Um atleta que cumpre o que promete!
Costumo
dizer que corredor é quase igual a um pescador. Quase igual por que cada um tem
uma história diferente para contar: a melhor corrida, o melhor treino, o melhor
longo, a melhor marca, etc.
Foi
justamente pensando nisso que decidimos apresentar a história do atleta goiano
e residente da cidade de Trindade-GO, o Donizete Alves da Silva (45 anos de idade).
Donizete,
ou Doni
3 horas, como atualmente é conhecido, assim como milhares de outros
corredores no país, possui vários episódios de superação em corridas de curta (5
e 10 km) e média distância (21 km). Aqui, relataremos apenas um: a sua primeira participação em uma maratona
(42 km).
Imagem 1. "Doni 3 horas", finalizando sua primeira maratona em 3 horas. |
Donizette
começou a participar corrida de rua há três anos, mais precisamente, no dia 12
julho de 2009. Como muitos de nós, ele foi um jogador de futebol amador desde
infância, que desiludiu devido a contusões e conflitos vividos no campo.
Foi
a partir daí que a corrida ressurgiu em sua vida. Dizemos ressurgiu porque,
quando ainda era criança, ele corria em volta do campo ao lado dos jogadores de
futebol. Como gostava muito do que fazia, era destaque naquela época.
Ele
fez sua primeira corrida de rua em Goiânia-GO, na tradicional Corrida “O
POPULAR”, no circuito de 10 km, quando alcançou a marca 44min30seg. Um
excelente tempo para um estreante. Desde então, se apaixonou por esse universo.
Foi
então que ele começou a treinar, dedicar e buscar objetivos cada vez mais
audaciosos. De lá pra cá já foram mais de 70 participações em provas, entre dez
meias maratonas (Rio, Brasília e Goiânia) uma Volta Internacional da Pampulha e
a São Silvestre 2011, quando alcançou a marca de 58min37seg.
Em
2012 Donizette sentiu que já estava preparado para completar uma maratona. Foi
então que decidiu fazer a sua estreia nas corridas de longa distância, na tão
sonhada MARATONA RIO JANEIRO, na
edição de 2012. Seu planejamento para alcançar este objetivo havia começado ainda
em agosto de 2011.
Como
milhares de outros corredores do Brasil, Doni
é um atleta solitário. Lançou-se no mundo da corrida sozinho, sem treinador
e sequer uma equipe para lhe dar suporte. Em sua preparação para o tão grande
evento, contou apenas com ajuda de um colega mais experiente, a quem é muito
grato.
Foi
quando ele começou a conviver com a ansiedade. Para um estreante, Donizette
tinha um objetivo audacioso. Veja abaixo o seu relato:
“Marquei vários
percursos em rodovias e outros tipos de vias. Comecei os treinos em março de 2012,
com objetivo de fechar a maratona em 03 horas,
o que aumentou minha ansiedade e até atrapalhou meus treinos, pois comecei a sentir
uma dor muscular no ombro direito que, posteriormente, passou para o braço,
chegando até os dedos da mão. A sensação era que eu havia levado uma martelada
no dedo. Surgiram vários questionamentos. Uns diziam que era problema de
coração: - você não pode correr! Poucos diziam continue! Assim fiz, segui meu
instinto e continuei com toda dedicação aos treinos. Sozinho mesmo e, sem
treinador. Fiz vários longões, fortalecimento muscular. Surgiram as dores
musculares e cheguei a fazer mais de 38 sessões de gelo, cada uma com cerca de 30
minutos cada. Tudo isso, com objetivo focado nas 3 horas da Maratona do Rio de
Janeiro.”
Com
tudo certo para o grande dia, isto é, o treinamento em dia, tênis de estreia
pronto, faltando apenas um mês para o
dia prometido, já com as passagens aéreas adquiridas, reserva em hotel realizada,
etc., chegou a hora de ele fazer a sua inscrição e, qual não foi sua grande
decepção e enorme tristeza enorme, quando surgiu a mensagem:
INSCRIÇÕES PARA A MARATONA DO RIO ENCERRADAS!
Ele
quase chorou de tristeza. Ele nos conta que: “... procurei de todas as formas conseguir uma inscrição. Liguei até
para o presidente da organização da maratona e a resposta foi NÃO! Disse que era por um motivo
especial, pois já havia treinado para a sua primeira maratona e gostaria que fosse
na prova do RIO.”
Ele
informou ainda que: “já havia planejado a
um ano atrás, e havia passado por muitas dificuldades. Já tinha até arrumado as
malas para fazer prova em três horas.” A resposta foi um simples: - não tem
jeito já acabaram as inscrições!
