domingo, 11 de setembro de 2011

3ª Meia Maratona EM Movimento 2011


A Meia do Improviso e da Decepção


                A terceira edição da Meia Maratona EM Movimento de Goiânia foi alardeada nos meios virtuais e nas ruas da cidade como aquela que seria a melhor meia maratona do Estado de Goiás. Entretanto, apesar de algumas melhorias em relação à sua segunda edição, o que se viu ainda foi muito improviso e decepção por parte da maioria dos atletas.
                Além do sofrimento infligido pelo forte calor e baixa umidade inerente ao cerrado goiano nesta época do ano, este relato apresenta também alguns detalhes  sobre como os participantes superaram, ainda, a desorganização.
                Para o início deste relato é preciso esclarecer que não é do nosso feitio criticar o trabalho alheio, principalmente se ele está relacionado a uma boa ação ou responsabilidade social. Todavia, em se tratando de uma “prova de corrida de rua”, que envolve de um lado diversos atletas que estão ali para enfrentar grandes desafios e ainda realizar uma atividade saudável e responsável e, do outro, está a organização desses eventos, que precisa ter em mente muito mais que o lucro ou vantagem alcançados com a realização dos mesmos.
                Assim, em uma tentativa de encontrar um equilíbrio para os dois lados, venho relatar a última corrida que participamos, com alguns elogios é verdade, mas, infelizmente, com muitas críticas também, especialmente por saber que estas falhas podem ocorrer em outras tantas corridas realizadas pelo país, onde outros atletas também compartilham esse pensamento e gostariam que de ter alguém que os escutassem ou que lhes fossem solidários.
                Não é porque esta corrida foi idealizada em prol de uma boa causa é que devemos ficar omissos quanto aos pontos de melhoria necessários para torná-la definitivamente uma das melhores do Estado de Goiás. Como corredores participantes, que se inscreveram antecipadamente e, pagaram por sua inscrição, temos o dever de fazê-lo. As críticas e elogios que se seguem, visam única e exclusivamente contribuir para a melhoria das próximas edições.
                Não significa que estamos ficando exigentes, mas, à medida que participamos de grandes provas por este Brasil afora percebemos que é sim, possível realizar estas provas e, ao mesmo tempo, minimizar os inconvenientes para os corredores que pagam caro pela inscrição e que, no mínimo, desejam um bom suporte para concluí-las.
                Ainda hoje, muitos leigos no assunto, chamam uma corrida de rua de 5 ou 10 km de maratona. O desconhecimento de que a verdadeira maratona é realizada em um percurso de 42km195mts, não é culpa deles. O fato é que, Goiânia ainda não realiza nenhuma maratona, mas, temos em nosso calendário duas meias-maratonas, cujo percurso correto é de 21km100mts.
                Uma dessas provas é realizada por uma causa, isto é, idealizada para despertar na população o conhecimento sobre a Esclerose Múltipla. Esta prova, que comentaremos a seguir, tem ocorrido entre os meses de agosto e setembro. Por ser uma enfermidade incapacitante, é sem dúvida alguma, uma boa causa para se correr.  A outra “meia” é realizada em comemoração ao aniversário da cidade, que ocorre no dia 24 de outubro.
                Assim, o objetivo deste relato é comentar como foi a experiência de ter participado da terceira edição da Meia Maratona EM Movimento (aqui EM também equivale à Esclerose Múltipla). Particularmente, participei das duas edições desta prova, ambas realizadas em percursos diferentes, mas, com uma característica semelhante: o envolvimento de duas vias expressas (ida e vinda) da cidade, na maior parte do percurso. A Marginal Botafogo, que fez parte do percurso original, gera nos corredores uma percepção de uma altimetria mais amigável. Em função de obras, ela teve que ser substituída por outra via, a Avenida Leste-Oeste, que apresentou uma altimetria mais exigente e fez parte do percurso deste ano.

 

A Esclerose Múltipla (EM)


                A esclerose múltipla (EM), razão da existência desta prova, é uma enfermidade degenerativa considerada como uma doença autoimune, cuja causa depende vários fatores. Sua evolução pode ocorrer por surtos e, ainda, deixar deficiências neurológicas. Afeta principalmente os jovens entre 20 e 40 anos e, principalmente, mulheres. É predominante em pessoas de pele clara, mas também acomete os afros descendentes. Acredita-se que, no Brasil, existem cerca de 15 a 18 pessoas com EM a cada cem mil habitantes.
                Os principais sintomas da EM incluem a perda da visão, da audição, ausência de coordenação motora, paralisias, dormências, dificuldades para falar e perda do controle para realizar as necessidades fisiológicas. A EM não tem cura, mas, há tratamento, que deve ser iniciado o mais breve possível em função de envolver seqüelas neurológicas. Assim, o diagnóstico precoce é muito importante para assegurar a qualidade de vida.

