Uma corrida que mudou uma vida e, também, a de milhares de mulheres no esporte!
Abstract: What is the relationship between the story of an athlete from the small American city of Syracuse with the
cancellation of the Gaza Marathon, or with the
Olympic Games being played
by men and women separately and conducting races and
competitions with separate starts for
sex? An invitation to reflection.
Qual
a relação existente entre a história de uma atleta da pequena cidade
norte-americana de Syracuse com: (1) o cancelamento da Maratona da Faixa de
Gaza, (2) os Jogos Olímpicos sendo disputados separadamente por homens e mulheres
e, (3) as largadas realizadas em horários diferentes para atletas da elite
feminina e masculina em corridas de rua? Um convite à reflexão, ainda em clima
do “Dia Internacional da Mulher”.
Talvez,
a imagem mais emblemática na luta pela igualdade de direitos com os homens, em
se tratando de corrida, seja a
memorável fotografia da atleta Kathrine
Switzer. Ela desafiou as regras e tornou-se a primeira mulher a correr uma
maratona, até então, exclusivamente para homens.
Imagem 1. Kathrine Switzer durante a Maratona de Boston, em 1967. |
O fato ocorreu em 1967 durante a
Maratona de Boston. Até então, a prova foi por 70 anos, realizada exclusivamente
por atletas do sexo masculino. Em sua longa história, a Maratona de Boston é
considerada como a mais famosa e tradicional corrida de longa distância do
mundo. Ao longo do tempo, a prova foi palco de eventos marcantes. Um deles foi
o registro da primeira participação oficial conhecida de uma mulher.
Kathrine revelou que se inscreveu como
um atleta do sexo masculino, utilizando apenas as suas iniciais, KV Switzer. Ela recebeu o número oficial
261. A atleta entrou para a história quando, um dos diretores da corrida, no
meio da prova, saltou por detrás dela para retirar-lhe o número de peito e impedi-la
de continuar. Veja o vídeo ao final da matéria.
– Me dê esses números e desapareça de minha corrida! Foi o que,
segundo ela, ele disse.
Imagem 2. Tentativa de um dos Diretores da Maratona de Boston para retirar Kathrine Switzer da prova. |
Seu
namorado e outros corredores, que participavam do evento, assim que viram a
cena, impediram a ação do diretor, empurrando-o para o lado. Em seguida, eles a
"escoltaram" por algum tempo.
Após
o episódio, durante a corrida, tudo mais ficou em silêncio, até a linha de
chegada. A partir daquele momento,
nascia outro grande desafio na vida de Kathrine
– Agora, ela teria que terminar a corrida de qualquer jeito, uma vez que, se falhasse
ninguém mais acreditaria que uma mulher poderia fazê-lo. Nascia uma missão. Kathrine finalizou a prova com a marca
de 4h20minutos.
Imagem 3. 261 - Número de peito utilizado por Kathrine Switzer |
Entretanto,
cinco anos depois desse episódio, em 1972 foi que as mulheres receberam a
permissão para participar oficialmente de uma maratona. Switzer tornou-se uma ativista pelos direitos das mulheres
corredoras e sua participação foi fundamental para a inclusão das mulheres na
maratona olímpica.
Ao
longo de sua carreira, Switzer ainda
ganhou a Maratona de Nova York em 1974 com o tempo de 3h07min (59º colocada no
geral). Entretanto, seu recorde pessoal na distancia é de 2h51min, alcançado também
na Maratona de Boston no ano de 1975.
Esse
episódio, sem dúvida alguma, é um dos momentos inesquecíveis da história das
maratonas. De lá para cá, muitas coisas mudaram, especialmente quando se trata
do ocidente. As mulheres, em muitos segmentos da sociedade, alcançaram direitos
de igualdade aos homens e, em muitos deles, elas conseguem superá-los.
No
pequeno mundo da corrida, com a luta pela igualdade de direitos, o movimento da
mulher também progrediu bastante. Atualmente, elas dão um colorido todo
especial às provas realizadas por aí. Progrediu tanto, que há competições sendo
realizadas exclusivamente para elas, o que não deixa de ser também uma
segregação.
Entretanto,
quando se trata do desempenho em atividades físicas que exijam força e
resistência, a história entre homens e mulheres ainda segue por caminhos diferentes,
especialmente quando se trata de atletas de elite. É que nesse quesito, os
homens conseguem se sair melhor do que as mulheres. Aqui considero os atletas
de elite porque quando se trata dos amadores ou da população em geral, o
desempenho tende a ser parecido.
É
fácil ver atletas amadores sentindo-se realizados quando chegam juntos ou bem
próximos das atletas de elite da categoria feminina de alto desempenho. O que está
sendo destacado nesse momento pode parecer absurdo para muitos, mas é isso o
que os números mostram. Obviamente, há nessa questão um importante componente
físico e genético, específico de cada sexo, o que diferencia as duas categorias.
Senão,
o que justificaria, em muitas provas de corrida de rua realizadas por aí, haver
largadas separadas por 15 minutos ou até de meia hora para as duas categorias?
Sempre com as mulheres largando na frente? Talvez, seja mais fácil de entender,
os motivos que levam os atletas “Portadores de Necessidades Especiais” PNE a
largarem na frente dos demais corredores.
Todavia,
quando se trata de homem e mulher, não haveria aí também uma questão de
segregação? Qual outra razão haveria para largadas em horários distintos? No
modo prático de ver as coisas, o que de fato ocorre é que acaba sendo dois
eventos diferentes, com a diferença de que são realizados no mesmo dia. É isso
o que ocorre.
