terça-feira, 4 de junho de 2013

O que aprendemos com a Comrades Marathon 2013?



O que aprendemos com a Comrades Marathon 2013?


Abstract: After the Comrades Marathon in 2013 we asked: - What have we learned? Even for those who were not directly involved in the race, the question remains: What is the legacy?


                Passada toda a euforia da Comrades Marathon 2013 perguntamos: - O que aprendemos? Mesmo para quem não participou diretamente da prova, fica a questão: Qual o legado?


Imagem 1. Comrades Marathon 2013 - Largada

                 

            Apesar desta prova carregar no título a palavra maratona (Marathon), trata-se mesmo é de uma ultramaratona. Todavia, é uma ultramaratona diferente. Nem tanto pela alta quilometragem, ou pelo seu grau de dificuldade, mas sim pelo forte ritmo imposto pelos atletas de ponta.
       Para os atletas que se arriscam nessa longa aventura, além de uma preparação prévia, o companheirismo e/ou camaradagem, o que também dá o título para a prova (Comrades), o que aliás foi fruto da visão inspiradora de seu fundador Vic Clapham, é o que realmente ameniza o grau de dificuldade e o que deixa corredores de todo mundo cada vez mais atraídos para superar esse desafio.
                A edição de 2013 da Comrades foi realizada neste ultimo dia 02 de junho na África do Sul e trouxe para todos nós, inclusive para aqueles que acompanharam o desfecho da prova de longe, uma série de aprendizados. 
                  Para quem gosta de estatística, dos 18.000 inscritos, apenas 10.000 conseguiram concluí-la. Em 2013, houve um número significativo de abandonos. O percurso de 87 a 89 km (dependendo do ano) além de muito difícil, provou ser também perverso, especialmente para aqueles que entraram com tudo na busca de um recorde.
                Mesmo para uma Comrades, em suas quase 90 edições, o ano de 2013 foi atípico. A própria organização considerou esta edição uma das mais difíceis de toda a sua história, o que em certa medida, justifica o elevado número de abandonos.
                Esse ano muitos corredores acompanharam de perto o desfecho da Comrades, especialmente para acompanhar o desempenho do maratonista brasileiro Adriano Bastos, que se “preparou” para a prova como a maior expectativa do país. Era a sua estreia em uma ultra.
                Ele, com o apoio de seus patrocinadores, fizeram uma campanha na mídia social, estimulando seus seguidores, quase 4.000, a emitirem palpites sobre qual poderia ser seu tempo provável para a conclusão da prova. Foram mais de 2000 opiniões. Portanto, uma tremenda exposição em um nicho altamente segmentado e de interesse para a marca patrocinadora.


Imagem 2. Campanha de marketing adotada.

                A campanha tomou forma. Acompanhamos a torcida. Internautas e seguidores de seu perfil nas redes sociais de todo o país. Alguns corredores de longa data, outros, iniciantes, e até experts no assunto participaram. Todos “palpitando” e desejando boa sorte!
                Eram apostas de todos os lados. Algumas OTIMISTAS, que se fundamentavam na atual fase do atleta; outras mais REALISTAS que, além de considerarem sua fase atual, também levaram em consideração o grau de dificuldade da prova. Havia também os PESSIMISTAS, que mais pareciam querer “torcer contra”.
                O resultado, a esta altura, todos já sabem. Ele adotou uma estratégia suicida. Infelizmente ele quebrou e mal conseguiu concluir a prova um pouco antes das 7 horas da largada. No dia seguinte, surgiram os gurus, dizendo: “Eu já sabia! Ele subestimou a Comrades!” Desse jeito é fácil! Parece comentar um jogo depois de o lance ter sido visto e revisto milhares de vezes. Se já sabiam, porque não se pronunciaram antes? É aquela história: desafiar o Zeppelim gingante ninguém quer, mas jogar pedra na Geni.....
                A realidade é uma só: a brincadeira saiu caro e, o atleta viveu um de seus piores pesadelos por ter subestimado a Comrades ao impor um ritmo muito forte neste difícil percurso. Como ele próprio disse na rede social: “câimbra já nos primeiros 35 km de uma prova com um grau de dificuldade insano, de uma subida sem fim nos primeiros 50 km, a qual finalizou se arrastando”.