 

A Pré-Corrida


                As inscrições para essa corrida puderam ser feitas tanto em um local fixo quanto pela internet. Optei por fazer a inscrição pela internet. Como assinantes da Revista Contra Relógio, paguei R$45,00. Fui penalizado por ter feito a inscrição antecipadamente pois, vários companheiros doa asfalto de meu grupo, conseguiu nos últimos dias, fazer a inscrição a R$30,00. Ah, mas vamos lá! Estamos correndo por uma causa, não é verdade? Todavia, isto está virando mania no Brasil. Quem realiza uma inscrição antecipadamente, acaba sendo mais onerado, ou seja, paga mais caro! Essa é uma crítica que espero que tenha mais adeptos, pois se você é um corredor constante e movimenta as provas realizadas em sua cidade, bairro ou país, isso precisa ser levado em consideração.

A Retirada do kit


                Logo no sábado pela manhã, durante a retirada do kit já foi possível verificar os problemas: a falta de controle em saber quem iria correr 5, 10 ou 21 km. Assim, à medida que os atletas iam chegando ao local e, isto aconteceu comigo, eram orientados a se dirigirem até uma mesa onde havia uma lista com alguns nomes, para checagem.
                Neste momento já surgiu um complicador: percebi que os nomes de muitos corredores, já inscritos, não constavam dessa relação, como foi o meu caso. Nesta ocasião, um staff anotava os dados do corredor em uma folha (olha que eu já tinha feito antecipadamente minha inscrição pela internet) e pedia um tempo para checar em outro local. Isso foi gerando um tumulto ao longo da manhã.
                Em seguida, o atleta estava apto a pegar o kit. Entretanto, surge outro problema. Já era 11h da manhã de sábado e a remessa de camisas de tamanho “M” havia acabado, restando somente os tamanhos “P” e “G”. Pediram para voltar mais tarde. Voltei e tive que me contentar com uma camisa do tamanho “P”. Tudo bem! Afinal vamos correr por uma causa!
                Se para pegar o kit já foi esta confusão, imagina só como foi para pegar o chip e número de peito, que seriam entregues no domingo pela manhã, antes da largada, que estava prevista para ocorrer as 07h30min. Conclusão: às 06h30min eu estava lá.
                Outra incoerência encontrada é que foram confeccionadas camisas na cor preta, azul e cinza. A cor preta, não precisa explicar, absorve todo o forte calor deste início de setembro. Usar roupa preta, no sol  do cerrado, com a umidade relativa do ar beirando os 7% é no mínimo uma irresponsabilidade.

 

O dia da Corrida


                Como bom mineiro que sou, procurei chegar bem cedo para retirar o número de peito e o chip, temendo que talvez tivesse de enfrentar uma longa fila. Logo na chegada, vimos um tumulto de corredores que se aglutinavam diante de uma listagem fixada na porta de uma igreja, tentando localizar o seu nome na listagem, bem como qual seria o seu número de peito. Isso logo no início da manhã. Imagina só como ficou quando um número maior de corredores chegou.
Foto: Fernanda Elisa

                Enfim, de nada adiantou chegar mais cedo, pois mesmo sendo um dos primeiros da fila, fiquei ali, em pé por mais de 40 minutos, para a retirada destes itens. Isso resulta em qualquer um, uma grande insatisfação. Conseqüentemente às 07h10min a corrida foi adiada para às 08h30min – Repito, com o sol a pino.

Foto: Fernanda Elisa

                Os maiores prejudicados deste atraso, sem dúvida alguma, seriam os corredores do percurso maior (21 km), que ficariam mais tempo expostos ao forte calor e a baixa umidade relativa do ar (7%), característica típica do cerrado goiano nesta época do ano.
                A largada, prevista para às 07h30min, foi mesmo às 08h10min. Logo que os atletas se perfilaram no funil de largada, foi possível observar a ausência do tradicional cronômetro digital no pórtico, diferentemente de todas as outras provas, o que dificultou o monitoramento do tempo de prova para os corredores. Os atletas PNEs (Portadores de Necessidades Especiais – “Esses caras correm pra Caramba!”) largaram com alguns minutos de antecedência dos demais.


