domingo, 8 de abril de 2012

13ª Meia Maratona Internacional CAIXA de Brasília


13ª Meia Maratona Internacional CAIXA de Brasília

“A verdadeira medida de um corredor não está no tempo, ao contrário. Está no esforço empreendido ao longo do caminho.”
 Jenny Hadfield

                A prática da corrida proporciona vários tipos de experiências positivas na vida de quem a pratica. Eu poderia enumerar várias delas, conhecidas ou não do público em geral. Por exemplo, na corrida não importa qual a sua classificação ou em qual lugar você chegou. Nela, todos são vencedores e apesar de corrermos sozinhos, ela está longe de ser solitária. Ao contrário de outras modalidades onde a maioria são expectadores, na corrida, você é protagonista de sua própria história.

Foto 1. Na corrida, você é protagonista de sua própria história.

                Estes sentimentos se tornam cada vez mais fortes e verdadeiros à medida que a quilometragem percorrida pelo atleta aumenta, pois com este incremento, formado pelo tempo em que o atleta dedica a prática esportiva, é o alimento por meio do qual nascem as experiências individuais.
                As estimativas sugerem que Brasília tenha cerca de 200 mil corredores de rua (não-profissionais). No Distrito Federal, o número de eventos na modalidade, seja provas com percursos puros ou mistos de 5, 10, 16, 21 e 42 km, também não para de crescer. O fato de ter duas ou mais competições sendo realizadas na mesma data, não chega a esvaziar as provas, em função do grande número de praticantes.
                A Meia Maratona Internacional CAIXA de Brasília está em sua 13ª edição e já virou uma tradição na capital. Muitos não sabem, mas a prova é realizada durante o mês de abril em função da comemoração do aniversário da cidade.
                Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília é uma das mais belas e modernas cidades do país, cuja história começou a mais tempo do que muitos imaginam. Antes de ser construída, a capital do Brasil, foi profetizada em Turim, na Itália, pelo padre salesiano João Bosco. Ele sonhou que uma grande civilização iria nascer entre os paralelos 15 e 20, exatamente no local em que Brasília foi construída.
                Histórias à parte, a Meia Maratona Internacional CAIXA de Brasília é hoje uma das 10 maiores provas de corrida de rua do Brasil. Cada cidade possui a “meia” que merece! Seja no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, etc. Cada uma delas é única e possui a sua beleza e nível de dificuldade singular.