Imagem 3. 2013, um ano perverso!

Imagem 4. Cenário de Guerra. O Companheirismo e a camaradagem tal qual Vic Clapham visualizou.


                Ele ainda relatou “ter parado várias vezes para relaxar a musculatura e alongar. Espasmos de cãibras repentinas, causando gritos, pelas dores insuportáveis. Em alguns momentos, nem trotar ele conseguia mais. Caminhou da placa de 25 km até a de 19 km. Uma hora caminhando, num ritmo de 10 min/km”.

 
Imagem 5. Atleta se recuperando.
                

                  Como destacado anteriormente, nesse ano a prova foi perversa. Fez um calor atípico e um forte vento contra, que o fez sofrer ainda mais. Esse foi o seu pesadelo! Mais de cinco horas de sofrimento.  Um preço muito caro para, segundo ele, tentar “agradar” os seus seguidores e demais torcedores.
                De qualquer forma, mesmo com a marca de 6h52min, Adriano conquistou uma honrosa medalha de Prata (sub 7h30min), além de ter alcançado a segunda melhor colocação de um atleta brasileiro. Até o presente momento, a melhor colocação de um brasileiro nesta prova foi conquistada por Edivaldo Sousa, o Calói, com 6h48min na edição de 2011 da Comrades. Em 2013, 63 atletas brasileiros conseguiram concluir a prova.
            Esse tipo de episódio trás para todos nós, sejamos atletas experientes ou iniciantes, uma série de aprendizados, dos quais, destacamos alguns:

  • Respeitar toda e qualquer prova. Independente da distância que será disputada. O sucesso em uma corrida depende muito do dia e do estado psicológico do atleta. Não basta contar somente com a força física.
  • Saber identificar quando é hora de parar.  Adriano manteve o seu sofrimento na prova, a duras penas para agradar os seus fãs.  Por muito menos “sofrimento”, Marilson dos Santos, que também possui milhares de fãs, abandonou a Prova da Tribuna (10 km) quando estava a procura de um recorde, faltando apenas 3 km para acabar a prova. É claro que são duas situações totalmente distintas. Porém, nós temos que saber reconhecer quando é a nossa hora de parar. Na grande maioria das situações não vale o conhecido bordão de que “a dor é passageira” e a derrota é para sempre!
  • Corrida não pode ser um jogo de azar. Se nem eu sei como será meu desempenho em uma determinada prova, quanto mais serei capaz de saber o desempenho de outrem.
  • Quando fizer uma aposta, tente ser REALISTA é a melhor escolha.
                De qualquer forma, são histórias e episódios como esse que tornam a Comrades cada vez mais desejada entre os atletas.
                Abaixo se encontra as primeiras dez colocações da Comrades 2013. Lembrem-se que o ritmo imposto pelos atletas de ponta é o que torna essa prova de longa distância diferente das demais.


COMRADES MARATHON 2013
HOMENS
MARCA
MULHERES
MARCAS
Claude Moshiywa
05:32:09
Elena Nurgalieva
06:27:09
Jonas Buud
05:41:21
Olesya Nurgalieva
06:28:07
Mpesela Ntlosoeu
05:43:38
Irina Antropova
06:44:36
Ludwick Mamabolo
05:45:49
Joasia Zakrzewski
06:53:29

Johannes Kekana
05:46:27
Charne Bosman
06:53:35
Henry Moyo
05:46:52

Marina Zhalybina

06:56:55
Joseph Mphuthi
05:48:00
Holly Rush

07:04:21
Mike Fokoroni
05:50:11
Melanie Van Rooyen
07:08:09
Rufus imagem
05:51:52

Kerry Koen

07:15:07
Stephen Muzinghi
05:52:38
Julanie Basson

07:21:02
                                     RECORDES:
                                     Homens: Leonid Shvetsov (Rússia) - 5:24:49 (2008)
                                     Mulheres: Elena Nurgalieva (Rússia) - 6:09:23 (2006)


                Um grande abraço a todos e boas corridas!