Ele
nos conta que chegou a fazer contato com o diretor de uma Revista de Corrida
brasileira, que apesar de gozar boa influência neste meio, não conseguiu
ajudá-lo. Donizette ficou muito triste, mas decidiu que iria fazer a sua
estreia no Rio de Janeiro para três horas, de qualquer forma. Nem que fosse sem
inscrição. Ele não poderia desprezar todo o treinamento de base que havia feito.
Quando
não havia mais nenhuma esperança de se inscrever, surgiu uma oportunidade de
oficializar a sua participação: uma colega de 52 anos, que já estava inscrita, havia
desistido da viagem.
Donizette,
não hesitou. Adquiriu sua inscrição. Foi quando voltou a travar novamente uma
longa batalha para conseguir transferir aquela inscrição para o seu nome. A resposta
foi novamente um simples e direto NÃO!
A alegação agora é que faltava apenas uma
semana para a prova.
Donizette
não desistiu. Assim ele foi. Embarcou para o Rio, pegou seu kit de corrida, com
o nome e número da outra atleta e correu em busca de seus objetivos. Apesar da
alta ansiedade, agora ele estava, mais tranquilo, pois estava preparado.
Veja
o seu relato:
“Foi maravilhoso,
choveu no percurso inteiro, ao lado das ondas do mar. Em alguns lugares o vento
foi muito meu amigo. Em determinados momentos senti uma dor na virilha, o que atrapalhou
um pouco, mas não desisti de meu objetivo prometido: fechar a prova em três
horas. Como assim fiz. Cheguei na 8º colação geral na Elite Feminina, com 52
anos. Obviamente que fui desclassificado.”
Ele
continua: “Graças a DEUS foi tudo aquilo
que havia planejado. Agora sou reconhecido como DONI 3 HORAS. Agradeço a DEUS
por tudo. Assim pude realizar meu sonho de ter conseguido, depois de tantas
dificuldades e tantos esforços a tão sonhada MARATONA 42 km na cidade
maravilhosa, a RAINHA de todas as maratonas, com tempo desejado de um atleta
amador; três horas exatas!”
Apesar
de ter se iniciado no mundo das corridas tardiamente, Donizette (36 min. nos 10
km, 1h20min nos 21 km e, agora, 3 h nos 42 km) é um atleta que cumpre o que
promete! Ele faz parte de um grande número de corredores amadores no Brasil,
que correm sem patrocínio, sem apoio, sem treinadores, etc.
Passado
este episódio, ele apenas gostaria que publicassem a sua historia de
dificuldades e tudo aquilo pelo qual passou. “Eu não desisti em nenhum momento!”.
Imagem 2. O atleta Donizette em momento de agradecimento. |
Seu
único pedido seria o de ver meu nome no site
do evento, na sua real colocação e, então, receber o certificado de MARATONISTA
da revista CONTRA RELÓGIO.
Ele
ficaria eternamente grato por isso.
Aqui,
ele se despede com um grande abraço ao Tomaz e a todos da equipe da Revista
Contra Relógio.
A
história de Donizete pode se parecer com a de muitos outros corredores no
Brasil. Seu relato nos mostra a importância do planejamento, não apenas de
treinamento para que se possa alcançar o objetivo de tempo proposto para determinada
prova.
Trata-se
de um planejamento que incluiu, acima de tudo, acompanhar as questões
burocráticas de uma corrida, como o simples ato de fazer a inscrição com antecedência.
Acreditamos que o comprometimento de um corredor com uma prova se inicia no
exato momento que ele faz a sua inscrição. Todavia, não estamos aqui para
julgar se o nosso atleta errou ou acertou.
O
fato é que, o caso do Donizette, reacende uma questão muito maior que é a falta
de vontade de organizadores de corrida e outros atores que possuem influência
neste meio em ajudar um companheiro em momentos de dificuldade.
É triste ouvir essa história e imaginar que a organização da Maratona do
Rio no ano passado fez gratuitamente um “up
grade” para quem se inscreveu na “meia” * pudesse correr a maratona sem
nenhum custo adicional. Ou seja, caminhos para se resolver o problema podiam de
fato existir. Bastava ele encontrar alguém com boa vontade.
Para
nós, leigos nos assuntos burocráticos que envolvem o mundo da corrida, não
podemos afirmar se trinta dias de antecedência seria tempo considerado hábil
para oficializar a inscrição, pois como tudo nessa vida, sempre há um prazo.
Entretanto, em nossa opinião, faltou mesmo boa vontade da organização na
simples tarefa de alterar um nome e um gênero no prazo de uma semana de uma
inscrição que já havia sido feita.
Lamentavelmente,
fatos como esse, só no Brasil!
Parabéns
ao Donizette Alves da Silva. Ele conseguiu uma marca, apesar de todo
contratempo.
*a meia-maratona é realizada
concomitantemente com a Maratona do Rio de Janeiro.