Foto 2. Protagonizando a própria história

                No caso de Brasília, a prova surgiu no ano de 2000 com o intuito de preencher um espaço vazio: ter uma prova de longa distância na cidade. Hoje já são várias. Predominantemente formada por atletas amadores, recebe atletas de elite brasileiros e estrangeiros. A prova se internacionalizou em 2006, o que aumentou o seu nível técnico.
                A prova cumpre todas as exigências da Federação de Atletismo do DF, além de seguir as regras e determinações de competições internacionais, como a cronometragem e a arbitragem, o auxílio de chips na apuração, postos de hidratação a cada cinco quilômetros, percurso monitorado por 200 fiscais, quatro ambulâncias distribuídas ao longo do trajeto.
                Hoje essa prova faz parte do calendário nacional de corridas de rua Classe A1, isto é, uma prova com regras da IAAF (Internacional Association of Athletics Federations) e normas da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), sendo ainda válida para o ranking CAIXA/CBAt.
                Além da distância de 21 km, realiza-se paralelamente uma corrida popular de 7 km, em caráter competitivo. Portanto, apesar de sua importância, a prova não é uma “meia pura”, mas sim uma prova dentro da outra.
                As provas do ranking CAIXA/CBAt têm organização independente da CBAt e são indicadas pela Caixa Econômica Federal (CEF). Trata-se de uma parceria entre as duas entidades. Como regra, os atletas cadastrados como corredores de rua na CBAt, que se classificarem até o vigésimo lugar recebem pontos diretamente decrescentes para o ranking, com pontuações distintas para o feminino e para o masculino.
                De acordo com o site oficial da MEIA, são três classes diferentes de corridas reconhecidas pela CBAt: a) Classe A-1 – Provas Nacionais; b) Classe A-2 – Provas Nacionais; c) Classe B – Provas Estaduais. Essa MEIA faz parte da Classe A-1. Esse reconhecimento é solicitado à CBAt. As provas brasileiras que integram o “IAAF Label System” são reconhecidas pela CBAt como Classe A-1.
                O que muitos não sabem é que as corridas de rua realizadas no Brasil são destinadas primeiramente a brasileiros natos ou naturalizados. A participação de estrangeiros, no caso das corridas de Classe A-1 é limitada em até três atletas (masculinos e femininos) por país. Já nas corridas de Classe A-2 podem ser inscritos até dois atletas (masculinos e femininos), por país.
                A CEF é uma das instituições que mais fomenta a corrida de rua no país, estimulando tanto atletas de elite a serem mais competitivos, quanto os amadores a terem um estilo de vida mais saudável. A prova disso está no famoso circuito de rua patrocinado por ela. Somente no ano passado foram 23 competições no circuito.
                No dia 01.04.2012 foram realizadas duas importantes provas no Centro-Oeste. O Circuito de Corridas CAIXA, com percursos de 5 e 10 KM em Goiânia e a 13ª MEIA Maratona Internacional CAIXA de Brasília, com percursos de 7 e 21 Km. Ambas valiam pontos para o ranqueamento dos atletas pela CBAt.
                Sem dúvida alguma, duas provas de alto gabarito e imperdíveis para os atletas da região. As duas provas estão direcionadas para corredores com perfis diferentes, em função das características das mesmas. Afinal, há aqueles que preferem a longa e, outros, a curta distância. Entretanto, quem está preparado para correr a longa, também pode correr a curta. Infelizmente, muitos atletas tiveram que optar entre correr uma ou outra prova.
                Coincidentemente, neste mesmo dia 01.04.2012 também foi realizada em Brasília uma etapa da WRUN, que é uma corrida voltada somente para o público feminino. A mesma teve a sua largada no Pontão do Lago Sul, às margens do Lago Paranoá, um importante ponto turístico da cidade. Esta coincidência não esvaziou nenhuma das duas provas, em função do grande número de corredores (as) em Brasília.
                Particularmente, mesmo tendo fixado como objetivo para 2012 ser um atleta sub 40 nos 10 km em uma prova oficial certificada pela CBAt, acabei optando por correr os 21 Km em Brasília, não só pelas características da prova citadas acima.
                Como em julho de 2012, também pretendo participar da Maratona do Rio de Janeiro, acabei optando por participar dessa prova, certificada pela CBAt, como treino e preparação para a maratona. Eu e o companheiro de corrida Ricardo Tibúrcio, que está se preparando para correr a Maratona de Brasília, resolvemos enfrentar esse desafio.
                Quando me inscrevi na MEIA, estava no auge de meu treinamento. Vinha correndo em torno de 60 a 70 km semanais, dia sim, dia não, isto a dois meses atrás. Obviamente, respeitando minhas limitações pessoais, bem como reservando tempo suficiente para minha recuperação. Infelizmente, acabei me lesionando e, ainda hoje estou me recuperando.
                Durante esse período, para não perder muito do condicionamento, adotei uma bicicleta ergométrica na academia como companheira e sobre a qual pedalava cerca de 30 a 40 minutos diariamente. Não é a mesma coisa, mas, vamos lá, ajuda bastante a manter a freqüência cardíaca em alta.
                Coincidentemente o companheiro Ricardo Tibúrcio também havia se machucado em outra atividade dias atrás. Portanto, esse desafio, que nessa altura do campeonato, tornou simplesmente o de concluir o percurso de 21,1 Km, tomou proporções bem desafiadoras. 

Foto 3. Com o companheiro Ricardo, antes da largada.

