domingo, 30 de setembro de 2012

Uma Reflexão sobre as Competições



A Corrida é sinônimo de liberdade

“Correr é refletir sobre as suas próprias possibilidades dentro de um exercício fascinante, fraternal e singelo. É, antes de tudo, uma atividade alegre.”
Yllen Kerr



                Apesar da importância das competições, para se medir a evolução e o desempenho de um atleta perante outros, uma das coisas que os corredores mais gostam de fazer é correr. Correr é muito simples. Esteja em boas condições de saúde, escolha um par de tênis, roupas adequadas e vá correr!! Simples assim.
                Certa vez me perguntaram: - o que significa correr? Respondi: - Correr é ser livre! Sim, a corrida é sinônimo de liberdade. É o nosso direito de ir e vir constitucional, só que num ritmo mais acelerado. Para correr você não precisa usar os melhores equipamentos ou de tecnologia de ponta. Trata-se do exercício físico mais natural do ser humano, desde a pré-história. É você e suas pernas, mais nada. Para correr você não precisa, sequer, participar de competições.
                Ouvindo relatos de atletas veteranos, temos notícias de que, uma ou duas décadas atrás, as provas eram poucas. Eram mais simples e reuniam quase sempre os mesmos corredores. Participar delas era gratuito. Não havia os kits como se conhece hoje, nem chips de cronometragem, mas era tudo anotado. Não havia água no percurso e o atleta corria sabendo disso.
                Esse cenário mudou. O número de praticantes cresce a passos largos. Basta olhar em praças e outros locais públicos a quantidade de pessoas correndo. Conseqüentemente, cresce também o número de organizadores, a oferta e a freqüência de provas realizadas por eles. Chega ao ponto de se ter duas ou mais provas sendo realizadas no mesmo final de semana em uma mesma cidade.
                Hoje, organizar uma prova de corrida de rua envolve elevados custos. São várias rodadas de negociações com agências governamentais e privadas para sua viabilidade. As corridas se tornaram muito mais sofisticadas. As maiores envolvem grandes marcas patrocinadoras (públicas e privadas).
                Para conforto dos atletas, se investe em aferição de percursos, distribuição de chips de cronometragem descartáveis, um forte esquema de segurança, serviços de saúde, grande volume de recursos (cones de trânsito, faixas, marketing, staffs, voluntários e colaboradores), kits caprichados com camisas tecnológicas e outros “mimos”, farta distribuição de água e isotônicos durante a ao final do percurso, alimentos repositores para os concluintes ao final da prova, frutas, sanduíches, etc.
                Com tamanha complexidade, as provas acabaram se tornando um grande evento. Uma grande festa, com bandas de música e tudo mais. São eventos que facilmente chegam a reunir de mil a cinco mil corredores de diferentes níveis, o que muitas vezes faz a corrida em si se parecer apenas mais um detalhe.
                Com o aumento na oferta de provas, aumentou também a concorrência entre os organizadores. Com isso, os atletas ficaram mais exigentes. Curiosamente, mesmo com o aumento do número de participantes e patrocinadores, ao invés das inscrições baixarem os seus preços, ocorreu o contrário. Os valores tem se tornado cada vez mais elevado.
                Dificilmente se consegue encontrar uma prova cuja inscrição fique por menos do que R$60,00. Provas de ponta no Brasil como a Asics Golden Four e a São Silvestre, por exemplo, estão com as inscrições por volta de R$100,00 a R$120,00, o que deveria deixar a prova ainda mais seletiva. Não em função do desempenho do atleta, mas sim, em função de seu poder aquisitivo. Olha que não estamos considerando os investimentos que o atleta precisa fazer para correr em cidades diferentes da sua, como passagens aéreas ou rodoviárias, diárias de hotel, alimentação, etc.
                Infelizmente, as inscrições sobem na medida em que aumenta o investimento dos patrocinadores. O que é uma pena, pois a corrida, uma das modalidades esportivas mais democráticas de todas, acabou se tornando um artigo de luxo para a realidade da maioria dos participantes, isto é, algo para a “elite dos corredores” e não para os “corredores de elite”.
                Com isso, os participantes também ficaram mais exigentes e, como clientes e consumidores, passaram a exigir os seus direitos e aquilo que está escrito no contrato (regulamento) da prova. Não adianta simplesmente “forrar” o portal de largada/chegada com um tapete vermelho. Se o atleta investe um valor elevado para correr “com segurança” e não recebe em troca sequer o básico, algo está errado. Ele tem o direito de se queixar.
                Lembrem-se de que a corrida é muito mais do que participar de provas. É um ato de liberdade e é gratuito. É como dizia Yllen Kerr: Corra para Viver.  Correr é refletir sobre as suas próprias possibilidades dentro de um exercício fascinante, fraternal e singelo. É, antes de tudo, uma atividade alegre.
                Boas Corridas!

Fonte de apoio:
Revista Contra-Relogio – Ano 19 – No. 226 – julho de 2012.

4 comentários:

  1. Um post ACERTADÍSSIMO, escrito com muita propriedade, parabéns ao autor do texto.

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  2. Ivana, muito obrigado pela visita ao blog e pelo feedback.
    Tenha um bom final de semana!
    Boas corridas!
    Nilo

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  3. Muito bom o texto. Expressa com clareza e simplicidade o sentimento de muitos que acreditam que correr é um ato de liberdade. Abraço.

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    1. Ariana, fico feliz por ter gostado do texto.
      Correr é mesmo um ato de liberdade, mesmo em competições, onde colocamos o nosso treinamento à prova perante outros corredores. Todavia, não devemos perder de vista que prova de corrida é também um momento de confraternização, de camaradagem.
      Correr não deve ser em hipótese alguma, algo estressante, especialmente quando se trata de uma prova.
      Um grande abraço e boas corridas!
      Nilo

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