terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Perda do Pai

          Companheiros, neste Sábado 26.11.2011, foi o dia em que enfrentei a corrida mais difícil de minha vida, até o presente momento: acompanhar o cumprimento final de uma longa jornada de 71 anos de vida de meu Pai.

Foto 1. Meu Pai e meu irmão Luis Renato

          Meu Pai, Lourival de Paula Resende, foi um homem simples, mas que deixou ao longo de sua vida um grande legado para seus filhos, amigos e familiares pois, mesmo nos momentos mais difíceis, soube viver com resignação e retidão.
          Sempre com bons exemplos e mansidão, ao longo de sua vida, construiu grandes amigos, os quais gostaria muito de agradecer pela presença e depoimentos espontâneos gerados durante as últimas homenagens, cuja descoberta me surpreenderam bastante, pela repercussão do significado que sua breve passagem por esta vida representou sobre a vida de tantas pessoas.
          Apesar de meu Pai estar em estado de convalescença, achei que estivesse preparado para uma separação que parecia eminente. Hoje sei que não estava. Apesar de morar distante dele, estive recentemente junto a ele em seu leito, mas senti-me privado de dizer tudo o que eu gostaria, por considerar que ele ainda conseguiria dar uma "volta por cima". Não consegui.
          Hoje, lendo um texto de Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político carioca que coincidentemente também faleceu aos 72 anos de idade, vi que, mesmo que tivesse essa chance, eu não conseguiria dizer tudo o que eu gostaria para meu Pai.
          Assim, gostaria de compartilhar esse texto com todos vocês, pois ele representa tudo o que sinto neste momento com relação a esta significativa perda.
           Na prática da corrida de rua, encontramos corredores que conseguem finalizar uma maratona com altos papos. Todavia, há histórias que não são contadas, nem mesmo durante um trote. É o que se costuma chamar de lendas pessoais, ou aquilo que confere à corrida algo muito maior do que uma simples atividade física. Essa lenda é a fonte de inspiração para nunca desistir.
          Para mim, esta lenda pessoal encontra-se na família, particularmente transfigurada na pessoa de meu pai que, acabou de completar a sua ultra-maratona de vida. Minhas últimas corridas, a Golden Four Asics e os 21 anos do TRT corri por ele e, a partir de agora, o tornarei minha força, minha inspiração e minha lenda pessoal.
 
Foto 2. Em busca da Lenda Pessoal
 
          Espero que os exemplos e retidão, tão bem executados nessa vida por meu pai, possa nos inspirar para sermos pessoas cada vez melhores. Que ao ler esse texo, vocês possam aproveitar cada momento que tiverem junto aos seus pais, um grande abraço!


A PERDA DO PAI

Artur da Távola


A perda do pai: quem sabe vivenciá-la? Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande, capaz de conseguir o universo, logo ele, o provedor, abridor de caminhos pelos quais começamos a passar medrosos?

A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto. E há que saltar. É o roubo feito no exato momento em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.

A perda do pai é a entrada no lugar-comum, é começar a ser igual a todos os que a sofrem, a ter os mesmos medos, as mesmas frases. É voltar a se emocionar com o que se desprezava: datas, pequenas lembranças, objetos, palavras e até com as manias dele que nos irritavam.

A perda do pai é o começo do balanço da própria vida, porque, enquanto vivia, era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas.

A perda do pai é o início da significação. As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido.

A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo: o que não fizemos, a visita deixada para depois, o gosto adiado, a advertência desdenhada, o convite abandonado sem resposta, o interesse desinteressado...tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo. Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente, dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto. Num segundo, entendemos tudo o que, durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios. Seus objetos ganham vida, suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas frases adquirem o sentido que só o tempo e a repetição outorgam às coisas.

A perda do pai dói muito! Isso é tudo. Para que querer saber por que? O pai é o eu no outro. É dois em um, santíssima dualidade a proclamar o mistério e a glória de existir, dívida que com ele temos, sem nunca conseguir pagar, o que o faz por isso mesmo, sempre, muito melhor do que nós...

4 comentários:

  1. Que as lembranças de seu pai possam te fazer cada vez mais forte. Que Deus abençoe a todos os seus familiares. Muita luz e paz. Abraços.

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  2. Rene, muito obrigado pelo apoio.
    Um grande abraço!

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  3. em dezembro faz um ano que meu pai se foi. ainda choro por ele ...
    força amigo !!!! estamos na pista !!!

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  4. Estivison, obrigado pelo conforto. Um grande abraço!

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