Fotos: Fernanda Elisa

A experiência de correr a Meia-Maratona


                Com exceção dos PNEs, todos os corredores largaram juntos, independente do percurso que iriam realizar. Ao longo da corrida, os atletas que seguiam para os 5 e 10 km eram orientados tanto pelas placas quanto pelos staffs que sinalizavam o percurso.
                Tendo em vista a expectativa de uma altimetria difícil, dado a mudança do percurso para esta prova, aliado ao forte calor e a seca do cerrado goiano, agravado ainda mais pelo atraso para o início da prova, procurei fazer uma corrida mais estratégica e, assim, não forcei o ritmo durante a sua primeira metade, isto é, os primeiros 10 km, que também foram os mais difíceis.
                Um fator decisivo e que nos ajudou nesta estratégia e também contribuiu para aplacar o calor, foi a disposição dos diversos postos de hidratação ao longo do percurso. Alguns destes postos chegavam a estar a menos de 2 km um do outro. Em todos eles haviam dois ou mais staffs para nos servir. Esse foi, a meu ver, o ponto forte da corrida.
                Entre os km 5 e 6 fui ultrapassado por alguns corredores, que desenvolviam um ritmo mais forte do que o meu. Demorei a encontrar o meu ritmo de prova, devido ao estresse inicial, o que foi acontecer por volta do km 9 a 10, o que, também coincidiu com um longo aclive, o que levou muitos atletas a reduzirem o ritmo.
                Neste ponto da prova, consegui sustentar um bom ritmo na subida e ainda realizar algumas ultrapassagens. A subida era tão intensa que me lembro de ter ouvido de um companheiro do asfalto a seguinte frase: “- Para vencer esta subida é preciso muita humildade!” Concordei plenamente! Era preciso muita humildade e respeito, pois se tratava de exatos 1,9 km de um longo aclive.
                Foi nessa parte da prova, próximo ao ponto onde faríamos o nosso retorno, que avistamos os atletas de elite descendo em um ritmo muito forte. Assim, de um lado da pista estávamos nós, reunindo todas as nossas forças para enfrentar a subida e, do outro, os atletas de elite, descendo a passos largos.
                A partir deste ponto, a corrida ficou mais previsível, pois sabia o que encontraríamos pela frente. Corri na companhia do colega Hugo até o km 16. Neste trecho, procuramos marcar um pace entre 04h10min a 04h30min por km.
                Saímos da Av. Leste-Oeste, a partir do viaduto sob a Av. Independência, onde adentramos ao Setor Aeroporto e posteriormente o centro da cidade, subindo pela Av. Goiás até finalizarmos novamente na Rua Quatro do centro da cidade. Forcei um pouco o ritmo no final e consegui finalizar a prova com 1h30min18seg. Um excelente tempo que, infelizmente não me permitiu quebrar o meu recorde nos 21 km, pois a prova “vendeu” aos corredores 21,1 km e, só entregou 20,7 km de percurso (aferido pelo meu GPS).
                Essa é outra crítica forte que espero que haja outros companheiros com a mesma percepção para que possamos sempre alertar as organizações a respeito do não cumprimento da aferição correta dos percursos. Acredito que, se não é possível balizar o percurso corretamente seria, no mínimo, responsável que se informe aos atletas, antes da largada que o percurso é “maior ou menor” do que o esperado.
                Abaixo, segue um resumo dos números de minha participação na prova:
Distância no plano: 3,34 km 
Distância subindo: 9,39 km 
Distância descendo: 7,93 km 
Tempo: 01h30min21seg 
Vel. Média: 13,72 km/h
Ritmo: 04h22min min./km

                Fiquei feliz na conclusão da prova, pois, logo na chegada, estavam presentes o companheiro Rene, os colegas do Grupo Giramundo que haviam corrido 5 e 10 km e a minha esposa a me esperar. Na 2ª edição desta prova, a emoção foi maior ainda, pois cheguei escoltado pelos colegas de nosso grupo de corrida.  Apesar de estarmos correndo com GPS e chip de cronometragem, eu e os demais corredores sentimos falta do cronômetro no pórtico indicando o tempo correto.