                Fisicamente debilitado, mas, psicologicamente eu estava preparado. Viajamos para Brasília. Iria tomar minha decisão final entre correr ou não correr no domingo pela manhã, ocasião em que teria melhores condições de me avaliar. Foi o que eu procurei fazer meticulosamente. A 13ª edição da MEIA Maratona de Brasília foi realizada ao longo do Eixão Norte, endereço fixo do evento. Foram 21 km de um percurso relativamente plano e em linha reta.
                Curiosamente, o dia 01 de abril também é o “dia da mentira” no Brasil. Entretanto, não havia mentira alguma estarmos alinhados junto aos demais atletas perante a linha de largada. Também é no mês de abril que damos “adeus” as “águas de março”, mas hoje tudo mudou em função das ações do homem sobre a natureza. Viemos de Goiânia à Brasília, por exemplo, sob uma forte chuva. Entretanto, no dia 01.04 quem apareceu mesmo foi o sol. As 08h da manhã, o calor já estava insuportável.
                O circuito desenhado para essa prova representa um grande desafio psicológico para os participantes. São 21,1 Km percorridos sobre uma linha reta. O percurso sobre o “Eixão” consiste em uma “ida e volta”, sendo que na volta, antes de finalizar a prova, o atleta ainda passa pela arquibancada e arena de largada e percorre mais três quilômetros até a linha de chegada. É, de fato, um grande desafio.
                Algumas provas vêm deixando os atletas mal acostumados, ao oferecer postos de hidratação a cada 3 km. Nessa prova, os postos foram dispostos a cada cinco quilômetros. Isso, aliado ao forte calor e ao fato de o atleta enfrentar uma linha reta “aparentemente” interminável, consolidou o grande desafio psicológico enfrentado pelos atletas. Os companheiros ultramaratonistas enfrentam esse tipo de desafio rotineiramente. Essa MEIA, portanto, é para gente grande!

Imagem 1. Percurso e Perfil altimétrico da Meia Maratona Caixa de Brasília

                Do ponto de vista cênico, Brasília é muito rica, mas, diferentemente do “Eixo Monumental”, onde estão os belos monumentos da Capital Federal, correr sobre o “Eixão” não tem lá muita coisa para se observar, pois ele simplesmente corta as superquadras. Justamente no ponto em que o Eixão cruza com o Eixo Monumental, onde se encontra o Teatro Nacional, os atletas, descem um túnel sob a rodoviária, e a única coisa que se consegue observar de longe é o prédio do Banco Central. Nesse aspecto, a Meia das Pontes de Brasília ou a Asics Golden Four, são muito mais interessante.
                O Eixão é muito representativo para o brasiliense, pois aos domingos, grande parte dele é fechado para o público fazer atividades ao ar livre. Durante a prova, entretanto, esse público compartilhou aquela enorme passarela com os atletas da meia maratona. Lá estavam eles, caminhantes com ou sem os seus cães, corredores de finais de semana, ciclistas, skatistas, entre outras tantas novidades do mundo do esporte. Um ou outro procurava incentivar os atletas durante a prova, mas, com certeza, para a maioria deles nós éramos estranhos ao lugar.

Foto 4. No eixão, divindo o percurso com ciclistas, caminhantes, skatistas e demais corredores.

                Essa prova representou para mim um grande desafio pessoal. Ainda me recuperando de uma lesão e sem treinar há mais de quarenta e cinco dias, tive que colocar em prática várias estratégias durante a competição. Foram os 21 km mais difíceis que enfrentei. Tive que estar em sintonia com meu corpo durante todo o momento para administrar meu ritmo quilômetro a quilômetro.
                Senti-me muito bem na primeira metade da prova e pude administrar o incômodo (a dor) que sentia e implementar um bom ritmo. A segunda metade foi muito difícil, principalmente em função de não estar treinando, além das reações de meu corpo que começava a “falar” mais alto. Isso, aliado ao efeito psicológico do percurso, aumentou ainda mais o meu objetivo que naquele momento era o de apenas concluir a prova.
                Do quilômetro 16 em diante voltei a me sentir bem e pude melhorar um pouco meu ritmo. Ao passar pela arquibancada e onde estava a arena de chegada, por volta do quilômetro 18, a banda executava uma música, o que me deixou mais animado ainda. Nessa ocasião pude ultrapassar ou me aproximar muito de alguns atletas que haviam me ultrapassado lá atrás.
                Entretanto, ainda havia mais 3 quilômetros para finalmente alcançar a linha de chegada, sendo 1,5 Km descendo e outro tanto, subindo. Nesse trecho alinhei-me a um jovem que durante a prova me informou que estava debutando nos 21 Km. Para ele, como corredor de 10 km, aquela prova também estava sendo um grande desafio.
                No ano passado participei da 12ª edição dessa prova fechando-a com o tempo de 1h40min. Nesse ano, mesmo com todas as dificuldades relatadas acima, consegui finalizá-la com o tempo de 1h38min. Havia aproximadamente 637 corredores inscritos no percurso de 21 km. Classifiquei-me em 15º atleta na faixa etária e 90º no geral.

