domingo, 30 de junho de 2013

Minha Primeira Maratona: Um Exemplo de Superação


Um atleta que cumpre o que promete!


                Costumo dizer que corredor é quase igual a um pescador. Quase igual por que cada um tem uma história diferente para contar: a melhor corrida, o melhor treino, o melhor longo, a melhor marca, etc. 

                Foi justamente pensando nisso que decidimos apresentar a história do atleta goiano e residente da cidade de Trindade-GO, o Donizete Alves da Silva (45 anos de idade). 

                Donizete, ou Doni 3 horas, como atualmente é conhecido, assim como milhares de outros corredores no país, possui vários episódios de superação em corridas de curta (5 e 10 km) e média distância (21 km). Aqui, relataremos apenas um: a sua primeira participação em uma maratona (42 km).


Imagem 1. "Doni 3 horas", finalizando sua primeira maratona em 3 horas.

                Donizette começou a participar corrida de rua há três anos, mais precisamente, no dia 12 julho de 2009. Como muitos de nós, ele foi um jogador de futebol amador desde infância, que desiludiu devido a contusões e conflitos vividos no campo. 

                Foi a partir daí que a corrida ressurgiu em sua vida. Dizemos ressurgiu porque, quando ainda era criança, ele corria em volta do campo ao lado dos jogadores de futebol. Como gostava muito do que fazia, era destaque naquela época. 

                Ele fez sua primeira corrida de rua em Goiânia-GO, na tradicional Corrida “O POPULAR”, no circuito de 10 km, quando alcançou a marca 44min30seg. Um excelente tempo para um estreante. Desde então, se apaixonou por esse universo.

                Foi então que ele começou a treinar, dedicar e buscar objetivos cada vez mais audaciosos. De lá pra cá já foram mais de 70 participações em provas, entre dez meias maratonas (Rio, Brasília e Goiânia) uma Volta Internacional da Pampulha e a São Silvestre 2011, quando alcançou a marca de 58min37seg. 

                Em 2012 Donizette sentiu que já estava preparado para completar uma maratona. Foi então que decidiu fazer a sua estreia nas corridas de longa distância, na tão sonhada MARATONA RIO JANEIRO, na edição de 2012. Seu planejamento para alcançar este objetivo havia começado ainda em agosto de 2011. 

                Como milhares de outros corredores do Brasil, Doni é um atleta solitário. Lançou-se no mundo da corrida sozinho, sem treinador e sequer uma equipe para lhe dar suporte. Em sua preparação para o tão grande evento, contou apenas com ajuda de um colega mais experiente, a quem é muito grato. 

                Foi quando ele começou a conviver com a ansiedade. Para um estreante, Donizette tinha um objetivo audacioso. Veja abaixo o seu relato:

                “Marquei vários percursos em rodovias e outros tipos de vias. Comecei os treinos em março de 2012, com objetivo de fechar a maratona em 03 horas, o que aumentou minha ansiedade e até atrapalhou meus treinos, pois comecei a sentir uma dor muscular no ombro direito que, posteriormente, passou para o braço, chegando até os dedos da mão. A sensação era que eu havia levado uma martelada no dedo. Surgiram vários questionamentos. Uns diziam que era problema de coração: - você não pode correr! Poucos diziam continue! Assim fiz, segui meu instinto e continuei com toda dedicação aos treinos. Sozinho mesmo e, sem treinador. Fiz vários longões, fortalecimento muscular. Surgiram as dores musculares e cheguei a fazer mais de 38 sessões de gelo, cada uma com cerca de 30 minutos cada. Tudo isso, com objetivo focado nas 3 horas da Maratona do Rio de Janeiro.”

                Com tudo certo para o grande dia, isto é, o treinamento em dia, tênis de estreia pronto, faltando apenas um mês para o dia prometido, já com as passagens aéreas adquiridas, reserva em hotel realizada, etc., chegou a hora de ele fazer a sua inscrição e, qual não foi sua grande decepção e enorme tristeza enorme, quando surgiu a mensagem:


INSCRIÇÕES PARA A MARATONA DO RIO ENCERRADAS!


