A Maratona de Chicago em 2011 envolveu aproximadamente de 35.755 concluintes. Foram 20.284 (56,7%) homens e 15.471 (43,3%) mulheres. Também um bom equilíbrio entre as duas categorias. Novamente, um cenário difícil de ser encontrado no Brasil

                  Os atletas masculinos mais rápidos se encontravam na faixa entre 25 a 29 anos, enquanto que no grupo feminino estavam na faixa etária de 30 a 34 anos.  No grupo masculino, houve uma maior concentração e equilíbrio de participantes entre a faixa etária de 25 a 49 anos, enquanto que no grupo feminino a maior concentração ficou entre os 25 a 44 anos.

              Considerando os atletas na terceira idade, a faixa etária entre 60 a 90 anos reuniu 681 participantes do sexo masculino (3,35%) e 159 (1%) do sexo feminino. Houve atletas do sexo masculino, entre os 65 a 69 anos que conseguiram concluir a prova com o tempo abaixo de 3h10min. Da mesma forma, houve uma mulher que fechou a prova com o tempo abaixo de 3h11min, mesmo estando na faixa etária entre os 60 a 64 anos.

São Silvestre 2010 e 2011

          

               Mesmo no Brasil, ao participar de corridas de rua por aí, ficamos encabulados ao nos deparar com o grande número de corredores seniores. Basta checar os resultados de provas como a “São Silvestre” ou a “Tribuna”. São milhares de “seus Franciscos, Zés, Antônios ou donas Marias” espalhados por aí.

                Apesar da São Silvestre e Tribuna não possuírem um percurso tão longo quanto uma maratona, no Brasil, são as que envolvem o maior número de participantes. Por lá, é muito fácil se deparar com atletas na faixa etária entre os 60 a 80 anos correndo e, correndo muito bem, diga-se de passagem.

                Abaixo, são apresentadas duas tabelas contendo os resultados por faixa etária da tradicional prova de São Silvestre entre 2010 e 2011. Em 2010 o recorde pertenceu a Marilson Gomes dos Santos (44min02seg) no masculino e Alice Jemeli Timbilili (50min19seg) no feminino. Em 2011, o recorde foi de Bekele Tariku (43min35seg) no masculino e de Jeptoo Priscah (48min48seg) no feminino.

                Em 2010 houve uma maior concentração na participação de homens entre os 30 a 54 anos, enquanto que, no grupo das mulheres, foi entre 25 a 54 anos. Esse dado se repetiu em 2011. Porém, no grupo feminino, a maior concentração de participantes observada foi até os 49 anos, demonstrando que os homens continuam correndo por mais tempo. Tanto em 2010, quanto em 2011, confirmou-se um maior número de mulheres mais jovens se lançando no mundo da corrida, isto é, a partir dos 25 anos.

                Considerando os atletas da terceira idade, observem também que, em 2010, um total de 1053 homens (7,2%) e 154 mulheres (1,7%) entre 60-90 anos participaram dessa prova de 15 km. Já em 2011, foram 1162 homens (7,7%) e 179 mulheres (4,8%) nesta mesma faixa etária.

                Os números acima retratam a realidade da tradicional prova de São Silvestre, uma prova de média distância. Todavia, quando se trata de longa distância no Brasil, os números, em termos percentuais, também não são muito diferentes.

Ranking Brasileiro de Maratonistas 2012

               Em janeiro de 2013, a Revista Contra Relógio divulgou uma listagem contendo o Ranking Brasileiro de Maratonistas 2012. O Ranking relaciona os melhores corredores (as) brasileiros, classificando-os por faixas etárias. Para tanto, considera-se tempos-limite menos rigoroso do que os exigidos pela Maratona de Boston.

                O ranking evidencia um equilíbrio na concentração de participantes de ambos os sexos entre a faixa etária de 30 a 54 anos. Portanto, em se tratando de longa distância, o envolvimento de homens e mulheres é equilibrado. Eles se lançam nesta modalidade a partir dos 30 anos e tendem a continuar até os 54 anos. 
                Os achados desse ranking são bem interessantes e evidencia dois pontos importantes: 1) a vida na corrida, para muitos atletas, inicia-se aos 40 anos; 2) evidencia-se que há uma participação maior de homens correndo na terceira idade. Dos 2.979 maratonistas do sexo masculino, mais competitivos, 235 (7,9%) estão entre os 60 a 80 anos. No feminino, apesar de ainda haver um grande potencial de crescimento, das 541 atletas, apenas 18 (3,3%) se encaixavam dentro desta categoria. Portanto, um potencial a ser desenvolvido.