Fontes de Apoio:


9 comentários:

  1. Excelente postagem e reflexão, Nilo. Parabéns por ela.

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    1. Olá Fábio, aprecio muito o seu feedback.
      Para você que está se preparando para uma "ultra", aqui está um grande desafio para incluir em sua agenda para os próximos anos.
      Desejo bastante sucesso para você e para os seus projetos!
      Boas corridas e muito obrigado pela sua passagem por aqui!
      Nilo

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  2. Perfeito o teu raciocínio. Meu carinho e admiração, bons treinos !!

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    1. Oi Ivana, que bom que gostou da linha de raciocínio.
      Essa corrida causou muita polêmica, mas também deixou muitos aprendizados que serve não somente para uma ultramaratona, mas também para todas as outras distâncias, menores ou não.
      Um grande abraço e fica aqui também o meu carinho e admiração.
      Nilo

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  3. Participei pela primeira vez da Comrades 2013 e realmente foi tudo isto que o Adriano reportou, ou seja, muito calor e vento forte e quente contra além da alta umidade.

    Só acho que houve um erro, até onde sei o Adriano bastos foi o melhor brasileiro, pois pelo o que vi o Edivaldo não correu este ano.

    Eu sei que o Edivaldo foi sim o melhor brasileiro, mas na Comrades de 2011.

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  4. André, que prazer tê-lo por aqui!
    Parabéns pela participação e conclusão da edição de 2013 da Comrades.
    Obrigado por compartilhar consoco um pouco de sua experiência.
    Você tem razão. O Edivaldo é o melhor brasileiro devido a colocação conquistada na edição de 2011. Vamos corrigir o texto.
    Um grande abraço e boas corridas para você!
    Nilo

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  5. Nilo,
    A prova é duríssima e quando somamos esses dois fatores adversos, vento forte e calor, a coisa se complica ainda mais.

    Comentei com amigos da necessidade constante do equilíbrio eletrolítico.

    Acertar a quantidade de água e demais nutrientes que o corpo necessita em uma prova de longa duração é um grande desafio.

    À medida que vc passa a conhecer seu corpo, vc adota determinadas posturas em relação ao gasto energético.

    Correr Maratona em alta performance é uma coisa, correr uma Ultra de 87 Km como a Comrades é outra coisa.

    Quem sabe o que aconteceu com o Adriano Bastos seja algo nesse sentido!!!

    A propósito, 2013 foi minha segunda participação na prova. Se desejar confira o relato: http://correrpurapaixao.blogspot.com.br/

    Ultra abraço,

    Dionisio Silvestre

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    1. Olá Silvestre (Dionísio)!
      Muito obrigado por visitar este espaço e em especial por compartilhar conosco um pouco do que foi enfrentar o duro desafio de concluir uma Comrades.
      Li o seu relato no blog "correr pura paixão" e gostei muito. Pude conhecer mais detalhes dessa grande ultramaratona.
      Conhecer o nosso organismo é outro grande desafio. Você demonstrou conhecer o seu ao conseguir equilibrar o gasto energético e ao adotar uma postura mais conservadora em função da lesão que quase comprometeu a sua participação na Comrades.
      Parabéns pela Back to Back Medal. Você fez por merecer!
      Que o vento possa soprar a nosso favor!
      Sucesso e boas corridas!

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    2. Nilo,

      Adorei a sua linha de pensamento. Voltarei outras vezes para usufruir das informações que o blog "Companheiros de Corrida" proporciona.
      Ultra abraço!!!

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