Fotos: Rosana Araújo

Após a Corrida


                Em contrapartida à abundância da água, também foi sentido pelos atletas a falta do kit de por frutas pós-prova, tão comum até em competições de menor importância ou de pequeno investimento em propaganda e marketing (provas de menor barulho).
                Principalmente para quem corre acima de 10 km. Uma banana ou fatia de melancia são imensamente importantes para a reposição. Considerando-se que a inscrição para essa corrida não foi barata e que, os apoiadores são muitos, não custaria quase nada oferecer aos concluintes algumas frutas para repor a enorme energia que se perde. Essa é outra atitude no mínimo irresponsável por parte de qualquer organizador.
                A organização optou por entregar aos concluintes outra camiseta alusiva à Meia Maratona EM Movimento. Todavia, os corredores lamentaram mesmo foi a falta do kit lanche. Neste momento, os cuidados com a saúde e bem-estar seriam mais necessários do que a camiseta.
                Outro problema identificado, também comum em algumas provas realizadas em Goiânia, foi o atraso para a cerimônia de premiação, que durou uma “eternidade”. A organização praticamente esperou o fechamento da prova dos 21 km para iniciar a premiação daqueles que correram os 5 e 10 km. Como a premiação se daria por faixa etária, em todos os percursos, muitos atletas tiveram que aguardar pacientemente sob o forte sol naquele final de manhã de domingo. Saímos de lá por volta das 12hs.
                Conforme mencionamos anteriormente, nesta edição da Meia Maratona EM Movimento não houve, para a premiação, a classificação dos atletas na categoria geral e nem tampouco o pagamento em dinheiro. Isto causou uma grande frustração de alguns corredores que vieram de outros estados, como os atletas da cidade de Marabá, que arcaram com o custo da viagem e vieram para a prova atraída por uma “suposta” premiação em dinheiro informada em um dos sites que divulgaram a prova. É importante ressaltar a importância desse estímulo, que muitas vezes foi o responsável para que vários atletas de nossa elite nacional se iniciassem na corrida. Temos relatos de alguns atletas que inclusive sobrevivem com este estímulo.
                O fato é que, no site oficial do evento, não havia qualquer menção para esta questão e premiação mesmo, foi somente o troféu, distribuídos aos três primeiros colocados por faixa etária, em cada categoria nas modalidades disputadas. Aqui, mais outro problema para se ficar atento: a responsabilidade na divulgação.
                Se não bastasse toda essa confusão e atrasos, outros conflitos surgiram na “Meia do Improviso”. Alguns atletas que não concordaram com as colocações geradas pela organização e dispostas nas listagens, subiram no palco e interromperam por várias vezes a cerimônia de premiação. Acabou sobrando até para o locutor que, inclusive teve que pedir para alguns atletas a serem premiados, para descerem do pódio e darem lugar a outro. Isso ocorreu por várias vezes.
                Infelizmente, os problemas não acabaram por aí, pois a maioria dos atletas premiados levou para a casa o troféu sem a placa com a inscrição do evento, o que gerou outro atraso, pois acabou formando-se novamente uma fila onde os atletas desciam do palco e passavam para algum dos staffs o nome e endereço para que, no futuro, recebam a placa com a inscrição relativa ao evento, em casa pelos correios.
Foto: Fernanda Elisa

                Apesar de toda confusão, a 3ª edição da Meia Maratona EM Movimento conseguiu alcançar melhorias em relação à sua segunda edição. Nesta edição, apesar do percurso não ter sido muito bem aferido, ofereceu-se muita segurança para os participantes. Além disso, foi inquestionável a presença de um grande número de staffs, apesar de alguns estarem despreparados, além da abundância dos postos de hidratação, que contribuiu enormemente para que os meio-maratonistas concluíssem a prova.
                Que a quarta edição possa ser ainda melhor, pois, é nossa maior intenção correr por uma causa ou responsabilidade social que envolva a saúde e a melhoria da qualidade de vida!
Foto: Fernanda Elisa


Referências:
http://www.linhadechegada.com.br


2 comentários:

  1. Mais uma vez o relato feito está ótimo. Foram postados os elogios e relatados os fatos negativos que infelizmente nesta prova foram muitos. Eu particularmente não participei desta prova(já tinha participado das edições anteriores e não gostei), só acompanhei o desenrolar de toda esta confusão(prova). Também sou daqueles que gostam de provas bem organizadas e bem executadas. Vou esperar e continuar acompanhando estas provas feitas por essa equipe de organização, até que melhorem, para que eu possa participar e indicar como uma boa prova e bem organizada, para aqueles atletas que conhecemos e que compartilham desta mesma idéia.

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  2. Rene,o número de praticantes da corrida no Brasil vem aumentando significativamente. Em Goiânia também! Eu mesmo faço parte desta estatística, pois comecei a correr e obter os benefícios da corrida mais recentemente e, venho aprendendo muito com as corridas em que já participei e, também,com companheiros do asfalto experientes, que fazem questão de ajudar os recém-iniciados nesta prática. Infelizmente, a corrida era para ser um esporte barato mas, no cenário atual,correr participando de provas hoje, independentemente de serem por uma causa ou não, fica muito caro. Se brincarmos, há uma prova toda semana. Em muito breve, vamos ter duas, três.... sei lá quantas! Gostaria de registrar que o que fizemos, foi o de apenas contribuir mostrando pontos de melhoria e que para a Meia Maratona EM Movimento, realmente seja em sua 4a ou 5a edição muito melhor,atraia mais pessoas e obtenha o apoio, não somente das academias, grupos de corrida e corredores independentes de Goiânia, como também atraia corredores de todo o Brasil. Só assim teremos credibilidade para realizar, quem sabe um dia, uma Maratona que tenha credibilidade e que seja de alto padrão! Caso contrário, é melhor continuarmos selecionando as provas, correndo com os companheiros ou fazendo os longões em grupo aos domingos. Pelo menos, a gente se diverte e, não paga nada!!!
    Um grande abraço!

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