                Ele quase chorou de tristeza. Ele nos conta que: “... procurei de todas as formas conseguir uma inscrição. Liguei até para o presidente da organização da maratona e a resposta foi NÃO! Disse que era por um motivo especial, pois já havia treinado para a sua primeira maratona e gostaria que fosse na prova do RIO.” 

                Ele informou ainda que: “já havia planejado a um ano atrás, e havia passado por muitas dificuldades. Já tinha até arrumado as malas para fazer prova em três horas.” A resposta foi um simples: - não tem jeito já acabaram as inscrições! 

                Ele nos conta que chegou a fazer contato com o diretor de uma Revista de Corrida brasileira, que apesar de gozar boa influência neste meio, não conseguiu ajudá-lo. Donizette ficou muito triste, mas decidiu que iria fazer a sua estreia no Rio de Janeiro para três horas, de qualquer forma. Nem que fosse sem inscrição. Ele não poderia desprezar todo o treinamento de base que havia feito.

               Quando não havia mais nenhuma esperança de se inscrever, surgiu uma oportunidade de oficializar a sua participação: uma colega de 52 anos, que já estava inscrita, havia desistido da viagem. 

                Donizette, não hesitou. Adquiriu sua inscrição. Foi quando voltou a travar novamente uma longa batalha para conseguir transferir aquela inscrição para o seu nome. A resposta foi novamente um simples e direto NÃO! A alegação agora é que faltava apenas uma semana para a prova.

                Donizette não desistiu. Assim ele foi. Embarcou para o Rio, pegou seu kit de corrida, com o nome e número da outra atleta e correu em busca de seus objetivos. Apesar da alta ansiedade, agora ele estava, mais tranquilo, pois estava preparado.
                    Veja o seu relato:

                “Foi maravilhoso, choveu no percurso inteiro, ao lado das ondas do mar. Em alguns lugares o vento foi muito meu amigo. Em determinados momentos senti uma dor na virilha, o que atrapalhou um pouco, mas não desisti de meu objetivo prometido: fechar a prova em três horas. Como assim fiz. Cheguei na 8º colação geral na Elite Feminina, com 52 anos. Obviamente que fui desclassificado.” 

                Ele continua: “Graças a DEUS foi tudo aquilo que havia planejado. Agora sou reconhecido como DONI 3 HORAS. Agradeço a DEUS por tudo. Assim pude realizar meu sonho de ter conseguido, depois de tantas dificuldades e tantos esforços a tão sonhada MARATONA 42 km na cidade maravilhosa, a RAINHA de todas as maratonas, com tempo desejado de um atleta amador; três horas exatas!” 

                Apesar de ter se iniciado no mundo das corridas tardiamente, Donizette (36 min. nos 10 km, 1h20min nos 21 km e, agora, 3 h nos 42 km) é um atleta que cumpre o que promete! Ele faz parte de um grande número de corredores amadores no Brasil, que correm sem patrocínio, sem apoio, sem treinadores, etc.

                Passado este episódio, ele apenas gostaria que publicassem a sua historia de dificuldades e tudo aquilo pelo qual passou. “Eu não desisti em nenhum momento!”. 


Imagem 2. O atleta Donizette em momento de agradecimento.

                Seu único pedido seria o de ver meu nome no site do evento, na sua real colocação e, então, receber o certificado de MARATONISTA da revista CONTRA RELÓGIO.
                Ele ficaria eternamente grato por isso. 

                Aqui, ele se despede com um grande abraço ao Tomaz e a todos da equipe da Revista Contra Relógio. 

                A história de Donizete pode se parecer com a de muitos outros corredores no Brasil. Seu relato nos mostra a importância do planejamento, não apenas de treinamento para que se possa alcançar o objetivo de tempo proposto para determinada prova. 