É
diferente da largada por ondas de ritmo, onde os atletas participantes de uma
mesma prova largam em baias separadas por ritmo previsto de desempenho na corrida.
Aqui o principal objetivo está em facilitar o fluxo da largada, de forma que os
atletas mais lentos não dificultem a ultrapassagem dos atletas mais rápidos.
Trata-se
de uma questão de administração e de ordenamento do fluxo da competição. Portanto,
um único evento. É que neste caso, a buzina ou o “tiro de largada”, é dado uma
única vez. Isso é diferente do que foi apresentado no parágrafo anterior, onde
se falava de duas largadas.
Durante
as Olimpíadas, homens e mulheres participam dos mesmos eventos separadamente e
em dias alternados. Voltando ao mundo da corrida, por exemplo, há uma maratona
feminina e outra masculina. As atividades seguem nessa ordem para que haja certa
calibragem no desempenho dos atletas. Por isso, há ainda outro evento, chamado
de Paralimpíada. O que se pretende é que haja igualdade de condições durante a
competição.
Imagem 4. Maratona Olímpica Feminina (Londres - 2012) |
Seguindo
esse raciocínio, percebe-se que no mundo das atividades esportivas,
especialmente durante a corrida de rua, homens e mulheres são tratados, na
grande maioria das vezes, de forma muito distintas. O fato é que isso não
incomoda. Todos estão satisfeitos com o estado das coisas.
A
partir desse raciocínio, se abre uma porta para ampliar ainda mais a discussão
sobre essa questão da igualdade de direitos, iniciada e ilustrada com a bela e
inspiradora história da atleta norte-americana Kathrine Switzer.
Recentemente
foi anunciado pela imprensa mundial sobre o cancelamento da terceira edição da
Maratona da Faixa de Gaza, sob a alegação de que as autoridades de Gaza
proibiram a participação de mulheres na prova, o que soa como absurdo diante
dos avanços que o movimento feminista alcançou nos últimos anos neste lado do
planeta.
Esse
é um evento organizado pela UNRW, órgão da ONU que trabalha com refugiados,
como forma de angariar fundos. Nas duas primeiras edições, atletas de elite e amadores
de todo o mundo participaram da competição, que percorreu 42 km da Faixa de
Gaza, região conhecida pelos conflitos armados entre palestinos e israelitas. Na
ocasião, atletas estrangeiras competiram com calças compridas, assim como as
palestinas, que correram com calças e a cabeça coberta, em respeito aos
costumes locais.
Imagem 5. Maratona da Faixa de Gaza |
No
ano passado, a prova recebeu mais de duas mil crianças e 500 adultos, entre
eles, atletas olímpicos palestinos. Segundo a UNRW, neste ano a prova contava
com 807 inscritos, sendo 385 mulheres, das quais, 266 eram palestinas.
Segundo
o Hamas, partido conservador do movimento
islâmico, que controla a região, a corrida não seria proibida, desde que as
corredoras não participassem em meio aos homens, pois isso feriria os costumes
locais.
Não
é objetivo da discussão entrar no mérito religioso ou dos costumes locais, pois
pouco se sabe a respeito. O fato é que a maratona acabou mesmo foi sendo
cancelada. O que se percebe é que, na verdade, eles simplesmente não gostariam
que os homens corressem misturados às mulheres.
A
verdade de toda a história é que a atleta norte americana Kathrine Switzer deu um grande passo em prol do movimento feminista
para a conquista da isonomia de direitos na prática do esporte. Entretanto,
ainda há muito espaço para ser conquistado, por aqui e, também, no lado de lá,
isto é nas duas partes do planeta.
Não
deixem de conferir algumas imagens inéditas da Maratona de Boston em 1967, bem
como o relato na voz da própria Kathrine
Switzer, sobre esse episódio que a tornou célebre:
Vídeo 1. Relato pessoal de Katrhrine Switzer sobre o famoso episósio durante a Maratona de Boston em 1967.
Um grande abraço a todos e boas
corridas!
Com todos os problemas que enfrentamos aqui no Brasil, Nilo, ainda podemos dar graças a Deus pela nossa liberdade de expressão.
ResponderExcluirHá muito o que ser conquistado ainda, mas quando saímos do Brasil e temos contato com outras culturas, algumas delas nunca sequer ouviram a palavra "democracia".
Para nós parece um absurdo, mas por lá existe um grande conformismo com a situação, tanto por parte dos homens quanto das mulheres.
Estou fazendo um trabalho na África e é deprimente ver a situação das mulheres de lá, diante de uma cultura machista e alienada... e a gente não pode fazer muita coisa pra mudar, porque elas mesmas se conformaram com a situação.
Parabéns pela homenagem e pela aula de história.
Sílvio, com toda razão! Damos Graças a Deus pela nossa liberdade de expressão!
ResponderExcluirÉ incrível o exemplo de dedicação e zelo para com as obras de Deus demonstrada através do trabalho que você e outros de seus companheiros vem realizando junto às comunidades na África.
Acima de tudo, essa experiência é muito enriquecedora e, nela, percebo que há um pouco de tudo isso que foi abordado.
Infelizmente, demonstrações de intolerância e preconceito, de todas as formas, aparecem a todo o momento, inclusive em nosso meio.
Parabéns pelo belo trabalho!
Um grande abraço e boas corridas para você!
Nilo