Uma Difícil Decisão: Cancelar, Adiar ou Manter?
Abstract: Recently we witnessed the cancellation and postponement of two
marathons of great importance: The New York City Marathon, an international
event, and one of the largest in the category (Majors), canceled in the month
of December 2012. The other, the São Paulo City Marathon, one of Brazil's
largest in this category, which was postponed by six months of schedule. Two
different situations, but with one thing in common: in both cases, the
financial loss and frustration of amateur and professional athletes who have dedicated
themselves to this and were at the peak of physical fitness to meet the
challenge.
A
maratona é um evento esportivo diferenciado quando comparado às demais
distâncias abaixo dela. Trata-se de uma prova repleta de desafios e que envolve
toda uma mística. A recompensa para quem conclui uma prova dessa categoria não
é apenas uma medalha, camiseta alusiva ao evento ou um certificado de
participação. A prova em si é muito mais do que isso. Trata-se de uma jornada que
pode ser ao mesmo tempo reveladora, realizadora ou, por outro lado, expor todas
as suas fraquezas.
Por
isso, ela envolve uma longa preparação. São meses de treinamento prévio. É uma
jornada árdua. Para muitos atletas iniciantes e até mesmo experientes, não se
trata meramente da corrida, que acaba sendo apenas um detalhe, mas sim de toda
preparação necessária para alcançar o auge da forma física e merecer estar na
linha de largada.
Infelizmente,
mesmo treinando arduamente e se preparando para tal, nem sempre tudo sai
exatamente como foi planejado. Os atletas estão sujeitos a muitas surpresas nos
dias que antecedem a prova. Pode ser uma forte chuva ou frio, quando estava
previsto sol ou calor, como também pode ser o cancelamento ou o simples adiamento
da prova, uma decisão discricionária e exclusiva do organizador, o que trás uma
série de consequências, normalmente negativas para o corredor. A pior delas,
além de prejuízos financeiros está na perda do condicionamento físico
conquistado para enfrentar aquele momento.
Recentemente
o mundo da corrida presenciou o cancelamento e adiamento de duas importantes
maratonas. Uma internacional, e considerada uma das maiores na categoria (Majors), a Maratona de Nova York, cancelada no início de dezembro de 2012 por
motivos de força maior. A outra nacional, a Maratona de São Paulo, uma das maiores do Brasil, que foi adiada em
seis meses da data prevista (28.04.2013).
Obviamente,
trata-se de duas situações distintas, mas com uma coisa em comum: em ambos os
casos, o prejuízo financeiro e a frustração de atletas amadores e
profissionais, que se dedicaram para tal e encontravam-se no ápice de sua forma
física para enfrentar o desafio.
As
duas consequências são dramáticas, mas o ápice da forma física, talvez seja o
mais difícil de alcançar. Acredita-se que os atletas em geral, tenham durante o
ano, apenas uma ou duas oportunidades para alcançar o auge de sua forma física,
ou seja, é quando decide enfrentar um desafio como esse. Caso ele não utilize
esse potencial durante a sua temporada, certamente haverá consequências
negativas, pois toda a preparação terá sido em vão.
Maratona de Nova York 2012: Cancelada
A
Maratona de Nova York é uma das maiores do mundo neste segmento. Ao lado das Maratonas
de Boston e Chicago, está entre os eventos mais importantes dos EUA, além de
ser uma das “World Marathon Majors”. A
prova é realizada anuamente, desde 1970,
com uma única exceção: 2012. Só para se ter uma ideia do tamanho da prova, em 2011
foram 45.103 concluintes.
A
prova nova-iorquina tinha motivos de sobra para ser cancelada: os danos infligidos
pela “Tempestade Sandy”, que deixou grande parte da cidade destruída, alagada e
milhares de pessoas desaparecidas ou desalojadas.
Imagem 1. Maratona de Nova York: Cancelada |
Em
2012, antes do cancelamento, a Maratona de Nova York contabilizou mais de
47.000 inscrições realizadas. A maioria, proveniente de outras cidades
americanas, além de outros milhares provenientes de outros países, como o
Brasil. Independente da origem, milhares de atletas tiveram suas expectativas
frustradas.
Em
Nova York, a prova foi cancelada na véspera do evento. Muitos atletas já haviam
até retirado seus kits de participação. Para muitos estrangeiros que se
deslocaram de seus países de origem, desembolsando com passagens aéreas e
hotéis, os prejuízos foram enormes. Atletas brasileiros que compareceram
estimaram algo em torno de R$ 30.000,00.
O
evento foi cancelado em decisão tomada conjuntamente pelo Prefeito da cidade e
pelos organizadores do evento, sob a alegação de que seria de “mau gosto”
realizar uma corrida, cujo percurso passaria pelos cinco bairros mais afetados,
onde os moradores ainda sofriam pelos danos provocados pela tempestade.