                Infelizmente, as fontes de pesquisa sobre corridas de rua no Brasil são muito limitadas. Os dados ora não estão disponíveis, ora são muito confusos. Por isso, não foram consideradas outras provas importantes realizadas pelo país. Assim, deixamos de avaliar a Corrida da Tribuna e maratonas como a do Rio, São Paulo e Porto Alegre, o que pode limitar nossa conclusão. De qualquer forma, avaliou-se a maior corrida de rua do país e, também, uma das mais representativas, a São Silvestre. Por outro lado, é creditada ao Ranking Brasileiro de Maratonistas do Brasil 2012 uma grande confiabilidade.

                            

               

                 A seguir, com base no número de participantes nas provas mencionadas acima e, de acordo com os dados disponibilizados pelas diferentes fontes disponíveis, encontra-se um resumo com as principais achados relacionados à participação de atletas, em diferentes categorias e faixas etárias, especialmente os da “melhoridade”, isto é, seniores, o que permitirá inferir algumas observações.

CONCLUSÃO:

               Inicialmente, os dados apresentados permitem concluir que a participação de mulheres corredoras no Brasil, principalmente em provas de média distância, ainda é muito incipiente. Os números sugerem que elas tendem a se lançar no mundo da corrida muito mais jovem do que os homens, isto é, a partir dos 25 anos.

            Novas pesquisas podem apontar se isso também é válido para as corridas de curta distância. Porém, quando se fala em longa distância, a participação entre homens e mulheres tende a se equilibrar. Nos EUA, onde a prática da corrida de rua se encontra mais desenvolvida, é possível perceber uma situação de quase-equilíbrio entre os atletas de diferentes sexos. 

                Para empresas do ramo e agências organizadoras de corridas de rua, há um grande potencial a ser desenvolvido junto ao segmento feminino no Brasil. Para as mulheres, atletas ou não, os números também apontam para uma grande oportunidade, especialmente para quem desejar se destacar nas provas realizadas pelo país. Como o nível de competitividade dentro das faixas etárias não costuma ser muito rigoroso, há grandes chances delas subirem ao pódio.

                Com relação aos atletas na terceira idade, isto é, entre os 60 a 80 anos, principal tema dessa investigação, em termos percentuais, os números nacionais demonstram que, independente do sexo, eles continuam participando ativamente das provas.

               Na categoria masculina, na faixa etária analisada, observa-se que cerca de 7 a 8% dos corredores continuam sendo muito competitivos. Na categoria feminina, essa participação fica entre 3 a 5%. Os dados apontam que há uma maior concentração na participação de atletas até por volta dos 54 anos. Os homens tendem a continuar correndo por mais tempo. Independentes disso, esses mesmos números também sugerem que muitos de nossos queridos “vovôs” e “vovós” continuam correndo por aí, ativamente.

                Entretanto, a investigação continua:

                - Como conseguem chegar a essa idade com tanta vitalidade e ainda com disposição para correr?

                - Teriam eles encontrado a fórmula da juventude?

         

 Fontes de Apoio:

KING, Ana; MAINOUS, Arch G; GEESEY, Mark E. - Turning Back the Clock: Adopting a Healthy Lifestyle in Middle Age. Department of Family Medicine, Medical University of South Carolina, Charleston, SC.

http://well.blogs.nytimes.com/2012/09/05/the-benefits-of-middle-age-fitness/

Estatuto do Idoso

Revista Contra Relógio – Ano 18 – No. 199 – Abril 2010

Revista Contra Relógio – Ano 19 – No. 219 – Setembro 2011

Revista Contra Relógio – Ano 19 – No. 219 – Dezembro 2011

Reista Contra Relógio – Ano 20 – No. 232 – Janeiro 2013

Revista O2 – No. 097 – Maio 2011

Revista Runner’s World – junho 2011

Revista Runner’s World – outubro 2009

http://www.saosilvestre.com.br/

http://www.ingnycmarathon.org/

http://www.baa.org/

http://www.chicagomarathon.com/