Foto 5. Mais do que completar a distância, um grande desafio!
Foto 6. Com o companheiro Ricardo, logo após a chegada.

                Meu companheiro de corrida Ricardo chegou logo depois. Tínhamos muito que comemorar. Afinal de contas, vida de corredor é assim mesmo. Segundo ele me disse momento antes de iniciarmos essa jornada, nós corredores fazemos coisas que muitas vezes estão além do que o corpo humano e nossas articulações podem suportar. Enfrentar uma Maratona ou até mesmo uma Meia Maratona é uma delas.
                Só para se ter uma idéia, os nossos pés batem no chão cerca de 20.000 vezes a cada 21 km percorridos. Além disso, considerando somente os pés, o ato de correr é o resultado do trabalho conjunto de 26 ossos, 112 ligamentos, 33 juntas e uma extensa rede de tensões, nervos e vasos sanguíneos. O equilíbrio e a propulsão dependem totalmente deles, sem falar dos músculos e demais articulações.
                Entretanto, corredor é mesmo um ser diferenciado. Ora age como um louco, ora como uma criança, que faz alguma proeza escondida de seus pais, com receio de ser repreendida. O agir a que me refiro se encaixa dentro de uma “irresponsabilidade” controlada, isto é, não é algo que escape do controle. Muitas vezes me vejo assim, bem como a muitos companheiros de corrida. Volto ao início desse relato: a prática da corrida proporciona vários tipos de experiências. Uma delas é voltar a ser criança, exprimido por meio da sensação de liberdade que a corrida oferece.
                O tempo alcançado nessa prova ainda está longe de alcançar a marca de sub 1h30min na distância. Entretanto, diante de todas as adversidades, gostaria de finalizar esse relato com a fotografia do portal da linha de chegada, que registrei logo após a prova. A presença da criança, impedida de cruzar a mesma em função da repreensão do pai, foi uma grata surpresa! Valeu a pena ter enfrentado mais esse grande desafio, afinal de contas....

Foto 7.  A corrida e a sensação de liberdade - "irresponsabilidade controlada"

                “A verdadeira medida de um corredor não está no tempo. Ao contrário, está no esforço empreendido ao longo do caminho” - Treinador Jenny Hadfield

Fonte:

3 comentários:

  1. Parabéns para você e para o Ricardo por terem enfrentado este desafio de correr mais uma vez esta prova, em especial para você que teve que administrar a corrida e a lesão, sem deixar que a lesão o impedisse de completar a prova e fazer com que a lesão não ficasse pior com a corrida de longa distância.

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    1. Rene, não foi fácil encontrar o equilíbrio necessário para manter um bom ritmo sem ampliar a lesão. Ainda estou me tratando, mas sinto que estou quase pronto para voltar aos treinos. De qualquer forma, ainda impossibilitado de treinar para uma Maratona, venho tentando participar de algumas provas eventuais. Neste próximo sábado, eu e o Ricardo enfrentaremos outro grande desafio: Correr em Dupla a 6a Maratona Brasília de Revezamento. Vamos representar o GIRAMUNDO e nos esforçaremos ao máximo, dentro de nossas possibilidades! Um grande abraço e obrigado pelo feedback!

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    2. Legal Nilo, desejo a você e ao Ricardo que façam uma boa Prova.

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