Imagem 2. Periódico americano critica o uso de geradores elétricos durante a maratona, enquanto milhares de novaiorquinos sofrem. |
Naquele
momento eles não poderiam desviar a atenção de todo o trabalho importante e
crítico que estava sendo conduzido na recuperação da cidade. Quem viu as
imagens pode compreender facilmente essa necessidade. Para os atletas
estrangeiros, a situação foi dramática, pois muitos não encontraram sequer onde
ficar após vencerem as suas diárias de hotel.
Imagem 3. Estragos provocados pela Tempestade Sandy e críticas à realização da maratona nova-iorquina. |
De
qualquer forma, não é à toa que a Maratona de Nova York conquistou o status de ser uma das “Majors”. Trata-se de um evento de tradição.
A prova é organizada pela New York Road Runners (NYRR). Eles
tratam os atletas com respeito e seriedade.
Sem
dúvida alguma, foi uma das decisões mais difíceis de serem tomadas,
especialmente por que todos os recursos para conduzir a prova já haviam sido
coordenados. Administrar 47.000 atletas inscritos requer uma logística enorme.
Como a Maratona foi um dos últimos eventos programados para o ano de 2012, não
houve alternativa, a não ser, cancelá-la, mesmo a contragosto de milhares de
atletas que já se encontravam em Nova York, inclusive com os seus kits de prova
nas mãos.
Maratona de São Paulo: Adiada
Nessa
semana, muitos atletas brasileiros também experimentaram certo grau de
frustração quando a Yescom, empresa geradora de entretenimento, esporte e
comunicação e, também responsável pela realização da Maratona de São Paulo, anunciou o adiamento da prova em seis meses.
A prova, que deveria ser realizada em 28 de abril, foi adiada para o dia 06 de
outubro desse ano.
Imagem 4. Maratona de São Paulo. |
Para
quem não sabe a Yescom também é responsável pela realização de outros eventos
importantes do calendário brasileiro de corrida de rua, como a Meia Maratona de
São Paulo, Meia Maratona das Cataratas de Foz do Iguaçu, a Corrida e Caminhada
Criança Esperança (realizadas em diversas capitais do Brasil), Meia Maratona
Internacional do Rio de Janeiro, Volta da Pampulha e a tradicional e “polêmica”
Corrida de São Silvestre. Muitos desses eventos, transmitidos ao vivo pela
televisão.
A
Maratona de São Paulo é realizada desde 1995. Esta seria a sua 19ª edição. De
forma paralela, também são realizadas três corridas concomitantes: de 25 e 10
km e uma caminhada de 3 km, o que eleva o número de participantes. O evento têm
realização e organização da Rede Globo e Yescom. A supervisão fica a cargo da
IAAF, CBAt, AIMS e FPA, com apoio especial da Prefeitura de São Paulo e do
Governo de São Paulo. A promoção e a transmissão são da TV Globo São Paulo, Sport
TV, Esporte Espetacular e GloboEsporte.com.
Segundo
a organização, a prova foi transferida em função das obras para a construção do
Monotrilho e dos grandes eventos que serão sediados na cidade. Com a mudança do
evento para outubro, também se prometeu melhorias, como largada e chegada em
frente ao obelisco no Ibirapuera. Outras medidas incluem uma largada mais cedo,
às 7h40 e em ondas, para que os atletas mais rápidos saiam na frente.
A
decisão veio em um momento crítico e, consequentemente trouxe muitas polêmicas.
A Maratona de São Paulo pode ser considerada uma prova tradicional. Entretanto,
em número de participantes, hoje ela é considerada o segundo maior evento na
categoria do país, ficando a trás da Maratona do Rio de Janeiro.
Apesar
do mês de abril ser considerado um mês favorável para o bom desempenho dos
atletas, no último ano, a prova experimentou uma redução (confira no quadro abaixo)
considerável no número de participantes. Provavelmente em função de seu
percurso difícil, deficiência na estrutura da prova, como a falta de água no
percurso, além ausência de premiação nas faixas etárias.