                Trata-se de um planejamento que incluiu, acima de tudo, acompanhar as questões burocráticas de uma corrida, como o simples ato de fazer a inscrição com antecedência. Acreditamos que o comprometimento de um corredor com uma prova se inicia no exato momento que ele faz a sua inscrição. Todavia, não estamos aqui para julgar se o nosso atleta errou ou acertou.

                O fato é que, o caso do Donizette, reacende uma questão muito maior que é a falta de vontade de organizadores de corrida e outros atores que possuem influência neste meio em ajudar um companheiro em momentos de dificuldade.

                É triste ouvir essa história e imaginar que a organização da Maratona do Rio no ano passado fez gratuitamente um “up grade” para quem se inscreveu na “meia” * pudesse correr a maratona sem nenhum custo adicional. Ou seja, caminhos para se resolver o problema podiam de fato existir. Bastava ele encontrar alguém com boa vontade.

                Para nós, leigos nos assuntos burocráticos que envolvem o mundo da corrida, não podemos afirmar se trinta dias de antecedência seria tempo considerado hábil para oficializar a inscrição, pois como tudo nessa vida, sempre há um prazo. Entretanto, em nossa opinião, faltou mesmo boa vontade da organização na simples tarefa de alterar um nome e um gênero no prazo de uma semana de uma inscrição que já havia sido feita. 

                Lamentavelmente, fatos como esse, só no Brasil!

                Parabéns ao Donizette Alves da Silva. Ele conseguiu uma marca, apesar de todo contratempo.


*a meia-maratona é realizada concomitantemente com a Maratona do Rio de Janeiro.
                   

4 comentários:

  1. DONIZETTE - TRINDADE-GO.

    Obrigado Nilo, PARABENS por ter me houvido, e ter feito acima de tudo um belo relato...
    Foi exatamente assim que tudo ocorreu, e voçê como atleta, relator, e conhecedor de corridas e organizações, pode presenciar, viver, acompanhar tudo que passei, e sempre me apoiando em tudo. Sou muitíssimo grato a Deus, voçê Nilo e todos aqueles que puderam participar diretamente ou indiretamente de minha participação na RAINHA de todas, MARATONA RIO JANEIRO 42 km com o tempo exato de 3;00 hs. Obrigado JESUS,,,,
    QUE O VENTO ESTEJA SEMPRE A NOSSO FAVOR,,,

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    1. Olá Donizette,nós é que agradecemos a você por ter compartilhado a sua história de superação!
      O seu relato pode inspirar vários corredores neste Brasil afora.
      Que em 2013 você possa novamente se superar e alcançar outra excelente marca na Maratona do Rio, com um único detalhe: Agora é para valer!
      Que neste dia o vento esteja ao nosso favor!
      Um grande abraço e boas corridas!
      Nilo

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  2. Nilo,

    Devorei o texto palavra por palavra.
    Parabéns por materializar essa aventura maravilhosa do abnegado Donizete Alves.
    Acompanho o seu raciocínio quanto as questões burocráticas de determinadas provas.
    Resguardado o equívoco cometido pelo atleta (atraso na inscrição), penso que inúmeras soluções se apresentariam para o deslinde da questão.
    Esse Doni 3 Horas é cabra porreta!!!
    Ultra abraço,

    Dionisio Silvestre
    http://correrpurapaixao.blogspot.com.br/

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  3. Olá Silvestres!
    O "Doni 3 horas" foi mesmo um abnegado. Nesta ocasião ele nos deu um exemplo de superação.
    Acho que naquela ocasião falou mesmo um pouco de boa vontade para dar uma solução para o caso dele.
    Entretanto, mesmo correndo "na pipoca", pois foi o que acabou acontecendo, pois nada adiantou ele carregar um chip e o número de uma outra pessoa, ele foi lá e arrasou, cumprindo o que havia prometido: concluir a maratona em 3 horas.
    Uma excelente marca para uma estreia e para quem nunca havia corrido mais do que 21 km.
    Um grande abraço!
    Nilo

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