ANO
|
SÃO PAULO
|
RIO DE JANEIRO
|
CURITIBA
|
PORTO ALEGRE
|
2004
|
2.818
|
1.330
|
1.680
|
726
|
2005
|
2.177
|
1.504
|
1.157
|
1.139
|
2006
|
2.712
|
1.108
|
1.521
|
969
|
2007
|
2.368
|
1.600
|
1.539
|
963
|
2008
|
2.711
|
1.834
|
1.604
|
1091
|
2009
|
2.791
|
2.167
|
1.917
|
1.170
|
2010
|
3.030
|
2.562
|
1.958
|
1.323
|
2011
|
3.046
|
2.740
|
1.239
|
1.436
|
2012
|
2.395
|
2.960
|
1.395
|
1.415
|
A
realidade é que a maioria dos corredores não enxergou a alteração da data como
uma boa iniciativa. Além do prejuízo financeiro, para aqueles que já adquiriram
passagens aéreas e fizeram reservas em hotéis, essa mudança prejudica bastante
quem está em franca preparação para o desafio paulista. Em abril, eles estariam
no ápice de seu condicionamento. Para não perdê-lo, eles certamente terão que escolher
outra prova.
O
maior problema é que essa não é uma situação isolada. A Yescom ao longo dos
últimos anos vem causando muita polêmica com a tomada de decisões arbitrárias e
por não ouvir a voz dos corredores. Um dos maiores exemplos são as mudanças
frequentes na tradicional prova de São Silvestre, além da alteração nas datas
de outras provas que já estavam definidas no calendário brasileiro de corrida de
rua.
Tudo
isso contrariando e batendo de frente com os atletas, seus principais clientes.
Para muitos, esta não é a primeira vez que eles alteram as datas de provas. Percebe-se
aí uma evidente e reiterada falta de respeito ao consumidor, ou público que é
cliente e necessita dessa prestação de serviços.
Apesar
da mesma distância, as maratonas de Nova York e São Paulo são dois casos bem
diferentes um do outro. O peso da prova americana é, sem dúvida alguma, muito
mais significativa. Não é à toa que ela é uma das cinco maiores maratonas do
mundo.
Não
dá para comparar um evento que é realizado ano após ano, desde 1970 e que é
capaz de reunir 47.000 atletas, com outro de apenas 19 anos e com capacidade de
envolver um pouco mais de 2.000 atletas, apenas na maratona.
Da
mesma forma, o cancelamento da maratona nova-iorquina teve um fundamento mais
do que justo e, mesmo trazendo aborrecimentos e uma série de prejuízos, poucas
pessoas ousaram a contestar, ao contrário. O que não ocorre no exemplo
brasileiro.
De
qualquer forma, ao adiar a prova, a Yescom apenas seguiu uma das cláusulas que
normalmente estão previstas na maioria dos regulamentos. Assim, ela pode estar
protegida, mas pode não estar com a razão. Infelizmente, no Brasil não dá para
decidir em qual corrida participar com um prazo maior do que 60 dias.
O
grande problema mesmo parece estar no descaso com que a organizadora vem tratando
os atletas brasileiros ao longo do tempo: com total falta de respeito! Vejamos
o que os números dirão em 2013!
Um
grande abraço a todos e boas corridas!
Fontes de Apoio:
Revista Contra Relógio – Ano20 –
No. 220 – Janeiro 2012.
Revista Contra Relógio – Ano 20 –
No. 232 – Janeiro 2013.
Uma lástima, né ?
ResponderExcluirCom certeza, Ivana!
ResponderExcluirUm grande abraço e boas corridas para você!
Nilo
A verdade, Nilo, é que essa história de Monotrilho não colou. No fundo todos nós sabemos que tem algo da Rede Globo por trás. Uma cidade grande como São Paulo não teria outra alternativa de percurso, se esse fosse o grande problema gerador do adiamento?
ResponderExcluirA de Nova York foi lamentável, mas o motivo foi transparente. Como se faz uma festa no meio de uma catástrofe?
Eu participei da Meia Maratona do Rio e gostei muito, e quero participar de outras. Mas é desumano uma corrida de 21 km, com largada às 09:00h debaixo de um sol escaldante. A quantidade de atletas passando mal no caminho foi muito grande. Mas a prova está sujeita ao horário da transmissão.
Realmente lamentável!
Sílvio, o desgaste a que os atletas se submetem para correr provas como a Meia Maratona Globo do Rio, isto é, que atendam à conveniência da mídia, é algo nada saudável, além de ser também desumano. Ao iniciar às 9h, muitos só vão terminar por volta das 11 h, quando o sol é castigante!
ResponderExcluirO fato é que percebemos muitos atletas com o nariz torcido para essa organizadora de prova.
O duro mesmo é ter que ouvir e confirmar, pois é verdade, que o mercado está comprador! Isso quer dizer: - se cobra o que querem de inscriçoes, entregam algo bem desorganizado, mudam ou cancelam a data do evento quando bem entendem e o que acontece? Nada! As corridas lotam.
Desse jeito a coisa não mudará nunca!
Um grande abraço para você e, vamos trabalhar para dias melhores, ou pelo menos para corridas mais justas e menos desumanas!
Nilo